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Questões de Ordem: Tarde demais
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MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro Ricardo Lewandowski atrapalhou-se muito, e a meu ver inutilmente, ao absolver José Dirceu de envolvimento no mensalão, ontem no STF.
Foi tão longe, que seus votos condenando por corrupção vários parlamentares do PP, do PL e do PTB terminaram ficando incoerentes. Deveria ter absolvido todo mundo.
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Foi o que sugeriu Marco Aurélio Mello, em aparte. Lewandowski argumentou que não havia contradição. Condena os parlamentares, porque receberam dinheiro, mas não acha que havia relação entre receber e votar a favor do governo.
Era uma "coincidência de sabor lotérico", disse Lewandowski, citando estudo estatístico, encomendado pelo deputado Odair Cunha.
Cunha é do PT, e suas declarações, citadas por Lewandowski, são sempre na linha do "suposto mensalão", negando qualquer esquema de corrupção de parlamentares.
Não foi o único petista a ser invocado pelo revisor. Líderes do partido, como Carlos Abicalil e Maurício Rands, ao lado de Ideli Salvatti e Luiz Eduardo Greenhalg, negam peremptoriamente a existência do esquema, como bem se sabe.
Não seria o caso de levantar todos esses depoimentos num momento anterior do julgamento? Depois de ter condenado tanta gente, Lewandowski convence bem pouco ao lembrar tudo isso agora.
Elogiando deputados "respeitáveis", como Campos Machado, do PTB paulista, Lewandowski põe em dúvida, para efeitos jurídicos, todas as declarações de Roberto Jefferson, o denunciador do mensalão.
Já a propósito de José Genoino, a quem também absolveu, Lewandowski desqualificou os depoimentos em juízo de Jefferson. É um co-réu, e teria desmentido, perante o juiz, as acusações que fizera contra os líderes do PT.
Desmentiu? O presidente do STF, Ayres Britto, não concordou com essa tese. Na sessão de quarta-feira, com efeito, Lewandowski repetiu as declarações de Jefferson em juízo.
O presidente do PTB dizia confirmar suas declarações à Polícia Federal. Continuava, entretanto, dizendo que agora, na fase judicial, não iria mais se referir a outros réus, até mesmo porque era um dos acusados.
Não confirmou suas acusações, portanto. Mas, como parece claro para quem ouvia Lewandowski, tampouco desmentiu suas acusações.
Para Lewandowski, essa escapada de Jefferson é suficiente para que não se levem em conta suas acusações. Especialmente contra José Dirceu, de quem era inimigo.
Só se pode observar que isso é pouco para absolver José Dirceu. Afinal, as acusações de Jefferson, no início, foram negadas em sua integridade. Ninguém tinha recebido dinheiro de ninguém. Ninguém sabia da existência de Marcos Valério, nem das propinas recebidas por Pedro Corrêa ou seja lá quem for.
Conforme vieram as investigações, o que dizia Jefferson se comprovou. Não é razoável, a esta altura, achar que ele é o mentiroso e que dezenas e dezenas de petistas, que negavam tudo até aparecer a tese do caixa dois, diziam a verdade.
É isso o que fez Lewandowski, tarde demais. Tarde até para a sua própria participação no julgamento.
Por mais que ele argumente, fica nítida a impressão de que condena figuras menores, como Delúbio Soares, apenas para dar uma satisfação à opinião pública, sem acreditar nem mesmo na existência do mensalão.
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