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24/02/2011 - 07h23

Moradores de áreas ilegais de Quito lutam por serviços básicos

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MARTÍ QUINTANA
DA EFE, EM QUITO

A capital equatoriana tem quase 500 bairros ilegais, construídos em terrenos que não são próprios para a urbanização e seus habitantes lutam para que a prefeitura regularize sua situação e lhes proporcione serviços básicos como luz, água e saneamento.

O fenômeno é fruto da cobiça de traficantes de terras e afeta milhares de famílias há décadas, mas despertou interesse após as recentes invasões de terrenos em Guayaquil.

O governo do presidente Rafael Correa respondeu com a mobilização das Forças Armadas na região para interromper as invasões.

José J. Come/Efe
Casa no bairro La Garzota, em Quito, um dos 500 bairros ilegais existentes na capital do Equador
Casa no bairro La Garzota, em Quito, um dos 500 bairros ilegais existentes na capital do Equador

Os traficantes de terras aproveitam-se da ignorância e da necessidade dos mais pobres para vender terrenos sem permissão.

"O traficante nos enganou e nos vendeu alguns terrenos sem legalizar, nos cobrando" para oferecer serviços como águas e tratamento de esgoto, disse Leonor Chela, vice-presidente do comitê de um bairro ilegal de Quito.

"Um grupo de pessoas está sempre cobrando aos habitantes. Se eles não podem pagar, trabalham para o traficante", disse Fernando Carrión, professor de estudos de cidade da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Na década de 1990, cerca de 150 famílias compraram de um traficante moradias em bairro localizado nas encostas do vulcão Pichincha, pensando que disporiam de asfalto, luz e água em pouco tempo.

Mas há nove anos o traficante desapareceu após cobrar a dívida de seus moradores, deixando o bairro com graves deficiências, que inclusive causaram a morte de uma família em dezembro passado quando um desmoronamento de terra soterrou sua casa.

No local há desde casinhas de adobe onde vivem famílias numerosas até residências de dois andares e com melhores infraestruturas, todas construídas por seus moradores sem conhecimentos de urbanismo.

O fenômeno das invasões não é novo no Equador. Houve duas ondas nas décadas de 1940 e 1970, marcadas pelo êxodo rural, e uma terceira em 2000, fruto do encarecimento do custo de vida no centro da cidade, que obrigou os mais pobres a se deslocar para a periferia.

Consciente do problema, a Prefeitura de Quito regularizou 86 bairros em 2010 e realocou dezenas de famílias que viviam em áreas declaradas de perigo ecológico.

"Este ano esperamos realocar ao menos 500 famílias de bairros em perigo iminente, por vulnerabilidade física ou social", disse à agência Efe a secretária de Segurança de Quito, Lourdes Rodríguez.

A prefeitura dispõe de um plano para realocar as famílias, que envolve a retirada delas de sua residência atual, um bônus de US$ 200 ao mês para aluguel e uma ajuda econômica para comprar uma nova moradia.

Para 2011, tem prevista a regularização de 106 bairros, em comparação aos 20 bairros regularizados por ano na primeira década de 2000.

Os moradores destes bairros esperam ansiosamente, embora alguns critiquem a Prefeitura por lentidão nas obras e permissividade com os responsáveis pelas vendas dessas moradias.

"O prefeito brilha por sua ausência após muitas promessas. Estamos desamparados. A luz e a água potável nos faltam às vezes, com o pretexto de que o bairro não está legalizado", denunciou Gonzalo Vargas, pedreiro e morador do bairro na encosta do vulcão.

A realocação, no entanto, não agrada muitas destas famílias, que investiram grande parte de suas vidas e seus baixos salários --que rondam os US$ 300-- na construção de suas moradias.

"Não aceitaríamos que nos mudassem de casa porque somos pobres e temos muitos filhos. Para onde iremos? O senhor prefeito não vai nos dar o que gastamos nesta casa", disse Blanca Usiña, enquanto preparava seus seis filhos para ir à escola.

 

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