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Dirceu duvidou de recuperação de Lula após mensalão
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RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu deixou o governo em 2005 duvidando da capacidade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria para se recuperar dos estragos que o escândalo do mensalão causou à sua imagem.
Dois meses depois do seu afastamento, Dirceu disse a um amigo americano que Lula dificilmente seria reeleito nas eleições de 2006 e afirmou que ele poderia desistir de concorrer a um novo mandato se ficasse "deprimido".
Veja como funciona o WikiLeaks
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Leia os telegramas sobre o Brasil obtidos pela Folha
De acordo com um despacho diplomático americano obtido pela organização WikiLeaks, Dirceu considerava mais provável uma vitória da oposição em 2006 e previu que o candidato do PSDB à Presidência seria o então prefeito de São Paulo, José Serra.
Nenhuma das previsões de Dirceu se confirmou. O presidente Lula foi reeleito em 2006, derrotando o tucano Geraldo Alckmin.
Serra, que Lula vencera em 2002, só voltou a ser candidato neste ano, quando foi batido pela candidata governista, Dilma Rousseff.
O despacho com as opiniões de Dirceu é um dos milhares de telegramas da diplomacia americana obtidos pelo WikiLeaks. A Folha e outros seis jornais têm acesso ao material antes da sua divulgação no site da organização (www.wikileaks.ch).
O pacote de documentos inclui relatos de duas conversas que Dirceu teve fora do governo com um assessor especial do Departamento de Estado dos EUA, William Perry, um especialista em assuntos latino-americanos que viveu no Brasil e conhece Dirceu há quase dez anos.
'BIRUTA E IMPRÓPRIO'
O informe de agosto diz que Dirceu procurou se distanciar dos dirigentes que assumiram o comando do PT após as eleições de 2002 e classificou como "biruta e impróprio" o esquema montado para pagar dívidas da campanha de Lula e financiar os aliados do governo.
Segundo Perry, Dirceu responsabilizou o próprio Lula pelas dificuldades enfrentadas pelos petistas, criticando-o por não ter ajudado a organizar um sistema que desse ao PT "fontes de recursos empresariais legítimas".
Perry voltou a encontrar Dirceu em outubro de 2005, quando faltava pouco mais de um mês para que ele tivesse seu mandato de deputado federal cassado pela Câmara.
No meio da conversa, o americano pediu a Dirceu sua opinião sobre a necessidade de uma reforma política no país. O ex-ministro não lhe pareceu muito interessado em debater o assunto, mas criticou o modelo de financiamento dos partidos.
"Dirceu admitiu que habitualmente gastou o dobro do que declarou em suas campanhas e que todos os políticos brasileiros empregam algum tipo de caixa dois", afirma o relato do encontro.
Segundo Perry, Dirceu acusou adversários de hipocrisia e disse que irregularidades eram inevitáveis num país em que "políticos não gostam de ser vistos pegando dinheiro e doadores não gostam de ser vistos doando".
OUTRO LADO
Dirceu disse que os informes sobre seus contatos com a diplomacia americana não refletem com fidelidade suas opiniões e omitem críticas que ele diz ter feito à política externa dos Estados Unidos.
"Isso aí é a versão deles para o que eu falei, mas não é exatamente o que eu penso", disse na sexta-feira, em entrevista por telefone, de Lisboa. "Quem escreve esses telegramas às vezes quer mostrar serviço e não registra o que não interessa para eles."
Dirceu afirmou que não era tão pessimista sobre as chances de Lula se reeleger.
Ele riu do telegrama que relata a conversa em que ele teria admitido o uso de caixa dois em suas campanhas.
Na noite de sábado, o escritor Paulo Coelho, que é amigo de Dirceu e diz ter conversado com ele sobre o WikiLeaks num almoço nesse dia, publicou em seu blog comentários feitos pelo ex-ministro sobre o conteúdo dos telegramas americanos.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Colaborou FERNANDO RODRIGUES, de Brasília
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