Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
11/07/2012 - 04h00

Análise: O último dos bispos-políticos exerceu liderança civil e religiosa

Publicidade

KENNETH SERBIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Personagem mais poderoso da Igreja Católica do Brasil moderno, dom Eugenio de Araújo Sales ajudou moldar tendências fundamentais e, com o seu estilo direto, gerou muita controvérsia.

Nos anos 50 dom Eugenio, com outros religiosos progressistas e leigos do Nordeste, promoveu transmissões de rádio para alfabetizar a população pobre que deram origem ao MEB (Movimento de Educação de Base). O MEB foi reprimido após o golpe de 1964, mas seu espírito sobreviveu nas conhecidas Comunidades Eclesiais de Base.

Embora intelectuais e religiosos de esquerda tenham criticado d. Eugênio por seu suposto apoio à ditadura, suas ações frequentemente demonstraram o contrário. Como administrador apostólico de Natal em 1964, ele foi um dos poucos bispos nas capitais a proibir comemorações religiosas de apoio ao golpe.

Enquanto progressistas como dom Hélder Câmara e dom Paulo Evaristo Arns denunciavam publicamente a tortura e a censura impostas pelo governo militar, dom Eugenio usava o respeito enorme que ele usufruía entre os generais --como resultado de seu anticomunismo e da ênfase na obediência à hierarquia-- para defender os direitos humanos nos bastidores.

Apesar de ter ajudado a criar a ala progressista da igreja, nos anos 80 dom Eugenio --já interlocutor regular do papa e membro de comissões importantes do Vaticano-- usou seu poder para reverter partes fundamentais do movimento progressista.

Ele supervisionou grande parte do esforço para reduzir o radicalismo da Teologia da Libertação e de seus adeptos no país e na América Latina.

Ao final, dom Eugenio será lembrado por seu patriotismo, sua defesa dos interesses da igreja e suas habilidades políticas. Sua morte sinaliza o fim de uma época em que bispos-políticos ocupavam papeis importantes de liderança no mundo religioso e público. Com o declínio do catolicismo e a transição para uma sociedade mais consumista e menos centrada no sagrado, é pouco provável que o Brasil voltará a ter indivíduos com tanto poder, prestígio e influência moral.

Kenneth Serbin é autor de "Diálogos na sombra: bispos e militares, tortura e justiça social na ditadura" e "Padres, celibato e conflito social" (Cia. das Letras)

Tradução de Vincent Bevins

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página