"O camisa 10 genial não existe mais", diz Rivelino, tricampeão com a seleção em 1970
Às vésperas da Copa de 70, Rivelino era tido como um "reserva de ouro" da seleção. Com a saída de João Saldanha (1917-1990) e a chegada de Zagallo como técnico, contudo, o jogador do Corinthians passou a ser selecionado mais vezes e se tornou peça fundamental da seleção tricampeã.
Almeida Rocha/Folha Imagem | ||
Rivelino, à esquerda, segura a Taça da Copa do Mundo junto de outros campeões pelo Brasil |
Momento inesquecível. Todos os momentos daquela Copa foram especiais, mas o momento do qual eu realmente me arrepio de falar e que me emociona muito foi aquele último lance, em que o Carlos Alberto fez o quarto gol contra a Itália. Demos uns 12, 13 toques seguidos, a jogada começou com o Gérson, que deu para o Piazza e que passou para o Clodoaldo. O Clodoaldo deu uma de Garrincha (1933-1983), driblou uns quatro italianos e passou pra mim. O Jairzinho passou nas minhas costas, meti a bola pra ele, que passou pro Pelé, e então pro Carlos Alberto, que fez o gol. Foi o ápice da seleção.
Momento para esquecer. Quando eu me machuquei, contra a Romênia, e fiquei meio esquisito, achei que não ia jogar mais. Mas eu pensei, "pô, tenho que jogar, me preparei tanto". Graças a Deus deu tudo certo, e foi um momento muito curto. Joguei com a bota de esparadrapo e correu tudo bem.
Concentração. Era companheiro de todos. Eu estava sempre com o Edu, o Zé Maria, o Ado, Marco Antônio. Eu estava mais no grupo da molecada, dos mais jovens. Não tinha muito o que fazer na concentração, a gente treinava de manhã e à tarde. A gente almoçava e ia pra cama, e já acordávamos com um sino na nossa cabeça, do preparador físico. Foi duro, mas foi gratificante.
Quem pode o ser o Rivelino de 2014? Cada um tem a sua característica, e hoje é difícil ter um jogador assim parecido. O 10, o meia, não existe mais no futebol brasileiro. O gênio, o jogador que pensa rápido, que dá o passe diferenciado, infelizmente, não existe mais.
O que faz hoje? Jogar bola eu parei. Tenho a minha escolinha de futebol e hoje trabalho na TV Cultura, como comentarista de futebol.
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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev