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Mostra resgata herança artística chinesa e promove o novo
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LAURA RAGO
DE SÃO PAULO
"Comunidade de Gostos: Arte Contemporânea Chinesa desde 2000", em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP) até 27 de março, traz um recorte da produção recente do país com 48 obras. A exposição revela a busca de jovens artistas por uma inspiração na estética do passado e apresenta novos trabalhos que dialogam com o mundo atual, no processo de modernização e modernismo --onde tudo que é sólido desmancha no ar, frase consagrada pelo filósofo Marshall Berman.
Divulgação |
Obra de Dong Wensheng que integra a exposição "Comunidade de Gostos: Arte Contemporânea Chinesa desde 2000", em São Paulo |
Leia abaixo a entrevista com o curador da mostra, Xia Jifeng, 41:
sãopaulo - Em pleno mundo globalizado, qual é a especificidade da arte contemporânea chinesa?
Xia Jifeng - Para a arte, a "doença/enfermidade" da globalização é clara: as obras/trabalhos que você pode ver em São Paulo também podem ser vistos em Pequim ou Nova York, com os mesmos materiais, as mesmas estruturas, os mesmos conceitos etc. O que muda é o nome do artista e sua nacionalidade vistos nas bienais influentes pelo mundo todo. Não dá para escapar da globalização, mas alguns artistas chineses com o pensamento independente estão seguindo a trilha da estética chinesa tradicional e seu modo de vida. Aí está a especificidade.
E o que mudou na arte chinesa nos últimos dez anos?
Jifeng - A maior mudança é saber quem somos de forma mais clara do que antes. Estamos relendo nossa cultura tradicional e religiosa, a nossa forma de pensar, nossa realidade social, geográfica e geopolítica. Com base na reaprendizagem e na reflexão, a arte chinesa contemporânea se distancia gradativamente da imitação do mundo ocidental. Estamos produzindo exposições, como esta no MAC e outras tantas na Europa, para dialogar com o mundo em pé de igualdade.
Que novas linguagens foram incorporadas por esses artistas?
Jifeng - Os artistas que nasceram depois da "abertura e reforma" tem grande entusiasmo na exploração e no uso de novas linguagens. Um bom exemplo é o trabalho "Images of Mutual Undoing and Unity. Mating No.4", do artista Li Qing, que transita entre pintura, foto e performance. Sua arte fala sobre "verdade e ilusão", "realidade e memória", "existência e descuido", "dissolução e renascimento", numa relação delicada de oposição e dependência simultâneas.
Qual foi o critério usado para a seleção das obras?
Jifeng - Eu nunca seria curador de uma exposição como aquela de inauguração da Saatchi Gallery [em Londres, em outubro de 2008, que bateu recordes de visitação]. Com o título "A Revolução Continua", a mostra contemplava a geração das décadas de 1980 e 1990, que trabalha sobre a herança política, baseada no conceito do pop político chinês. Esses artistas que apresento aqui sabem a diferença entre a China e o resto do mundo. Seus conceitos e técnica podem até sofrer influência da história da arte mundial, mas o importante é que suas obras dialogam com a tradição e a realidade especificamente chinesas.
A exposição é organizada em ordem cronológica? Qual o percurso seguido pelo espectador?
Jifeng - As obras não estão ordenadas cronologicamente. O artista mais velho desta exposição nasceu em 1945 e o mais novo, em 1981. Se há uma rota a ser seguida pelo público, essa rota segue o traçado da filosofia e da estética tradicional chinesa, passando pela realidade "quente" e pela força vital que caracterizam a China contemporânea.
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