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26/03/2012 - 14h09

Há possibilidade de aproximação com PSB e PC do B em SP, diz Serra

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DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO

O ex-governador José Serra, agora pré-candidato oficial do PSDB à Prefeitura de São Paulo, afirma que trabalhará para atrair partidos de "esquerda democrática" à sua candidatura, referindo-se ao PSB e ao PC do B. Ele concedeu entrevista à Folha, por e-mail, na sexta-feira e no sábado.

"As esquerdas democráticas têm um compromisso com a justiça social e com a eficiência na aplicação dos recursos públicos, duas marcas do PSDB e, felizmente, da minha atuação na vida pública. Espero que possamos avançar", afirma Serra.

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O ex-governador também defendeu alianças com o governo federal para combater o crack em São Paulo. "[Vamos buscar parcerias] Em todas as áreas. Se os recursos estiverem no Estado, na União, no BNDEs, no Banco Mundial, na ONU, não importa. Fui prefeito e governador, em ambos os casos com alta aprovação, com o PT no governo federal", afirmou.

Apu Gomes/Folhapress
Serra faz gesto da vitória após votar na prévia do PSDB que o escolheu para candidato à Prefeitura de SP
Serra faz gesto da vitória após votar na prévia do PSDB

Veja abaixo a íntegra das respostas de Serra a perguntas sobre política e problemas da capital paulista.

Folha: Vencidas as prévias, o senhor poderá se debruçar oficialmente sobre a costura de alianças em torno de sua candidatura. DEM e PSD reivindicam a vaga de vice. Como o senhor pretende acomodar esses dois partidos, hoje rompidos, na coligação?

José Serra: Vamos trabalhar para ter o maior apoio possível. Uma coligação do tamanho da nossa cidade e de seus desafios. E não apenas para a campanha, mas também para enfrentar os problemas que uma capital mundial como São Paulo tem. Problemas imensos, multifacetados, interligados.

Na campanha e na administração vou buscar a soma, como fiz quando fui ministro, quando fui prefeito da vez anterior, quando fui governador. Política é entendimento. Isso pode ser só um clichê ou ser, de fato, a construção de um consenso. Todos sabem como trabalho. Encontraremos o núcleo de propostas que satisfaçam as aspirações de todas as legendas que nos apoiarem. O objetivo é o bem de São Paulo.

A experiência federal indica que aliança pautada só no imediatismo ameaça paralisar o governo. E estou certo de que o PSD e o DEM querem o melhor para a cidade.. Não será difícil escolher, ouvindo todos, um vice à altura de São Paulo, independente do partido a que pertença. Vamos primeiro construir uma boa e sólida aliança, baseada num projeto que faça a cidade avançar e não retroagir, lá na frente escolheremos o vice. Sem ansiedade.

Há um trabalho forte para atrair o PSB para a coligação tucana, ou pelo menos afastar os socialistas do PT. O senhor acredita ser possível a aliança com o PSB em São Paulo? Como vê uma eventual aproximação do PSDB com outros partidos ditos de esquerda, como o PCdoB, por exemplo?

Como disse, política é a construção de um consenso com base em um núcleo de propostas. Só os tiranos impõem sua vontade sem negociar. Há a possibilidade de aproximação com esses partidos, sim. Ambos são da base do prefeito e um deles da base do governador.

As esquerdas democráticas têm um compromisso com a justiça social e com a eficiência na aplicação dos recursos públicos, duas marcas do PSDB e, felizmente, da minha atuação na vida pública. Espero que possamos avançar.

Sua saída da prefeitura em 2006 para concorrer ao governo do Estado será amplamente explorada pelos adversários. Como o senhor pretender reagir a isso?

Você poderia dizer "novamente explorada" pelos adversários, pois eles já fizeram isso duas vezes e não tiveram êxito. Agora seguem com a pauta pela terceira vez.

A votação que eu tive na cidade como candidato a governador em 2006, superior à que tive como prefeito no primeiro turno, indica que a população compreendeu a minha decisão. O PT ficou chateado pois impedi a sua vitória na disputa pelo governo do Estado. E isso é mesmo verdade. Fui eleito no primeiro turno, com 58% dos votos, a primeira vez na história de São Paulo.

Como a exploração não funcionou, em 2006 os adversários montaram o dossiê dos aloprados, lembra? Em 2010 a população entendeu e apoiou de novo, pois mesmo perdendo a eleição presidencial no Brasil, ganhei em São Paulo nos dois turnos, pelo que fiz como governador no Estado e na cidade. Essa é a história, esses são os fatos. Se quiserem explorar o assunto de novo, que explorem. O eleitorado de São Paulo não se deixa enganar.

A ação policial na cracolândia demonstrou a necessidade de avançar no tratamento de dependentes químicos. O senhor é a favor da internação compulsória dos dependentes, como alguns especialistas propõem?

A internação voluntária deve prevalecer. É sempre melhor quando o dependente quer se tratar. Mas o Poder Público não cruzar os braços vendo milhares de jovens se matando com crack.

Quando eu fui candidato a presidente, apresentei um plano amplo, pois esse é um problema nacional. Que começa com o controle de fronteiras, pois o Brasil não planta coca.

Além disso, o governo federal, que tira muito dinheiro da cidade e devolve pouco, tem de aportar recursos substanciais para um programa de prevenção e de tratamento. Quando eu fui governador, fiz uma unidade de tratamento em São Bernardo que é modelo - e que o PT foi publicamente contra. Agora, como prefeito, vou colocar toda a minha energia para juntar a prefeitura, o Alckmin e a Dilma para oferecer as condições para o dependente se tratar e se recuperar.

E aqueles que estiverem atentando contra a própria vida, o Poder Público, junto com o Judiciário, tem que resolver, caso a caso, se deve, ou não, ser internado compulsoriamente. Não tenho dogmas nem preconceitos. E tenho um só objetivo: salvar vidas que estão se perdendo.

O senhor afirmou que trabalhará para que prefeitura, governo do Estado e governo federal atuem juntos contra a droga. Há outras áreas em que trabalhará para ampliar parcerias?

Sem querer ser genérico, pois é o fundamento que importa, a resposta é esta: em todas as áreas. Vou fazer o que já fiz como ministro, prefeito e governador. Buscar recursos, parcerias, apoios onde eles estiverem, sempre com bons projetos, no mérito e na técnica. Minha história mostra que sempre agi assim. Se os recursos estiverem no Estado, na União, no BNDEs, no Banco Mundial, na ONU, não importa.

Fui prefeito e governador, em ambos os casos com alta aprovação, com o PT no governo federal. Um político se elege por um partido e suas alianças, mas governa para todo mundo. Vou atrás, vou buscar, com energia para fazer a minha cidade avançar. Na área de transporte, por exemplo. Tem que vir mais dinheiro pro metrô. Na área de Saúde. A prefeitura já gasta mais do que manda a lei e mais do que estados e quase todos os municípios: perto de 20% do orçamento. O atendimento de Saúde avançou nos últimos anos, mas precisa melhorar mais. Em quantidade e qualidade.

Vamos buscar os recursos para isso. Da mesma forma, para área da educação, cultura e lazer, creches. Meu negócio é somar esforços e fazer.

São Paulo será uma das cidades-sede da Copa do Mundo em 2014 e a capital foi escolhida para a abertura dos jogos. Que investimentos são prioritários para garantir que o evento seja bem sucedido?

A prefeitura e o governode São Paulo já vêm trabalhando, com uma comissão atuante, e o clima deve ser de otimismo. A prioridade é a segurança, o transporte e o desenvolvimento estrutural e econômico da Zona Leste da cidade, incluindo novos acessos à região, sempre em parceria com o governo do Estado, que está fazendo a sua parte.

Nós temos de incentivar a expansão da rede de hotéis, fazer um grande programa de treinamento para o turismo receptivo. Uma das minhas ideias, por exemplo, é oferecer cursos de inglês básico para motoristas, garçons, profissionais que, de alguma forma, vão lidar com os turistas.

São Paulo é uma cidade moderna, não deve nada, em estrutura, às grandes cidades do mundo. Nova Iorque, Paris, Londres, Tóquio, Buenos Aires, têm problemas parecidos aos de São Paulo. O que a prefeitura vai fazer é melhorar os serviços públicos que são de sua responsabilidade, emular a iniciativa privada para que ofereça condições aos turistas e oferecer oportunidades para os paulistanos poderem ganhar com o evento.

Agora, o governo federal tem de resolver o problema dos aeroportos e mandar recursos para a ampliação do sistema de transporte e a melhoria do sistema viário. Quando eu fui governador, e em parceria com a prefeitura, fizemos as novas marginais do Tietê. O governo federal tem de ajudar a fazer mais ampliações como essas.

Há neste momento um grande debate sobre as condições de tráfego para ciclistas na capital. O senhor é favorável a restringir as bicicletas às ciclovias?

A bicicleta pode se firmar como meio alternativo de transporte, e não apenas de lazer. Mas é preciso criar as condições necessárias para não colocar em risco a vida dos ciclistas. Quando governador, criei o acesso de bicicletas ao metro, além de oferecer a possibilidade de o cidadão alugar uma bicicleta para se locomover. O Kassab fez as ciclofaixas, que antes não existiam.

Fizemos também grandes ciclovias de lazer em parques e nas margens do Pinheiros. Tem muita coisa em andamento. Como prefeito, vou ampliar as ciclofaixas e vamos ver onde é possível implantar ciclovias, rotas mais importantes para o deslocamento diário, sem com isso atrapalhar ainda mais o trânsito e colocar a vida dos ciclistas em risco.

O prefeito Gilberto Kassab prometeu ampliar os corredores de ônibus em 60 km, mas não conseguiu executar sequer metade. O senhor pretende ampliar os corredores de ônibus?

A receita para o transporte público não é única. A prefeitura investiu, pela primeira vez, no metrô de São Paulo, operado pelo governo do Estado, além da conclusão do trecho do Expresso Tiradentes até a Vila Prudente. O metrô serve primordialmente aos moradores da cidade.

Agora entra uma nova etapa de forte investimento nos corredores de ônibus, fundamentais para a mobilidade urbana e para incentivar o transporte público, assim como as novas linhas do metrô. E vamos fazer isso. Estão sendo lançados os editais de licitação para novos corredores e para recuperação de corredores antigos. E há obras em andamento em, pelo menos, dois corredores.

Mas é preciso colocar os pingos nos "is". O PT fez corredores às pressas no último ano de prefeitura. Pra dizer que fez e usar como propaganda na campanha. Quando eu assumi, tinha corredor mal-feito, com defeito ou incompleto. E tinha corredor que nem corredor era, porque estava cheio de cruzamentos e sem área de ultrapassagem.

Ainda pior, tinha o fura-fila, onde eles tinham enterrado milhões e milhões e estava com as obras paradas, pois a cidade estava falida, sem dinheiro em caixa e com pagamentos atrasados. Como prefeito, minha providência foi viabilizar a obra, que transformamos no ponto de partida do expresso Tiradentes, com o monotrilho hoje em andamento, tocado pelo Estado e pela prefeitura.

Então, vamos colocar as coisas em seus termos. Primeiro, a cidade tem que ter mais metrô e com mais frequência, pra diminuir a superlotação. Segundo, tem que fazer corredores de ônibus corretamente. Terceiro, precisa redesenhar o sistema todo, pois em muitos corredores, como o da Santo Amaro por exemplo, há horários em que tem tanto ônibus que se forma uma fila imóvel, um paredão de ônibus.

O que leva à seguinte conclusão: não existe solução fácil pra problema tão complexo. Vamos fazer as coisas direito. Vamos fazer as coisas para durar. Vamos fazer as coisas à altura das necessidades de São Paulo. Fazer por fazer e gastar o dinheiro do paulistano em coisas mal feitas, como os túneis dos jardins, não é boa política. Era isso o que o PT fazia na prefeitura.

O senhor afirmou que quer fazer desta a melhor gestão de sua vida. Qual considera o seu maior desafio?

Fazer a melhor gestão da minha vida e a melhor gestão que São Paulo já teve é uma missão. E, pra mim, como diz o filme, 'missão dada é missão cumprida'.

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