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Serafina

Diretora de criação da Gucci detesta conversas em que só se fala de roupas

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Quando está de folga, Frida Giannini sai de seu escritório em Roma e dirige em alta velocidade rumo à cidade litorânea de Sabaudia, onde montou um refúgio para ela e seus amigos. No banco de trás do possante, Gunner, um pastor alemão "gigante", o bichinho de estimação nada afrescalhado de uma das designers italianas mais influentes do mundo.

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"Infelizmente, é verdade, gosto de velocidade", diz, com sorrisinho maroto. "Mas não estou sempre na estrada. Às vezes, deixo um motorista cuidar de mim e também enfrento o trânsito, como todo mundo. Tenho até um Smart [minicarro muito popular na Europa]", diverte-se.

Descrevê-la como alta, magra, loira e bronzeada poderia fazer crer que Frida é parecida com uma de suas colegas da Semana de Moda de Milão: a estilista Donatella Versace. Total engano. A diretora criativa da Gucci desde 2006 se veste de modo discreto, fala rápido, tem olhar firme, jeito inquieto e senta-se na poltrona não como uma lânguida, embora poderosa, imperatriz do estilo, mas com a pose de uma presidente fashion.

"Sou uma chefe durona", diz, dias depois de apresentar sua coleção para o verão 2013 em Milão. "Gosto de rir, eu e minha equipe contamos piadas, cantamos e dançamos juntos, mas, quando é preciso tomar as rédeas da situação, a responsabilidade é minha", conta, séria.

Frida ganhou fama de mulher forte e independente com muita atitude. Conquistou a crítica especializada que torceu o nariz para ela quando assumiu as coleções da Gucci, tempos depois da saída de Tom Ford.

NAMORO ABERTO

No ano passado, assumiu seu relacionamento de alguns anos com Patrizio di Marco, o CEO da Gucci. Ela prefere manter discrição sobre o assunto, mas chama o executivo de seu "namorado" e diz que ele é uma de suas companhias constantes nas escapadas à beira-mar.

O casal informou François Henri Pinault -dono do grupo PPR, que comprou a Gucci- sobre o namoro e, num ato corajoso, se dispôs a abrir mão de seus cargos na empresa caso o chefão julgasse conveniente. Pinault abençoou os pombinhos.

A loira aventureira, que briga pelo amor e dirige perigosamente, tem ainda uma outra paixão: a música. Sua já lendária coleção de vinis, herdada de um tio morto prematuramente, ultrapassa os 8.000 títulos. "Antes, eu tinha mais tempo para garimpar, entrava em sebos e lojas especializadas onde quer que eu fosse. Não consigo mais fazer isso, mas agora as pessoas sabem da coleção e acabam me trazendo coisas ótimas."

Quem imaginou uma coleção de música clássica ou jazz se enganou. A gata romana curte títulos dos anos 1970 e 1980, sobretudo disco music. "É tudo bem pop. Mas também gosto de outros estilos, aliás, aprecio música brasileira. Adoro a Bebel Gilberto", afirma.

Frida nasceu em Roma, em 1972, numa família de intelectuais. Sua mãe era professora de arte e seu pai, arquiteto.

A única ligação com a moda era a avó, dona de uma butique em Roma. "A loja era apenas um negócio. Minha avó era uma compradora, não se interessava por design. Já eu sempre gostei de desenhar", conta.

No final da adolescência, resolveu estudar moda, contrariando a família. Os pais preferiam que ela fosse arquiteta, dado o talento para o desenho. "Eles achavam que eu estava embarcando numa área instável e sem futuro." Bom, eles estavam errados.

Ela se formou e trabalhou com Karl Lagerfeld e para a Fendi. Entrou na Gucci pela porta da frente: o departamento de acessórios. A designer dedica um olhar especial para esse setor, um dos mais lucrativos da grife. Quando pergunto quais as peças preferidas dela na última coleção, ela escolhe as bolsas.

Os últimos anos foram especialmente bons para a carreira da designer, mesmo com a crise que vem assolando a Europa e que afetou muito a Itália.
Tendências como o "color blocking" e o "art déco" foram exploradas por muitas grifes, mas a interpretação da Gucci para essas febres da hora ganharam mais páginas de revista do que qualquer outra.

"Quando olho para o que eu fiz, vejo evolução. Não acerto sempre, mas ao menos arrisco, ao contrário de alguns de meus colegas, que fazem as mesmas coisas coleção após coleção", alfineta, sem citar nomes.

A inspiração vem de viagens, de livros, de museus e de seus momentos solitários. Nesta temporada, revisitou as fotos de Richard Avedon e Paolo
Barbieri para criar roupas esculturais, que ela classifica como puristas e aristocráticas.

SEM VULGARIDADE

Das beldades icônicas mostradas nessas imagens de referência como Marisa Berenson (atriz, neta de Elsa Schiaparelli e uma das musas dos anos 1970), Frida tirou ideias para vestir agora a tão falada "mulher Gucci", poderosa, com olhar globalizado e o pé fincado no estilo italiano.

Esse estilo é sem dúvida sexy, mas não vulgar. Frida, aliás, lamenta a fama que a Itália ganhou durante a "era Berlusconi", graças ao visual das amantes do premiê, que tiveram suas fotos espalhadas mundo afora. "Foi um dos períodos mais lamentáveis de nossa história, nosso país não merece a vergonha que ele nos fez passar."

A gata-Gucci do momento, aliás, é a imagem da antivulgaridade: Charlotte Casiraghi, da família real de Mônaco, neta de Grace Kelly. Mas Frida esclarece que não quer fugir do vulgar para criar imagens de novas princesinhas. "Charlotte é uma mulher bonita e estilosa, mas também é dinâmica, esportiva, monta cavalos [uma das outras paixões da estilista]. Essa é a imagem de aristocracia que me interessa."

Frida diz que as "jet setters" brasileiras, grandes consumidoras da marca, também fazem parte desse universo. A estilista pretende vir ao Brasil, uma das novas prioridades de mercado da empresa -que acaba de abrir sua primeira loja totalmente dedicada ao público masculino, no shopping JK, em São Paulo. "As brasileiras sempre me surpreendem, têm um jeito especial de montar os looks e combinar os acessórios", analisa.

Italiana apaixonada, ela só tem uma crítica ao povo de seu país, mais especificamente ao povo fashionista de seu país. "Os italianos se ligam em moda até demais. Estou sempre dizendo para a minha equipe que eles precisam se interessar por outras coisas. Se vou a um jantar ou a um bar e as pessoas só falam de roupas, acho simplesmente insuportável."

Anotado, comandante.

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