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Serafina

Protagonista de "A Separação", Peyman Moadi fala do sucesso no Irã

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Moças se aproximam num passo hesitante. Sorriem tímidas e curvam levemente a cabeça em sinal de cumprimento e respeito. Todas têm o cabelo coberto pelo "hijab", o véu obrigatório na República Islâmica do Irã. Algumas estendem papel e caneta em busca de um autógrafo. As mais ousadas pedem para tirar uma foto. Uma senhora se impõe na frente das mais novas e entrega um enorme buquê de flores.

O centro de tantas atenções é Peyman Moadi, 41, o ator principal de "A Separação", recém-chegado da cerimônia do Oscar, vitorioso. O longa levou o prêmio de melhor filme estrangeiro, mesma categoria em que foi premiado no Globo de Ouro, além do Urso de Ouro em Berlim.

Peyman também está cercado por homens, que querem abraço e beijo no rosto. Não há gritos ou empurrões, nem guarda-costas.

Adriana Komura
Ator Peyman Moyadi conhece o preço da fama pós-Oscar entre groupies comportadas e marmanjos beijoqueiros
Ator Peyman Moadi conhece o preço da fama pós-Oscar entre groupies comportadas e marmanjos beijoqueiros

A tietagem comportada ocorre durante coquetel (nada de álcool) no Modern Elahieh, templo do consumo em Teerã, onde ele tem uma revenda de relógios Rolex e Omega. O evento é promovido pela diretoria do shopping, que tenta pegar carona na fama do ator, agora celebridade planetária.

"Não tenho direito de dizer 'não' [ao assédio do público]. Preciso sorrir sempre, pois o sucesso do filme se deve somente aos espectadores", diz Peyman à Serafina, em conversa num café no mesmo shopping, quatro dias depois do coquetel.

Em "A Separação", ele interpreta um marido que renuncia ao sonho de morar no exterior com a mulher para cuidar do pai com Alzheimer.

O novo herói nacional retribui o carinho com sorrisos e palavras de cortesia faladas baixinho, mas aparenta cansaço. No curto momento entre uma foto e um abraço, ele às vezes arregala os olhos e puxa o ar, como se estivesse sem fôlego.

Veste calça cinza e pulôver preto. O BlackBerry fica sobre a mesa no modo silencioso. Peyman pede um capuccino antes de dissertar sobre o impacto de "A Separação" num Irã carente de ídolos populares.

"As pessoas daqui estavam precisando de glória, esperança e sucesso. Aquilo foi muito mais que um filme. Hoje as pessoas querem compartilhar toda essa emoção comigo."

EMOÇÃO E REALISMO

No meio da entrevista, o garçom traz um bolo de chocolate. Presente da mesa do lado. Ele agradece e troca algumas palavras com os desconhecidos. Então retoma a conversa.

O ator gesticula sem parar e não gosta de falar de política, mas estranha o nervosismo do regime depois da consagração de "A Separação": as mesmas autoridades que permitiram a filmagem e a divulgação no país agora acusam o longa de servir à visão ocidental anti-Irã.

"Ouvi todos os comentários possíveis no Ocidente, e quase ninguém está focado na política. As pessoas estão interessadas na emoção e no realismo. Não acho que sejam estúpidas o bastante para gostar do filme por ser antigoverno", exalta-se.

"E mesmo que se assuma a ideia de que é um filme político, não significa que seja contra o regime", avalia.

Peyman não é novato no cinema iraniano e sabe lidar com o governo. Antes de começar a atuar, há quatro anos, foi um roteirista bem-sucedido (escreveu cinco filmes na década passada) que sempre trabalhou conforme as regras. O prestígio atual lhe garante convites para atuar no exterior.

Ele tem até passaporte americano, por ter nascido em Nova York quando seu pai estudava direito nos Estados Unidos, mas não pretende sair do Irã. "São as pessoas daqui que me inspiram, não as de Paris."

Casado há 11 anos, duas vezes pai (uma filha de sete anos e um filho de sete meses), tem raízes fincadas em Teerã, onde agora prepara seu primeiro trabalho como diretor.

Divide o restante do tempo entre a leitura dos muitos roteiros recebidos e a gestão da loja de relógios. As manhãs de sexta são reservadas para a pelada com os amigos. Depois do cinema, futebol é sua grande paixão. "Os brasileiros que me perdoem mas gosto mesmo é da Argentina e do Maradona."

Mas o Brasil também mora no coração do ator, fruto da admiração por Ayrton Senna (1960-1994) e por filmes como "Carandiru" (2003) e "Tropa de Elite" (2007).

Peyman se diverte ao saber que muitas brasileiras o acham bonito. "É bom saber disso, principalmente num país onde imagino existir tanta mulher linda. Mas só quero me expressar e tocar as pessoas com meu trabalho", desconversa.

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