Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/01/2011 - 07h41

Educação rural na Índia oferece alta escolarização com baixo aprendizado

Publicidade

IGOR G. BARBERO
DA EFE, EM NOVA DÉLI (ÍNDIA)

Apesar da alta taxa de escolarização, a vasta zona rural da Índia enfrenta o desafio de conter a ainda elevada abstenção e melhorar a qualidade da educação básica nos centros de ensino para permitir que a numerosa população jovem possa aproveitar o progresso econômico do país.

Em 2010, 96,5% das crianças entre seis e 14 anos das zonas rurais indianas estavam matriculadas no sistema de ensino, mas as estatísticas refletem que, nos últimos anos, houve decréscimo nos conhecimentos e habilidades das crianças, segundo o relatório anual do estado da educação (Aser) do país, apresentado na última sexta-feira em Nova Déli.

"Embora se tenha assumido a meta de garantir o acesso dos cidadãos à educação, o critério de qualidade ainda não recebe a mesma atenção", lamentou o vice-presidente indiano, Hamid Ansari, durante o lançamento do estudo.

De acordo com o Aser, parte do aumento da taxa de escolarização se vincula à criação de novos centros educacionais privados, que em 2005 acolhiam 16,3% das crianças, enquanto a vasta maioria restante estava na rede pública. Atualmente o número de alunos em escolas particulares representa 24,3% do total.

O relatório, elaborado pela ONG Partham, especializada no setor de educação, se baseia em pesquisas com 700 mil crianças realizadas por 25 mil voluntários de diversas organizações em 13 mil localidades indianas.

As melhoras na escolarização registradas nos últimos cinco anos são significativas em todo o país e muito notáveis em estados específicos como Bihar, que reduziu em mais de 12 pontos percentuais o número de meninos e meninas não matriculados.

"Talvez a maior constatação [do relatório] é que há cada vez menos discriminação entre meninos e meninas, e que a educação tem uma base mais ampla", observou o acadêmico Surjit Bhalla.

Essa tendência positiva não contribuiu, no entanto, para que melhore a abstenção escolar, que desde 2007 se manteve relativamente estável em torno de 27%, nem para corrigir a deficiência no aprendizado infantil.

De acordo com o estudo, uma maioria dos estudantes continua sendo incapaz de ler corretamente textos de nível inferior, enquanto a habilidade das crianças para fazer operações matemática registrou leve piora.

"Os alunos estão matriculados, vão à escola, mas não aprendem. Eles estão a um nível e os livros a outro", observou Dhir Jhingran, chefe de programas da ONG Room to Read (Quarto para Ler). Segundo ele, nas salas de aula, põe-se muita ênfase nos conteúdos, "em memorizar", e não tanto em desenvolver habilidades.

"Há uma necessidade de formular uma direção que indique claramente a aprendizagem que se deve obter em cada curso para poder garantir o direito à educação", adverte o relatório.

O escritor britânico Patrick French, que acaba de publicar o livro "A Portrait of India" (Um Retrato da Índia, em tradução livre), que recolhe impressões de uma década no país, qualificou esta semana de grande vantagem o fato de mais da metade dos aproximadamente 1,2 bilhão de habitantes da Índia terem menos de 25 anos.

Mas French assinalou que também é um desafio para o Estado canalizar esses jovens para incluí-los no alto crescimento econômico que a Índia tem registrado. O aumento do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para este ano fiscal é de 8,75%, e nisto a educação desempenha um papel fundamental.

Nos últimos cinco anos, a verba do orçamento destinada pelo governo indiano à educação mais do que dobrou. No entanto, analistas destacam que os investimentos foram mal utilizados em muitos casos.

Os dados do Aser refletem que, embora seis em cada dez das escolas visitadas pelos pesquisadores cumpram a normativa exigida, a metade delas precisa de mais professores e um terço carece de mais salas de aula. Além disso, 90% das escolas têm banheiros, mas só a metade deles é utilizável.

"Os cidadãos podem e devem fazer mais para iniciar, impulsionar e dirigir a política pública em prol do bem-estar público", defendeu o vice-presidente Ansari.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página