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Análise: Quando busca voto, candidato é pouco disciplinado pelo partido
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VITOR MARCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma parte da literatura política recente tem estruturado suas análises sobre o comportamento político partidário em duas arenas: a eleitoral e a parlamentar.
O argumento é que, dada a desconexão entre elas, um mesmo ator político poderia adotar estratégias racionais distintas sem comprometer a coerência de suas ações.
Na arena eleitoral é onde acontece o jogo competitivo, é o candidato em busca de votos. Na arena parlamentar é onde acontece o jogo da governabilidade, é o eleito formando coalizões de governo.
Os incentivos institucionais presentes em cada uma dessas arenas não diferem muito em relação ao nível federativo. O comportamento para disputar eleições e formar coalizões de governo é semelhante, estejamos tratando da Câmara dos Deputados ou das municipais.
Na arena parlamentar, o comportamento é disciplinado e orientado pelo partido. Votar de acordo com a indicação do líder partidário é a melhor estratégia para sobreviver em um ambiente em que os recursos políticos e orçamentários estão concentrados nas mãos do Executivo e são distribuídos por ele seguindo a lógica partidária.
Há pouquíssimos estímulos para o comportamento individualista, uma vez que os benefícios são distribuídos por mecanismos coletivos.
Mas, na arena eleitoral, os incentivos são para o comportamento individualista e pouco disciplinado pelo partido.
Como o sistema proporcional de lista aberta acaba estimulando os votos nominais, cada candidato ao Legislativo atua com estratégias particulares que permitam ampliar suas chances na competição pelo voto do eleitor.
Claro que, ao fim e ao cabo, eles poderão ser beneficiados pelo bom desempenho do partido no quociente eleitoral. Sua eleição, porém, dependerá de seu desempenho individual em relação aos outros candidatos do partido.
Nesse ciclo, a conexão entre as arenas segue a seguinte lógica: na formação do governo, sigo orientações do partido para acessar os recursos políticos e orçamentários, beneficiando minha base eleitoral e aumentando minhas chances de vitória nas próximas eleições.
No período eleitoral, a lógica é outra: busco maximizar meu desempenho individual para conquistar uma posição de destaque na posterior formação dos governos.
E é a convivência dessas duas lógicas que faz com que os vereadores, por exemplo, sejam disciplinados na formação de governos e indisciplinados na busca pelo voto. Ou, em outras palavras, sigam orientações partidárias na formação de coalizões.
Eles usufruem dos benefícios coletivos para sobreviver individualmente, mas adotem estratégias individualistas na competição eleitoral --sobrevivendo individualmente para usufruir dos benefícios coletivos.
VITOR MARCHETTI é doutor em ciência política e professor de políticas públicas da UFABC.
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