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16/02/2012 - 12h58

Filme "Um Conto Chinês" sintetiza virtudes do cinema argentino

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MANUEL DA COSTA PINTO
colunista da sãopaulo

"Um Conto Chinês" não é um filme sensacional, mas sintetiza aquelas qualidades do cinema argentino que despertam um misto de admiração e inveja no espectador brasileiro: como eles conseguem extrair tramas tão complexas a partir de vivências banais? Por que nos identificamos mais com suas personagens do que com as do cinema brasileiro?

O filme de Sebastián Borensztein tem a virtude de contar com Ricardo Darín --ator que empresta seu rosto a boa parte da filmografia argentina da última década (desde "O Filho da Noiva" e "O Clube da Lua" até "Abutres" e "O Segredo dos Seus Olhos").

Divulgação
Ignacio Huang e Ricardo Darín (dir.) em cena de "Um Conto Chinês", que mostra a relação inusitada entre um argentino e um chinês
Ignacio Huang e Ricardo Darín (dir.) em cena de "Um Conto Chinês", que mostra a relação inusitada entre um argentino e um chinês

Logo no início, temos uma cena insólita: o barquinho em que um casal chinês vive um idílio amoroso é atingido por uma vaca que cai do céu, matando a noiva.

Corta para Buenos Aires: Roberto (Darín) é um portenho casmurro, que passa os dias atrás do balcão de sua loja de ferragens, tratando a clientela a patadas e contando porcas e parafusos para ver se não foi enganado pelos fornecedores.

Além de metódico, cultiva altivez ufanista e resmunga quando lhe oferecem produtos de origem estrangeira, especialmente inglesa (logo saberemos que Roberto é veterano da Guerra das Malvinas). Refratário ao assédio de uma amiga com quem teve um caso breve, seu único divertimento é colecionar recortes de jornais com notícias esdrúxulas.

E é justamente o chinês atingido pela vaca (o excelente Ignacio Huang) que vem abalar seu pacato cotidiano. Quando Roberto encontra o imigrante perdido pelas ruas de Buenos Aires, quer logo se livrar da encrenca, mas acaba hospedando-o em sua casa, onde passa noites de torturante incomunicabilidade linguística.

Há algo de fábula moral na figura do chauvinista cujos deveres éticos vencem seus impulsos xenófobos. Também há ironia: afinal, a lojinha de Roberto é um emblema da pequena burguesia tragada pela globalização, mas que conserva um fiapo de solidariedade que o fará acolher um representante do país que arrasa economias locais.

Num país de catástrofes sociais como o Brasil, o tema da diferença acaba redundando em épicos e alegorias da marginalidade ("Cidade de Deus", "O Invasor"). Um país mais pobre (porém mais igualitário) como a Argentina permite uma "mise-en-scène" mais natural, em que tensões apaziguadas se manifestam em tom menor, como pequenas perturbações na ordem cotidiana --tornando verossímeis até mesmo eventos inverossímeis, como uma vaca que despenca do céu da globalização.

UM CONTO CHINÊS
Diretor: Sebastián Borensztein
Distribuidora: Paris (locação)

 

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