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11/10/2010 - 10h21

Dos 9 teatros municipais, dois são reformados e dois ficam prontos em 2011

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GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Se mais de 40 anos já se passaram desde a morte da atriz-ícone Cacilda Becker, o teatro que recebe seu nome renasceu das cinzas. Encravado na rua Tito, profundezas da Lapa, o auditório inaugurado em 1988 estava coberto de rachaduras, vazamentos, mofo. Passou 19 meses fechado e reabriu em novembro do ano passado, inteiramente modernizado. O palco aumentou de tamanho, graças a um rearranjo dos camarins. O teatro ganhou um urdimento (conjunto de traves no teto de um palco), novas baias para guardar cenários e uma passarela digna para os refletores.

Há poucos meses, o antigo auditório da biblioteca municipal Paulo Setúbal, na Vila Formosa, também foi totalmente remodelado para se transformar no teatro Zanoni Ferrite --o ator homenageado passou boa parte de sua vida no bairro. A escala do teatro é menor, e a estrutura é bem mais simples do que a feita no Cacilda Becker, mas o resultado ficou simpático. Ali, espetáculos infantis têm conseguido se não lotar, ao menos encher a sala nas tardes de sábado e domingo.

Fred Chalub/Folhapress
Teatro municipal Flávio Império, em Cangaíba, na zona leste; o espaço está fechado por tempo indeterminado
Teatro municipal Flávio Império, em Cangaíba, na zona leste; o espaço está fechado por tempo indeterminado

O Cacilda Becker e o Zanoni Ferrite fazem parte do grupo de nove teatros "distritais" administrados pela prefeitura, numa soma de 2.511 poltronas. Se o circuito de teatros paulistanos ocupou tradicionalmente o centro, a região da Brigadeiro e Bela Vista, a iniciativa pública tratou, desde a década de 1950, de instalar teatros encravados em bairros residenciais paulistanos -forma de atrair um público que não necessariamente atravessaria a cidade atrás de um espetáculo.

No entanto, quatro desses teatros encontram-se atualmente fechados, alguns deles há mais de quatro anos. A promessa da Secretaria Municipal da Cultura é que todos os nove (os dois já concluídos e outros sete) terão passado por uma reforma até o fim de 2012 -meta estabelecida na eleição de 2008 e reafirmada na entrevista do secretário Carlos Augusto Calil à sãopaulo.

Resta saber se o tempo e os recursos serão suficientes para tanto.

Atualmente, o teatro Martins Penna, na Penha, zona oeste, e o Alfredo Mesquita, em Santana, zona norte estão em obras, com conclusão prevista para março e abril de 2011, respectivamente. Flávio Império, em Cangaíba, e Décio de Almeida Prado, no Itaim, estão "fechados por tempo indeterminado", segundo o site da secretaria.

Antes e depois

A princípio, as reformas tendem a refletir num aumento de público. Espaços adequados atraem companhias melhores e, consequentemente, mais gente. No caso do Cacilda Becker, a média de espectadores que frequentavam o espaço era de 627 pessoas/mês.

Depois da reforma, são quase 1.200 espectadores mensais (número ainda baixo, que equivale ao teatro de 195 lugares lotado seis dias por mês).

Fred Chalub/Folhapress
Interior do teatro Cacilda Becker, na rua Tito, na Lapa; a sala ficou fechada para reformas durante 19 meses
Interior do teatro Cacilda Becker, na rua Tito, na Lapa; a sala ficou fechada para reformas durante 19 meses

"Eu sou sempre muito crítico, mas a verdade é que o teatro ficou sensacional. Os problemas foram resolvidos. Ficou bom para o público e para quem está do lado de dentro trabalhando. Já estive em cartaz no Cacilda Becker outras vezes, sei do que estou falando", disse o diretor do grupo Tapa, Eduardo Tolentino. No último dia 1º, a companhia estreou no espaço a peça "Amargo Siciliano", reunião de dois textos de juventude de Pirandello.

"A reforma pode piorar um teatro. Foi o que já aconteceu, por exemplo, no João Caetano [que passou por obras em 1977 e 2000 ]. Outras vezes, a reforma é só uma maquiagem que esconde os problemas, mas sem resolvê-los. Não foi o caso. Ficou ótima também a proporção entre palco e plateia."

Nem todos, porém, estão tão satisfeitos quanto Tolentino. Segundo o ator Aiman Hammoud, membro da diretoria da Cooperativa Paulista de Teatro, faz falta a época do projeto Cidadania em Cena (implantado pela gestão Marta), em que os teatros distritais eram ocupados permanentemente por companhias paulistanas. A Cia. do Latão ficava instalada no Cacilda Becker, a companhia Fraternal (da qual Hammoud faz parte), no Paulo Eiró, e assim por diante.

Fred Chalub/Folhapress
O Arthur Azevedo passará por reformas em 2011; está prevista a construção de um anexo destinado a cursos de formação
O Arthur Azevedo passará por reformas em 2011; está prevista a construção de um anexo destinado a cursos

"Havia mais espaço para desenvolver um trabalho junto à comunidade. Agora, os espetáculos ficam tão pouco tempo em cartaz que, quando o público começa a descobrir que tem algo ali, a peça já foi embora", diz Hammoud. Segundo ele, na última vez em que a Fraternal se apresentou no Paulo Eiró, os equipamentos ainda estavam muito precários.
Não havia refletores.

A era de ouro e os anos 1980

No que se refere à arquitetura, os teatros distritais podem ser divididos em dois grandes grupos. O primeiro reúne aqueles que o arquiteto carioca Roberto Tibau (1924-2003) projetou nos anos 1950: João Caetano, Paulo Eiró e Arthur Azevedo, os três com mais de 400 lugares. Tibau, autor do prédio do colégio Santa Cruz e do Planetário do Ibirapuera (este último em parceria com Eduardo Corona, Roberto Tibau e Antônio Carlos Pitombo), criou um padrão com estruturas de vidro e pilastras de sustentação. Nos três, o artista plástico Renato Sottomayor confeccionou painéis decorativos para a entrada.

Uma série de teatros menores e mais modestos foi inaugurada na década de 1980 e início dos anos 1990 (já terminada, portanto, a chamada "era de ouro" do teatro brasileiro): Cacilda Becker, Flávio Império e Décio de Almeida Prado fazem parte dessa segunda geração. Ali, a arquitetura empregada não tinha a grandiosidade (nem a qualidade) dos teatros anteriores, o que não impediu que os dois primeiros espaços tenham se tornado importantes centros teatrais ao longo da história.

SOS teatro

Encravado no meio do Itaim Bibi, o Décio Almeida Prado --pequeno teatro anexo a uma escola municipal-- foi inteiramente reformado e, em 2007, reabriu como uma sala intimista, com uma programação voltada para a MPB. Por ali, se apresentaram neste período Yamandú Costa, André Mehmari, entre outros.

Quando janeiro pós-reabertura chegou, entretanto, descobriu-se que o telhado (que não fora contemplado na reforma) não aguentava a chuva. Espécie de corpo novo coberto com chapéu velho, o teatro fechou novamente e assim permanece, esperando a nova cobertura. Segundo a secretaria, ele deve ser reaberto até março de 2011. De todas as obras que os teatros têm pela frente, essa deve ser a mais barata, R$ 140 mil --já que se trata apenas da reparação de um erro.

Além do teatro no Itaim, o outro espaço fechado por tempo indeterminado é o teatro Flávio Império, na Cangaíba, zona leste. No ano passado, moradores da região montaram o blog SOS Flávio Império (sosflavioimperio.blogspot.com), pedindo a reabertura do mesmo. No blog estão fotos da manifestação --ou "cortejo"-- em prol do teatro e uma carta enviada ao secretário de Cultura em dezembro do ano passado: "... não toleramos mais assistir esse espetáculo de abandono em cartaz há mais de quatro anos".

Fred Chalub/Folhapress
Homens trabalham na reforma do teatro Alfredo Mesquita, em Santana, que deve ficar pronta em abril do ano que vem
Homens trabalham na reforma do teatro Alfredo Mesquita, em Santana, que deve ficar pronta em abril do ano que vem

O movimento é apoiado por 13 companhias da região (Atormentados, Fire, Idaí, Anonimamente, Cia Estável, Cia Extremos Atos, Circo do Balaio, Filhos da Dida, Periferia Invisível, Pombas Urbanas, Rodrigo Ciríaco, Tatudopia). Segundo representantes do coletivo, desde 2005 o teatro encontra-se fechado e as solicitações de reforma vêm sendo ignoradas.

Segundo o cronograma da prefeitura, a reforma do teatro, orçada em R$ 6,2 milhões, está prevista para terminar em dezembro de 2011. O plano é que o prédio mude sua orientação e se abra para o parque ecológico do Tietê.

Se o mesmo cronograma for cumprido à risca, em dezembro de 2011 a cidade também assistirá à entrega do teatro Arthur Azevedo, na Mooca. Vai ser a terceira intervenção no teatro, que passou por reformas importantes, em 1978 e em 1992 (depois de ficar quase quatro anos fechado devido ao péssimo estado de suas instalações elétricas). Agora, o projeto, orçado em R$ 5 milhões, prevê não apenas a modernização de alguns equipamentos mas também a construção de um anexo destinado a cursos de formação e reciclagem de cenotécnicos.

RECENTEMENTE REFORMADOS

1. Cacilda Becker
(R. Tito, 295, Lapa, zona oeste)
O teatro recebia uma média de 627 pessoas por mês; depois da reforma, são cerca de 1.200 espectadores mensais.

2. Zanoni Ferrite
(Av. Renata, 163, Vila Formosa, zona leste)
O auditório da biblioteca municipal Paulo Setúbal foi reformado para dar lugar à nova sala de espetáculos, que fica cheia nas tardes de sábado e domingo.

EM REFORMA

3. Martins Penna
(Lg. do Rosário, 20, Penha, zona leste)
O teatro está passando por reformas, que devem ser concluídas em março do próximo ano.

4. Alfredo Mesquita
(Av. Santos Dumont, 1.770, Santana, zona norte). Está em obras, com conclusão prevista para abril de 2011

FUNCIONANDO NORMALMENTE (segundo a prefeitura, serão reformados)

5. João Caetano
(R. Borges Lagoa, 650, V. Clementino, zona sul)

6. Arthur Azevedo
(Av. Paes de Barros, 955, Mooca, zona leste)

7. Paulo Eiró
(Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro, zona sul)

FECHADOS POR TEMPO INDETERMINADO

8. Flávio Império
(Rua Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaíba, zona leste)

9. Décio de Almeida Prado
(Rua Cojuba, 45, Itaim Bibi, zona oeste)

EM PROJETO

Teatro da Vila Prudente
(dentro do Parque Ecológico de Vila Prudente) O prédio, desenhado pelos arquitetos José Rollemberg e Leon Yajima, prevê o acesso principal por uma rampa, com a sala de espetáculos elevada e um saguão no piso inferior

 

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