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02/09/2011 - 14h44

Análise: Dez anos após o 11 de Setembro, quem ganhou?

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STEPHEN COLLINSON
DA FRANCE PRESSE, EM WASHINGTON (EUA)

Dez anos após os atentados de 11 de Setembro, os Estados Unidos ainda lutam com as consequências, enfrentando duas guerras muito caras sem perder a ilusão de ser uma superpotência inatacável.

Osama bin Laden foi finalmente morto em maio passado, mas o balanço ainda é muito pesado para a América.
Cerca de 100 mil soldados americanos ainda estão no Afeganistão; 7.500 militares americanos e soldados dos países aliados morreram nesta guerra ou no Iraque, dois conflitos financiados com créditos que fizeram explodir a dívida americana.

Bin Laden ganhou, afinal, seu combate contra a América? Os atentados do 11 de Setembro, diabolicamente simples em sua execução, puseram fim a um século de hegemonia americana?

No curto prazo, a resposta parece positiva.

No dia 10 de setembro de 2001, os Estados Unidos eram uma incontestável superpotência mundial. Suas finanças estavam em nível satisfatório, após anos de crescimento, com a presença do otimismo.

No dia 11 de Setembro, o mundo assistiu atordoado à destruição das Torres Gêmeas de Manhattan e o ataque contra o Pentágono --quatro aviões desviados por 19 homens determinados, visando quase que simultaneamente os símbolos econômico, político e militar da superpotência americana (o quarto avião, dirigido para Washington, caiu num campo da Pensilvânia).

Na noite de 11 de Setembro, cerca de 3.000 pessoas morreram, e os americanos perderam o sentimento de estar em segurança em suas fronteiras.

"Isso foi uma grande vitória para Bin Laden", considerou Julian Zelizer, professor de história política da Universidade de Princeton. "Enquanto ato terrorista, ação criminosa, foi um sucesso. Isso revelou um milhão de falhas no sistema de segurança nacional, tendo sido catastrófico para o país, tanto psicologicamente quanto em termos de custo humano".

Para alguns analistas, a decisão americana de lançar, sem esperas, uma guerra contra o terrorismo acarretou consequências ainda mais nefastas que os atentados em si.

"Houve um momento, causado por uma espécie de síndrome nacional de estresse pós-traumático, no qual os Estados Unidos aceitaram todas as reações exageradas do governo Bush", explica David Rothkopf, da organização Carnegie Endowment for International Peace.

"Isso enviou uma mensagem de pânico, de reação exagerada, transigimos com nossos valores e, no final das contas, fez mais mal aos Estados Unidos do que Bin Laden", considerou. "É esse o objetivo do terrorismo: agir e esperar que isso acarrete uma resposta do inimigo, causando, finalmente, mais prejuízos do que o ato inicial".

Num discurso catártico no Congresso, George W. Bush comprometeu-se a fazer com que os terroristas nunca mais dormissem tranquilos.

Seguiram-se 10 anos do mau negócio afegão, uma invasão do Iraque que afastou Washington de seus aliados, sevícias infligidas a prisioneiros nos cárceres de Abu Ghraib, que degradaram a imagem dos Estados Unidos.

Os interrogadores de pessoas suspeitas de terrorismo confinavam em Guantánamo os "combatentes inimigos" com a classe política americana sem saber o que fazer, ante a violência praticada contra os princípios fundadores da Constituição.

E os bilhões de dólares da dívida acarretados pelas guerras americanas agravaram ainda mais a crise econômica.

No longo prazo, a opinião dos historiadores sobre o impacto do 11 de Setembro tornou-se mais comedida.

O sistema político democrático americano sobreviveu, mesmo se alguns acusam o Patriot Act de ter causado entraves às liberdades.

A América tornou-se, também, um país mais seguro, reforçando a segurança aérea e restruturando os serviços de informação. Complôs foram frustrados e nenhum ataque terrorista maior foi registrado em solo americano.

Dez anos após, os sonhos grandiosos de jihad internacional, acariciados por Bin Laden, não se concretizaram.

"Ele foi morto, e a Primavera árabe enviou mensagem, segundo a qual o fundamentalismo islamita não é o único desejo dos povos da região", observa Zelizer.

E após dez anos de "guerra contra o terrorismo", a maior ameaça contra a segurança e a superpotência americana poderia, precisamente, não ser o terrorismo.

"O 11 de Setembro é um acontecimento importante, mas não esteve na origem de mudanças geopolíticas ou geoeconômicas maiores", explica Rothkopf.

No seu entender, o crescimento econômico, diplomático e estratégico da China, da Índia ou do Brasil farão ainda mais para diminuir a potência americana do que Bin Laden.

Sem esquecer a dívida pública, o desemprego e o envelhecimento da população, outras grandes ameaças à proeminência ocidental.

 

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