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Ambientalismo virou pop no século 21
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MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
Para o bem e para o mal, a primeira década do século 21 nasceu sob o signo de Kyoto.
Em 1997, a antiga capital imperial do Japão sediou a terceira conferência da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima. Ali se adotou um pioneiro tratado com força de lei --o Protocolo de Kyoto-- estipulando metas obrigatórias de redução de gases do efeito estufa que entraram em vigor em 2005.
Nunca antes na história do mundo um tema ambiental deitara raízes tão fundas na política internacional.
Joseph Ei-01dez.10/AFP |
Instalação industrial na cidade litorânea de Anteh, no Líbano; salvar o ambiente se tornou moda na primeira década do século 21 |
Os gases do efeito estufa são produzidos direta ou indiretamente em todas as atividades humanas. Da agropecuária ancestral à contemporânea geração de energia, não há setor que não participe do problemático aquecimento global --para agravá-lo ou mitigá-lo.
Além do mais, o combate à mudança do clima terá sucesso se e quando destruir o alicerce do industrialismo dos séculos 19 e 20. Ele só foi erguido graças à energia abundante dos combustíveis fósseis (carvão e petróleo).
O carbono liberado na atmosfera por sua queima tornou-se o veículo universal de expressão dos limites do industrialismo. O que antes do milênio aparecia como obsessão de europeus --desgarrados do marxismo para fundar o movimento verde-- insinuou-se nos centros decisórios da política e, em seguida, dos negócios.
Neutralizar carbono virou moda nos desfiles de moda. Todo mundo recicla lixo e despreza sacolas plásticas. A grife Diesel já fez campanha "cool" (bacana/fresca) sobre aquecimento. Até executivos fósseis rebatizaram a British Petroleum como Beyond Petroleum (além do petróleo).
Há muito de ilusionismo nesse esverdeamento, ou "greenwashing". Bacanas usam sacola de pano, mas dirigem jipões engolidores de diesel (com letra minúscula).
A BP abandonou o slogan futurista antes mesmo de derramar 5 milhões de barris no golfo do México.
O mundo não está conseguindo engendrar uma alternativa aos combustíveis fósseis. Não, pelo menos, na velocidade necessária para evitar um aquecimento acima de 2º C, limite considerado seguro. Não pela via técnica, nem pela via diplomática, como evidenciaram os resultados parcos de Cancún.
Enquanto se discute quando a produção de petróleo alcançará o pico e começará a declinar, novos campos são prospectados e abertos, como o pré-sal. Óleo da pior qualidade começa a ser retirado de jazidas antes desprezadas, como as areias betuminosas do Canadá.
O carvão, abominado ouro negro novecentista, volta na condição de reserva mais abundante e confiável de energia. Seu consumo deve crescer 2% a 4% ao ano, triplicando até 2050.
Kyoto foi o começo. Mas a década ambiental volta ao ponto de partida. Ou atrás.
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