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30/09/2011 - 12h38

Morte de Al Awlaqi é um golpe contra a Al Qaeda, mas a mensagem dele não morreu

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JASON BURKE
DO "GUARDIAN"

A morte de Anwar al Awlaqi remove um elo importante nas redes complexas e mutantes que compõem a militância islâmica moderna. Embora a importância dele na Al Qaeda possa ser superestimada, o desaparecimento do iemenita-americano não deixará de ter consequências significativas. Tendo sido alguém cujo papel principal foi o de propagandista, estas consequências serão sentidas no mundo das percepções e da ideologia, tanto quanto das operações.

Awlaqi inspirou e motivou grande número de pessoas. Muitas destas eram ocidentais ou viviam no Ocidente. Suas palestras filmadas --Awlaki dominava o inglês perfeitamente-- e a revista que se acredita que ele comandasse, "Inspire", foram citadas por militantes e por serviços de inteligência como sendo cruciais para a aceleração de processos de radicalização.

Elas ofereciam argumentos concisos, contemporâneos e, em muitos casos, convincentes em favor da participação na violência radical, em uma linguagem compreendida por números imensos de pessoas em todo o mundo islâmico, além do Ocidente. Permitiam que pessoas que não sabiam muito sobre a fé islâmica ou a política do Oriente Médio, mesmo as que não tinham conhecimentos básicos da língua árabe, acessassem os recursos ideológicos e motivacionais da ideologia da Al Qaeda.

Desde Roshonara Choudhry, a jovem estudante britânica que esfaqueou um deputado que tinha votado em favor da guerra no Iraque, até o paquistanês Faisal Shahzad, que por pouco não conseguiu explodir uma bomba na Times Square, em Nova York, em 2010, as ideias de Awlaqi vêm sendo cruciais no processo que converte em militantes pessoas revoltadas, com sede de aventura, que se sentem alienadas ou simplesmente atraídas por ideias radicais. Portanto, sua morte constitui um golpe importante contra o ativismo radical islâmico hoje.

Mas há reservas a serem feitas a qualquer celebração. O perfil alto de Awlaqi não constituía necessariamente um reflexo de sua importância, nem na Al Qaeda na Península Arábica nem na Al Qaeda central. Ele não era líder do grupo iemenita filiado à Al Qaeda, e Osama bin Laden, conforme sabemos por documentos apreendidos em maio, vetou uma proposta para promovê-lo a essa posição.

A figura operacional no Iêmen que mais preocupa a inteligência ocidental é o altamente habilidoso e inovador fabricante de bombas que vem criando artefatos diversos --como as bombas em pacotes enviadas do país para alvos no Ocidente, que foram interceptadas-- e que ainda não foi capturado.

Sob muitos aspectos a morte de Awlaqi resume as questões chaves que preocupam todos os analistas da Al Qaeda hoje sobre a evolução futura da organização. É claro que o grande número de militantes islâmicos seniores mortos nos últimos 18 meses exerceu um impacto maciço sobre o grupo. Não apenas seu líder morreu, como os escalões superiores da liderança central e de muitas das organizações filiadas foram "esvaziados", segundo um agente de segurança.

É evidente que a capacidade da Al Qaeda ou grupos vinculados a ela lançarem um ataque espetacular, algo na escala do 11 de Setembro, foi fortemente reduzida em consequência disso. E está claro que a remoção de Awlaqi significa o fim de um fluxo de propaganda particularmente eficaz.

Mas Awlaqi foi principalmente um intermediário. Ele transmitia a mensagem e ideologia do islã extremista. Essa mensagem continua viva hoje, apesar de ter sido rejeitada pela imensa maioria dos muçulmanos. Após uma década de polarização de conflitos violentos, sua sobrevivência hoje depende das ações de indivíduos. O movimento social da Al Qaeda, o culto do extremismo violento, a subcultura da jihad, tudo isso possui ímpeto suficiente para continuar a operar.

Awlaqi, o iemenita-americano altamente instruído que fazia a ponte sobre o abismo cultural entre o Oriente Médio e o Ocidente e que se voltou ao extremismo, vai agora ingressar nas fileiras dos mártires da Al Qaeda. Assim, é provável que continue a servir de inspiração por muito tempo após sua morte. O fenômeno que foi a Al Qaeda pode estar mais degradado, mais fragmentado e mais caótico do que esteve em muitos anos, mas já demonstrou repetidas vezes sua capacidade de resistência.

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN

 

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