Após segundo vazamento, Anglo American paralisa atividades por 90 dias

Dano provocado teria sido mínimo e será totalmente mitigado, diz presidente da empresa

Instalações da mineradora Anglo American em Conceição do Mato Dentro (MG), durante obras do mineroduto Minas-Rio em 2014
Instalações da mineradora Anglo American em Conceição do Mato Dentro (MG), durante obras do mineroduto Minas-Rio em 2014 - Fabio Braga - 20.nov.2014/Folhapress
Taís Hirata
São Paulo

A mineradora Anglo American vai paralisar por 90 dias as atividades de seu mineroduto em Santo Antônio do Grama (a 230 km de Belo Horizonte) para checar se as falhas da linha são estruturais, afirmou o presidente da empresa, Ruben Fernandes, nesta terça-feira (3). 

A empresa registrou, na semana passada, o segundo vazamento em menos de um mês no mineroduto. O primeiro ocorreu em 12 de março, quando 300 toneladas de minério atingiram o rio e interromperam o fornecimento de água na cidade. No segundo vazamento, foram 174 toneladas, segundo a mineradora. 

O executivo minimizou o impacto ambiental do vazamento, afirmando que o dano provocado teria sido mínimo e será totalmente mitigado em até 45 dias. 

"As causas ainda estão sendo determinadas. Antes [do segundo vazamento], não havia nenhum indício de que o problema pudesse ser sistêmico. Agora, vamos fazer essa checagem, para avaliar se é uma falha estrutural", disse ele, em um evento do banco Bradesco nesta terça, em São Paulo. 

A recuperação ambiental deverá ocorrer em um prazo de 30 a 45 dias, segundo ele. Até agora, foram investidos cerca de R$ 6 milhões nesse processo, mas o valor poderá aumentar, a depender do resultado dessa análise que será feita nos próximos meses

O executivo ainda disse que, por se tratar de um vazamento de minério de ferro, e não de rejeitos, como no caso da Samarco, em 2015, o impacto é muito menor. 

A estimativa é que cerca de 3 milhões de toneladas deixem de ser comercializadas por conta da paralisação nesses 90 dias. Ainda não há um estudo do impacto no faturamento da companhia. 

A expansão do mineroduto, que obteve licença em janeiro deste ano, não deverá ser afetada, disse ele. "São processos paralelos."

A projeção é que o projeto seja totalmente aprovado —com todas as licenças ambientais— até 2019. Em 2021, a produção deverá chegar a 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro, contra atuais 17 milhões. 

A Secretaria de Meio Ambiente de Minas determinou nesta quarta uma multa de R$ 125,5 milhões à empresa pelo primeiro vazamento, que, segundo a pasta, "causou poluição e degradação ambiental que resultou em dano aos recursos hídricos". A empresa disse que ainda analisa o auto de infração.    

11 DE SETEMBRO

No debate, do qual participaram Wilfred Bruijn, diretor-executivo da Usiminas, e Eduardo Ledsham, presidente da Bahia Mineração, os executivos afirmaram que o setor precisará se recuperar de uma crise de imagem provocada pelos acidentes envolvendo mineradoras.

“[O vazamento da] Samarco foi o 11 de Setembro da mineração. Todas as empresas estão se revendo. [É preciso] esse trabalho para mostrar à sociedade do beneficio da mineração”, disse Ledsham

O uso de barragens tradicionais —tal como as da —Samarco está sendo abandonado, afirmou o executivo da Usiminas, que criticou a morosidade do processo. 

“Vamos partir para outra tecnologia, em que o rejeito é filtrado e colocado em pilhas, e com outra vantagem que a água será recirculada. É uma tecnologia já antiga, mas com custo de operação e investimento maior, mas enxergamos que não há outra solução agora. Isso, [tentar fazer barragens], em audiências públicas e no licenciamento ambiental, seria um processo tão longo que não chegaria ao fim.” 

O presidente da Anglo American foi mais cauteloso: disse que o licenciamento ambiental é um processo "complexo, especialmente em Minas Gerais" e pediu mais previsibilidade.

"Depois do grande evento de 2015 [o rompimento das barragens da Samarco], a sociedade ficou sensível, e não é por menos. O importante para o empresário é previsibilidade. Qual prazo colocamos no plano de negócios? Um ano, dez, não importa, o importa é a previsibilidade", disse.
  

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