Fundação Ford diz que Belo Monte passa pelo debate com os índios
Há 50 anos, a Fundação Ford patrocina ONGs no Brasil. Atualmente, seu trabalho está focado em dois segmentos -- o fomento ao debate em torno dos direitos de comunidades tradicionais e a criação de cidades socialmente inclusivas. O presidente mundial da Fundação Ford, Luis Ubiñas, concedeu entrevista exclusiva à Folha durante a Rio+20 em que atentou para o debate em torno da construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu.
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Folha: Como o trabalho da Fundação Ford é desenvolvido no Brasil?
Luiz Ubiñas: A Fundação Ford está no Brasil há 50 anos e nosso trabalho é em prol da inclusão social. Nós financiamos uma grande gama entidades e ONGs em todo o país. Queremos ajudar o Brasil a vir a ser um país mais inclusivo, a entender que os direitos das comunidades indígenas e afro descendentes, por exemplo, precisam ser ainda mais protegidos do que estão sendo agora. Em vários sentidos, o Brasil tem um modelo de leis errado em relação aos índios. Nosso trabalho é garantir que as vozes de gente como os indígenas seja ouvida. Nós fornecemos a infraestrutura que eles precisam para ser vistos e ouvidos. Acreditamos que quando o país é inclusivo, ele cresce mais rapidamente e consegue estabilizar melhor sua democracia.
Temos hoje no Brasil uma grande discussão sobre a hidrelétrica de Belo Monte. De um lado os índios querem garantir seus direitos sobre as terras. De outro, há os interesses soberanos de o país em desenvolver sua economia. Como conciliar as duas necessidades?
É muito importante entender que há discussões em determinadas instâncias e as políticas soberanas nacionais. A politica nacional precisa ser inclusiva, precisa pensar nas necessidades dos indígenas, e não ser substituída por um prédio ou um tema específico. É preciso que a voz de todos seja ouvida. O diálogo nacional sobre Belo Monte passa também pela voz dos índios.
O senhor está dizendo então que a Fundação Ford apenas fomenta o debate e não toma posições?
Nosso trabalho é fornecer os meios para que as organizações tenham a habilidade de se juntar e de fato discutir seus problemas. Nós acreditamos que ter esse tipo de discussão é melhor para todos os lados.
Um dos temas dos quais a Fundação Ford trata são as chamadas cidades inclusivas. O senhor poderia explicar o que seria isso?
Há 2 bilhões de pessoas vivendo nas cidades. Nos próximos trinta anos, teremos milhares de pessoas chegando diariamente em centros urbanos como o Rio e São Paulo. A pergunta é: como fazer dessas cidades locais mais habitáveis? Se você já sabe que a cidade vai receber um grande contingente de pessoas porque não se planejar desde já? Já dá para preparar o lugar que vai receber essas pessoas, começar a pensar onde as novas escolas serão erguidas, ou como será o sistema de saúde. É do nosso desejo que essas pessoas venham para cá desinformadas e sem estrutura? Ou será que queremos que elas sejam uma força de trabalho que ajude a cidade a se desenvolver?
Como as cidades inclusivas podem ser efetivas na economia?
Cidades inclusivas crescem mais rapidamente. A ironia é que em geral vemos os favelados e as pessoas pobres como um problema. A verdade é que eles não são. Eles são oportunidade, força de trabalho, novos consumidores. São pessoas que, caso recebam o tratamento certo, irão comprar mais jornal, mais água ou tijolos para construir suas casas. Quando pararmos de pensar nessas pessoas como problema acharemos a solução.
O Brasil tem déficits históricos, como falta de infraestrutura e educação. Nesse sentido estamos muito atrás de Coreia do Sul, Índia e China, por exemplo. Como seguir em frente sem transpor essa barreira?
Uma coisa que precisa ser dita sobre a Coreia do Sul é que 90% da população tem acesso à internet de banda larga. O que acontece quando quase todo mundo tem acesso à internet? Toda energia criativa pode ser canalizada para questões centrais da economia. Foi dessa inclusão que surgiu o crescimento econômico de Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong, Taiwan. Em todos esses locais houve grande acesso da população à tecnologia. Mas os governos desses países fizeram sua parte, encorajando o desenvolvimento com políticas e práticas concretas.
O senhor está dizendo que os governos têm grande responsabilidade nessa questão do acesso?
Eu acho que é uma responsabilidade que tem que ser compartilhada. Governo e iniciativa privada precisam juntos entender os benefícios para todos da inclusão tecnológica e do acesso às ferramentas disponíveis. O Brasil precisa olhar para os próximos dez anos e pensar como fazer para incluir a parte da população que nos últimos dez anos não teve acesso a nada disso.
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