Descrição de chapéu desmatamento

Desmatamento na Amazônia bate recorde pelo 4º mês seguido

Alertas de desmate de junho foram de 1.061 km quadrados, os maiores do histórico recente do Inpe

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São Paulo

Os alertas de desmatamento na Amazônia voltaram a bater recorde, pelo quarto mês consecutivo, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A derrubada de mata em junho chegou a 1.061,88 km², aumento de desmate de 2,7%, em relação ao mesmo mês de 2020, e o maior valor registrado na história recente do programa Deter, com início em 2016.

É o segundo mês seguido com valores de desmate acima de mil quilômetros quadrados.

O Deter é usado para auxiliar organismos ambientais na fiscalização de ilícitos. O programa, porém, também pode ser usado para observar tendências de desmate.

Desde março, os alertas mensais do programa vêm sendo recordes, sempre comparados ao mesmo mês de anos anteriores, desde 2016. Considerando só esse curto período de meses, foram derrubados 3.401 km² de Amazônia. O desmatamento em todo 2012, por exemplo, foi de 4.571 km².

Os meses de julho, agosto e setembro, parte do período seco, costumam ser críticos para a Amazônia por concentrarem intensa atividade de desmatamento e queimadas.

Dessa forma, o país chega a esse período com números já elevados de devastação.

Além dos números altos de desmate recente, junho também registrou o maior número de queimadas desde 2007. O fogo costuma ser usado para limpar áreas após a derrubada da vegetação, sendo, assim, intimamente relacionado ao desmate.

Com os aumentos de destamento, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) irá apostar, mais uma vez, na contestada ação militar na Amazônia para tentar conter o desmate.

No fim de junho, Bolsonaro instituiu uma nova GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que vai até 31 de agosto, para ações do Exército no bioma. O presidente também proibiu queimadas por 120 dias.

Os militares, a partir de GLOs, atuam na Amazônia desde o primeiro ano do governo Bolsonaro e são a aposta do governo para conter as altas de queimadas e desmate. A presença militar, porém, não tem conseguido diminuir a devastação no bioma.

Os dois primeiros anos do governo Bolsonaro foram marcados pela explosão do desmatamento na Amazônia, inclusive em meses com presença dos militares na região.

O governo também, desde o seu início, minimizou o problema da devastação na Amazônia, chegando a afirmar que o bioma já tem desmate relativo zero e a dizer, sem provas, que há uma suposta indústria da multa ambiental.

Além disso, Bolsonaro abertamente apoia projetos que podem ter alto impacto na preservação da Amazônia, como mineração em terras indígenas —que estão entre as áreas com menores taxas de desmate no bioma. O presidente também fala abertamente em reduzir áreas de proteção ambiental.

Pesquisadores, já no início do governo atual, apontavam para o risco de que o desmate, que já vinha com tendências de aumento desde 2012, crescesse ainda mais por uma possível sensação de impunidade e de apoio atrelado ao discurso de Bolsonaro e do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. O ex-ministro deixou o ministério em meio a um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por operação da Polícia Federal que mira suposto favorecimento, por parte de Salles, a empresários do setor de madeiras por meio da modificação de regras com o objetivo de regularizar cargas apreendidas no exterior.

Repercussão

Em nota, a ONG Greenpeace afirma que "o governo federal insiste em manter uma operação cara e comprovadamente ineficaz em lidar com o problema, enviando as tropas militares através da GLO". A organização também diz que "esse tipo de operação vem, há dois anos, mobilizando recursos públicos muitas vezes superiores ao orçamento anual do Ibama para fiscalização e um grande número de militares sem efetividade na prevenção do desmatamento e queimadas".

Além dos dados da Amazônia, a ONG WWF-Brasil destaca o crescimento de cerca de 17% no desmate no cerrado.

"O governo Bolsonaro perdeu duas décadas de combate ao desmatamento em dois anos. Provavelmente precisaremos de outras duas para recuperar o legado desse desmonte", afirma, na nota, Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil. "A destruição da Amazônia e do Cerrado coloca em risco a segurança hídrica do país e, por consequência, nossa segurança energética, com sérias consequências para toda a economia."

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