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10/09/2010 - 17h00

Jonathan Nossiter, diretor de "Mondovino", lança o longa "Rio Sexy Comedy"

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CLÁUDIA ANTUNES
DO RIO

O cineasta Jonathan Nossiter se tornou cidadão brasileiro em 2009 e, há cinco anos, mora no Rio de Janeiro. Mas, mesmo para um iniciado nos livros de Gilberto Freyre e Machado de Assis, a cidade, ao mesmo tempo desigual, hedonista e democrática, ainda parece uma esfinge. Daí a sua opção por se colocar entre ela e o olhar dos personagens de seu sexto longa, "Rio Sexy Comedy", produção franco-brasileira que estreia em setembro nos festivais de Toronto e do Rio.

Jorge Bispo
Jonathan Nossiter, que lança a produção franco-brasileira "Rio Sexy, com estreia em setembro nos festivais de Toronto e do Rio
Jonathan Nossiter, que lança o filme "Rio Sexy Comedy", com estreia em setembro nos festivais de Toronto e do Rio

"É um filme sobre estrangeiros no Rio e sobre como eles se enganam na percepção de si mesmos e dos brasileiros", define Nossiter, conhecido por "Mondovino", documentário de 2005 que confronta a produção artesanal de vinhos com a pasteurização dos grandes mercados da bebida.

"Depois de cinco anos aqui, a única certeza é a de que não entendo nada." Meses atrás, Nossiter enviou aos amigos o link que descobriu no YouTube: uma entrevista de Pier Paolo Pasolini (1922-1975) na qual o cineasta italiano afirma que a sociedade de consumo tinha conseguido fazer mais para destruir o espírito crítico e independente do que o fascismo.

O diretor identificou na acidez do "poeta guerreiro" um prenúncio da própria inquietação com um fenômeno de face dupla: os padrões impostos ao cinema pelos conglomerados hollywoodianos que controlam a produção e a distribuição e o conformismo que se irradiou dos Estados Unidos, seu país de origem, a partir da revolução conservadora iniciada sob Ronald Reagan (1981-1989).

Nossiter diz ver no cinema, na política e no jornalismo uma propensão à "autocensura", que leva à simplificação dos assuntos. Em busca do que chama de "independência total", ele montou uma cooperativa para filmar "Rio Sexy Comedy".

"A gente comprou duas câmeras por quase nada. Atores e técnicos trabalharam mais ou menos pelo mesmo salário. É um sonho democrático tirar os meios de produção de quem pode limitar o poder do outro", diz ele, que editou o filme no escritório do apartamento em Ipanema, onde vive com a mulher, a fotógrafa Paula Prandini, e os filhos: Noah, 3, e as gêmeas Miranda e Capitu, 5.

Nossiter quis fazer do novo filme uma "comédia que incomoda", inspirada em produções "bregas" americanas, como os filmes de Adam Sandler ou "As Loucuras de Dick e Jane", de Jim Carrey, nos quais encontra um "olhar crítico da sociedade".

Seu apartamento fica num prédio que dista pouco mais de um quarteirão da favela do Cantagalo, um dos cenários do filme estrelado por amigos como a francesa Irène Jacob, a britânica Charlotte Rampling, o americano Bill Pullman e a brasileira Mary Sheila, que, formada no grupo Nós do Morro, despontou no cinema em "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho.

Rampling faz uma cirurgiã que descobre que "filantropia não é a coisa mais óbvia do mundo". Pitanguy faz o papel de si mesmo e, segundo Nossiter, foi "brilhante" no improviso. Jacob é antropóloga; Mary Sheila, empregada; Pullman, embaixador.

O diretor filmou no perímetro que vai do centro à Rocinha, passando pelo Botafogo e pelo Leblon. "Um estrangeiro tem a impressão de que está atravessando um continente. Isso é o trauma e o milagre da cidade."

Ele diz que buscou evitar a exaltação e a imagem violenta que a favela tem no cinema. "Não nego a presença do tráfico, mas as pessoas têm uma dignidade não sentimental, a dignidade do trabalhador, como quis deixar transparecer", afirma o diretor.

Nossiter é cidadão do mundo por nascimento. Filho de Bernard, correspondente dos jornais americanos "The New York Times" e "The Washington Post", ele passou a infância e a juventude entre a Índia e a Europa, onde, por um tempo, viveu como enólogo, profissão que ainda exerce e que lhe inspirou, além de "Mondovino", um livro, "Gosto e Poder" (304 págs., Companhia das Letras).

Peço ao diretor que avalie os filmes americanos que o brasileiro "consome". Para ele, o verbo é a prova de que o cinema como "ato cultural" está quase desaparecido, transformado em "produto a ser consumido" quando deveria "instaurar um diálogo de prazer e provocação" entre o diretor e o público.

 

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