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12/02/2011 - 11h42

Governo peruano faz campanha para mudar "hino humilhante"

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FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Em nome de um país mais "otimista" e com "visão de futuro", o governo do Peru estabeleceu uma diretriz nas escolas: os alunos devem esquecer a primeira estrofe do Hino Nacional para entoar com "fervor patriótico" apenas a sexta estrofe e o refrão.

O excerto vetado --não aparece nem na página da Presidência-- incomoda o governo e alguns estudiosos porque canta um peruano "condenado a uma cruel servidão" que "durante muito tempo em silêncio gemeu".

Como arremate, a estrofe fala em "sacudir a indolência do escravo".

Para não seguir repetindo uma letra que "destaca submissão e resignação", o vice-ministro de Coordenação Pedagógica, Idel Vexler, lançou a campanha pela mudança em agosto passado.

Um ano antes, o Ministério da Defesa já tinha ordenado a mudança em seus eventos, causando certa confusão na audiência --daí a ofensiva educativa.

Não é a primeira vez que se tenta mudar o hino, mas as iniciativas anteriores fracassaram, e a atual tampouco é unanimemente aceita.

Os críticos da medida citam decisão do Tribunal Constitucional peruano, de 2005, que estabeleceu que a primeira estrofe era "apócrifa", mas que deveria continuar porque estava consagrada pelo uso popular.

O tribunal também afirmou que uma outra estrofe --que criticava duramente a Espanha-- havia sido suprimida e por isso deveria ser reintegrada.

Já para o consultor Julio César Rivera Dávalos, que há mais de duas décadas se dedica à causa da mudança do hino, a campanha é positiva, mas apenas "um paliativo".

"Fico alegre porque o governo reconhece que há um problema com o hino, que incide na baixa autoestima do peruano e passa uma mensagem de pessimismo e desintegração", disse à Folha Rivera, autor de "El Poder de un Símbolo Patrio" ("O poder de um símbolo pátrio", San Marcos, 2008).

Rivera defende que o governo faça a mudança ser aprovada pelo Congresso, como determina a lei. "Compare o nosso com o hino brasileiro. O de vocês exalta belezas naturais, qualidades. Isso causa impacto no consciente coletivo."

A discussão da "peruanidade", suas causas e efeitos, está na ordem do dia, e não apenas por causa do hino.

Foi citada pelo presidente Alan García, que deixa o cargo em julho, para explicar por que, apesar do crescimento recorde da economia peruana, sua popularidade não passa dos 30%.

"Somos como somos, tristões, desconfiados, sofremos uma invasão brutal... [...] O senhor me pergunta por que nosso povo me concede baixa aceitação. Assim é o nosso povo. Não venho governar para os brasileiros, que têm outro tipo de raça, de alegrias e sol", afirmou.

 

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