Publicidade
Publicidade
Análise: O último dos bispos-políticos exerceu liderança civil e religiosa
Publicidade
KENNETH SERBIN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Personagem mais poderoso da Igreja Católica do Brasil moderno, dom Eugenio de Araújo Sales ajudou moldar tendências fundamentais e, com o seu estilo direto, gerou muita controvérsia.
Nos anos 50 dom Eugenio, com outros religiosos progressistas e leigos do Nordeste, promoveu transmissões de rádio para alfabetizar a população pobre que deram origem ao MEB (Movimento de Educação de Base). O MEB foi reprimido após o golpe de 1964, mas seu espírito sobreviveu nas conhecidas Comunidades Eclesiais de Base.
Embora intelectuais e religiosos de esquerda tenham criticado d. Eugênio por seu suposto apoio à ditadura, suas ações frequentemente demonstraram o contrário. Como administrador apostólico de Natal em 1964, ele foi um dos poucos bispos nas capitais a proibir comemorações religiosas de apoio ao golpe.
Enquanto progressistas como dom Hélder Câmara e dom Paulo Evaristo Arns denunciavam publicamente a tortura e a censura impostas pelo governo militar, dom Eugenio usava o respeito enorme que ele usufruía entre os generais --como resultado de seu anticomunismo e da ênfase na obediência à hierarquia-- para defender os direitos humanos nos bastidores.
Apesar de ter ajudado a criar a ala progressista da igreja, nos anos 80 dom Eugenio --já interlocutor regular do papa e membro de comissões importantes do Vaticano-- usou seu poder para reverter partes fundamentais do movimento progressista.
Ele supervisionou grande parte do esforço para reduzir o radicalismo da Teologia da Libertação e de seus adeptos no país e na América Latina.
Ao final, dom Eugenio será lembrado por seu patriotismo, sua defesa dos interesses da igreja e suas habilidades políticas. Sua morte sinaliza o fim de uma época em que bispos-políticos ocupavam papeis importantes de liderança no mundo religioso e público. Com o declínio do catolicismo e a transição para uma sociedade mais consumista e menos centrada no sagrado, é pouco provável que o Brasil voltará a ter indivíduos com tanto poder, prestígio e influência moral.
Kenneth Serbin é autor de "Diálogos na sombra: bispos e militares, tortura e justiça social na ditadura" e "Padres, celibato e conflito social" (Cia. das Letras)
Tradução de Vincent Bevins
+ Canais
+ Notícias em Poder
+ Livraria
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice