Hydro rebate contaminação no Pará e anuncia fundo de R$ 100 mi para moradores

Laudos do Instituto Evandro Chagas apontavam metais, como chumbo, o que comprovaria transbordamento

Fabiano Maisonnave
Manaus

Suspeita de ter provocado um acidente ambiental em larga escala em Barcarena (a cerca de 100 km de Belém), a empresa norueguesa Hydro Alunorte lançou uma contraofensiva para rebater as acusações e melhorar a relação com as comunidades vizinhas à sua fábrica.

Em coletiva na manhã desta segunda-feira (9) na capital paraense, a empresa mostrou as conclusões de uma força-tarefa interna e de estudo encomendado à consultora ambiental privada SGW, de São Paulo.

Ambas confirmaram a posição da empresa de que não houve transbordamento para comunidades vizinhas dos depósitos de resíduos de bauxita durante os dias 16 e 17 de fevereiro, quando uma forte chuva inundou parte do pátio da empresa e do entorno da maior fábrica mundial de alumina (matéria-prima do alumínio).

A Hydro voltou a admitir o lançamento ao rio Pará de águas não tratadas de chuva acumuladas no pátio da empresa, embora afirme que tenha sido feito de forma controlada por causa da chuva forte, sem maiores impactos ambientais.

Para evitar novos lançamentos de água não tratada, a empresa disse que investirá R$ 200 milhões para aumentar a capacidade de processamento.

Em inspeções realizadas logo após a chuva, tanto o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) quanto a Semas (Secretaria de de Estado de Meio Ambiente e de Sustentabilidade) descartaram o transbordamento, corroborando a posição da Hydro, embora tenham multado a empresa por falta de licenciamento e outros problemas.

Por outro lado, contrariando parecer dos órgãos ambientais, laudos técnicos do Instituto Evandro Chagas (IEC), ligado ao Ministério da Saúde, apontam a incidência de metais, como chumbo, acima do permitido pela lei, o que comprovaria o transbordamento. 

Durante a coletiva, a SGW colocou em dúvida as conclusões dos laudos do IEC sobre a contaminação por metais pesados. Em análise preliminar de solo e da água dos rios mais próximos (Pará e Murucupi) e de três poços em comunidades vizinhas, a empresa contratada pela Hydro encontrou apenas alumínio, fósforo e antimônio acima do estabelecido pela legislação brasileira.

Segundo a SGW, o mais provável que o alumínio seja de origem natural, enquanto o fósforo possa ter origem no esgoto —a cidade de Barcarena tem um dos piores saneamentos do país. Sobre o antimônio, afirmou que o desvio é irrisório.

Na semana passada, a Hydro entrou com uma ação pedindo que o relatório do IEC seja desconsiderado como prova jurídica por conter erros graves e por não ter o credenciamento do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) —na prática um selo de qualidade para estudos desse tipo.

Em nota, o IEC admitiu que não está credenciado no Inmetro, mas que o processo está em tramitação e que isso não invalida as conclusões.

"A tentativa de desqualificar a ciência produzida pelo IEC é também uma tentativa de desqualificar a ciência brasileira”, afirmou o instituto.  

Iniciativa Barcarena

Durante a coletiva, o vice-presidente executivo da Hydro, Eivind Kallevik, anunciou a criação da Iniciativa Barcarena Sustentável, que terá R$ 100 milhões para investir em melhorias no município ao longo de dez anos.

Segundo a empresa, será uma entidade com autonomia e organizações próprias com com a finalidade de melhorar a qualidade de vida da região. 

Barcarena tem o pior sistema de saneamento do país, de acordo com ranking da Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) que inclui 231 cidades com mais de 100 mil habitantes. 

Maior empresa do Pará, a Hydro Alunorte mantém cerca de 2.000 empregos diretos. A empresa pertencia à Vale e foi adquirida pelos noruegueses em 2011. É o maior investimento privado do país escandinavo no exterior.

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