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04/08/2011 - 19h38

Plano para Nova York visa melhorar situação de minorias jovens

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MICHAEL BARBARO
FERNANDA SANTOS
DO "NEW YORK TIMES"

A administração do prefeito Michael R. Bloomberg, em um gesto de reconhecimento do fato de que milhares de homens negros e latinos jovens se encontram à margem da vida cívica, educacional e econômica de Nova York, pretende gastar quase US$130 milhões com medidas de longo alcance que visam melhorar as circunstâncias de vida deles.

O programa, que representa a investida mais ambiciosa em política pública do terceiro mandato de Bloomberg, pretende fazer uma revisão de como o governo interage com uma população de cerca de 315 mil nova-iorquinos desproporcionalmente subeducados, encarcerados e subempregados.

Para pagar pelo programa em uma época de austeridade, a cidade está recorrendo a uma fonte incomum: o próprio Bloomberg, que pretende usar sua fortuna pessoal para financiar cerca de um quarto do custo, disseram autoridades de Nova York. A contribuição de US$30 milhões da fundação de Bloomberg será equiparada pela de outro bilionário, George Soros, administrador de fundos hedge, e o restante será pago pela prefeitura.

Começando no outono deste ano, a prefeitura disse que vai criar centros de recrutamento profissional nos complexos habitacionais públicos onde vivem muitos jovens negros e latino-americanos, providenciar o retreinamento de agentes de condicional -- num esforço para reduzir a reincidência criminosa --, criar novos cursos de paternidade e avaliar as escolas segundo o progresso acadêmico feito pelos estudantes negros e latinos do sexo masculino.

Bloomberg pretende anunciar o programa, cuja duração prevista é de três anos, em um discurso em Manhattan na manhã da quinta-feira, quando vai declarar que "os negros e latinos não estão compartilhando plenamente da promessa americana de liberdade".

Ao mesmo tempo em que a criminalidade vem caindo e os índices de graduação escolar vêm subindo em Nova York nos últimos dez anos, autoridades da cidade disseram que os homens negros e latinos, especialmente os da faixa de 16 a 24 anos, continuam em crise segundo quase todos os critérios, incluindo os de detenções, suspensões escolares e pobreza.

Embora as populações de homens jovens brancos, negros e latinos em Nova York sejam aproximadamente equivalentes em número, 84% das pessoas nas prisões da cidade e quase todos os que são recebidos nas instalações de serviços para crianças e famílias são jovens negros e latinos, segundo dados compilados pela administração Bloomberg.

"A magnitude das disparidades é estarrecedora", disse Linda I. Gibbs, vice-prefeita para serviços de saúde e humanos. "É trágico."

Bloomberg já empenhou a prefeitura em programas de mudanças sociais em grande escala antes, com campanhas de saúde pública contra o tabagismo, as bebidas açucaradas e os alimentos gordurosos.

Agora, porém, ele está enfrentando um problema cujo caráter refratário e causas profundamente arraigadas atormentam os governantes há décadas. E, ao focar tão diretamente sobre um subconjunto dos moradores da cidade, ele corre o risco de desagradar aos setores que provavelmente não serão afetados pelos novos recursos.

"O índice de êxito não é muito promissor, de modo geral", disse Elijah Anderson, professor de sociologia na Universidade Yale que já escreveu extensamente sobre problemas urbanos.

O desafio, disse Anderson, será convencer as empresas de Nova York a se abrirem a esses jovens e oferecerem empregos permanentes a eles depois da conclusão do trabalho da prefeitura.

"As empresas precisam ser muito mais receptivas a esses jovens e se disporem a mudar de atitude, dentro da linha do que Bloomberg está fazendo", disse ele.

O plano da prefeitura, desenvolvido após um ano de estudo e debates, envolve muitas partes da burocracia da cidade e abarca vários estágios da vida dos homens que quer alcançar, começando no ensino médio e terminando com aconselhamento profissional.

Em entrevistas, assessores do prefeito disseram que as medidas dão ênfase às necessidades práticas dos homens negros e latinos mais pobres da cidade, muitos dos quais não conseguem ou não se dispõem a matricular-se em programas de ensino e formação profissional que demandam tempo, a não ser que sejam pagos por isso, segundo as autoridades.

Assim, para promover aulas de acompanhamento e recuperação de matemática e alfabetização no período da manhã, por exemplo, a prefeitura vincularia as aulas a estágios pagos no período da tarde. Os estágios pagariam US$7,25 a hora, mas os estudantes só seriam pagos se participassem das aulas.

"O trabalho é um grande fator de motivação para esses jovens", disse Kristin Morse, diretora de programas e avaliação do Centro de Oportunidade Econômica, em Nova York.

Pela primeira vez, o Departamento de Educação vai vincular especificamente os escores que a prefeitura atribui anualmente às escolas com a aprovação escolar de garotos negros e latinos -- medida em parte pelos escores de exames e pelas notas de graduação. Esses escores podem determinar se uma escola permanece em funcionamento ou não.

Boa parte do programa visa impedir que homens jovens entrem ou retornem ao sistema de justiça criminal, que há muito tempo é uma porta giratória para muitos jovens negros e latinos.

Pelo plano, o Departamento Correcional da cidade vai abrir cinco centros satélites de condicional nos bairros que têm os maiores índices de criminalidade _ -- como a zona leste de Nova York; Brooklyn; Jamaica, em Queens, e South Bronx -- e em organizações comunitárias que oferecem serviços dos quais os jovens poderiam se beneficiar, como aulas de computação para ajudá-los a se prepararem para um emprego ou aulas de ioga para ajudá-los com o controle de raiva. No momento, os 524 agentes de condicional da cidade trabalham em escritórios centrais nos cinco "boroughs" (distritos maiores) da cidade, em muitos casos desligados das comunidades onde os homens que eles monitoram passam a maior parte de seu tempo.

Para fornecer exemplos para os homens em liberdade condicional, a prefeitura pretende recrutar nesses bairros 900 mentores pagos, muitos dos quais tiveram problemas com a lei no passado, eles próprios, e promover uma série de programas de serviço à comunidade, como limpeza de parques, remoção de pichações e centros comunitários de pintura, disse Vincent N. Schiraldi, o comissário de condicional da cidade. Para ele, o objetivo é ajudar a população de Nova York a enxergar esses jovens "não como sujeitos assustadores de jaqueta North Face que ficam parados na esquina, mas como homens que podem exercer um impacto positivo em seus bairros."

Assessores do prefeito descreveram várias das medidas como soluções de bom senso que custarão pouco ou mesmo nada para serem implementadas. A cidade vai tentar reduzir as barreiras à contratação de homens que já cumpriram pena de prisão, instruindo gerentes a não perguntar aos candidatos a empregos sobre seus antecedentes criminais nas primeiras fases do processo de entrevistas.

A prefeitura também vai incentivar os jovens a se cadastrarem para obter carteiras de habilitação ou documentos de identificação estaduais, depois de grupos de foco terem sugerido que muitos jovens negros e latinos não possuem esses documentos, fato que dificulta a busca por um emprego.

"Eles não sabiam porque deveriam obter esses documentos, nem como", disse Andrea Batista Schlesinger, assessora especial do prefeito.

Agora a prefeitura pretende incluir esses documentos de identidade nos formulários que precisam ser preenchidos por estudantes que concluem o ensino secundário e durante entrevistas para empregos de verão com agências da prefeitura.

Bloomberg exortou seus assessores a estudarem as experiências de homens negros e latinos em 2010. Os assessores disseram que ele ficou especialmente surpreso e preocupado com as estatísticas que mostram a frequência com que muitos dos homens voltaram às prisões da cidade _uma questão que ganhou dimensão pessoal para o prefeito depois de um desconhecido o ter chamado de lado no metrô e lhe contado sua história: ele tinha 45 anos, era negro, ex-detento e desempregado. Bloomberg pediu a Dennis M. Walcott, hoje diretor do departamento de ensino, a checar o homem periodicamente; mais tarde, o homem voltou a ser preso.

Algumas semanas atrás o prefeito telefonou a Soros, que já gastou milhões de dólares com programas para ajudar homens negros em Baltimore e outras cidades, e o convidou para um almoço. Bloomberg pediu ao financista que fizesse uma doação equivalente à sua para um programa em Nova York, e Soros concordou imediatamente.

"Quando o prefeito nos procurou, bateu sobre uma porta que já estava aberta", disse Soros.

Tradução de Clara Allain

 

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