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Na Estrada: Ratinho paz e amor
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MORRIS KACHANI
COLUNISTA DA FOLHA
"Sabe qual é o segredo do Roberto Carlos, do Silvio Santos, do Lula, da Hebe, o meu? A gente sabe comunicar. Nossa linguagem é fácil de entender. Pega o FHC, você não sabe o que ele fala, ele é sociólogo!".
Assim um bonachão e bem-humorado Ratinho, apresentador do SBT, explica o sucesso de seu filho que aos 31 se apresenta como Ratinho Junior e lidera as pesquisas de intenção de voto em Curitiba.
Desde 2001 ele ancora o "Microfone Aberto" da rádio Massa FM --que pertence à família--, programa popular diário que mistura informação e entretenimento (licenciou-se apenas para participar da eleição). É líder de audiência no horário.
Há também as aparições diárias em um quadro no SBT, desde 2009, em que apresenta notícias de Brasília --Ratinho Junior cumpre seu terceiro mandato como deputado. O grupo Massa detém os direitos de retransmissão do SBT no Paraná. Somado a outros negócios, reúne quase mil funcionários e fatura R$ 70 milhões por ano.
"A TV e o rádio são mágicos. Você entra na casa da pessoa, se torna companheiro de todos os dias. A pessoa não enxerga um político, enxerga um artista", diz Ratinho, o pai, que já doou R$ 2 milhões para a campanha do filho. "Para mim não é um gasto, vejo isso como um investimento, uma grande escola."
A estratégia de comunicação da campanha chama atenção e está funcionando. Curitiba está coberta de cartazes multicoloridos que fogem do padrão burocrático das campanhas adversárias e mais combinariam com uma Parada Gay.
Há carreatas noturnas com 20 Kombis de neon e um telão de LED de 4 m² guinchado por um caminhão --ideias que Ratinho Junior teve quando viajou a Las Vegas.
Contornando a legislação eleitoral, também foi criado o Xaropão, claramente inspirado no personagem do programa do pai.
A trilha do programa na TV é forró e o propósito é divertir. Além das caminhadas e carreatas ao lado do filho, o pai participa com palpites. Mandou cortar do programa uma cena em que o filho aparecia de terno e gravata: "Esse visual é para solenidades e se estiver eleito".
Para além do berço midiático, há mais semelhanças que diferenças na candidatura de Ratinho Jr. em relação à de Russomanno, o que permite supor um fenômeno que transcende as fronteiras paulistanas.
A grande fatia de eleitores de ambos vem da classe C emergente (embora Ratinho esteja conseguindo melhor aceitação entre universitários e classe média). Os dois se lançaram candidatos por pequenos partidos (Ratinho é do PSC) e têm menos tempo de propaganda gratuita na TV que seus adversários, apoiados por gigantes como PT, PSDB e PMDB. Os líderes evangélicos Silas Malafaia e Valdomiro Santiago estão com Ratinho Junior.
Ele é mais tímido e reservado que o pai, e menos impulsivo. Uma funcionária do grupo brinca que Junior é o "pai melhorado", numa alusão à sua formação acadêmica: graduação em propaganda e marketing e mestrado em direito do Estado --o pai apenas concluiu o segundo grau.
Ratinho Junior está em campanha há mais de um ano e diz ter visitado inúmeras comunidades ao lado de professores das principais universidades para coletar propostas. Cristão convicto, diz não ter formação ideológica tradicional: "Sou pela visão prática da cidadania. Tanto esquerda como direita apresentam defeitos e virtudes. Não é socialismo ou capitalismo: é humanismo".
O pai faz coro e menciona o amigo ex-presidente, com quem gosta de comer rabada e discutir futebol: "Eu e o Lula temos muita coisa em comum. Gosto da ideia dele, esse capitalismo muito selvagem pra mim não funciona. Só critica o Bolsa Família quem não conhece a situação dos que foram beneficiados".
"O dinheiro não está mais na mão do mauricinho, está com a filha do pedreiro --ela é quem compra celular. Não tem mais esse negócio de formador de opinião. O povo é independente e quer mudança, se cansou dos candidatos apadrinhados pelos mesmos políticos de sempre."
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