Descrição de chapéu Folha ESG sustentabilidade

ESG virou competição e isso não faz sentido, diz economista ambiental

Para Pavan Sukhdev, do WWF, não há desenvolvimento sustentável com o modelo atual de economia

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São Paulo

O termo ESG (sigla em inglês para definir práticas de governança ambiental e social), que recentemente virou queridinho entre as empresas, tornou-se também uma moeda de competição, com centenas de formas de avaliação diferentes.

"‘Meu ESG é melhor que o seu’. Não é por aí, gente", diz o indiano Pavan Sukhdev, referência global em economia verde e finanças internacionais, e presidente do WWF (World Wide Fund for Nature), uma das principais ONGs de temas ambientais.

Sukhdev participou, na noite desta quarta-feira (8), da última conferência da temporada atual (batizada de Era da Reconexão) do Fronteiras do Pensamento. A sua fala foi transmitida online para os participantes do ciclo de palestras.

Homem com camisa e blazer posa em frente a plantas verdes
Pavan Sukhdev, economista ambiental indiano, convidado do Fronteiras do Pensamento - WWF/Divulgação

"Sabemos que se a Moody’s e a Standard & Poor’s, as maiores agências de crédito do mundo, trabalhassem competindo uma contra a outra, aconteceria que alguém com crédito ruim em uma teria crédito ótimo em outra. Isso não ocorre", exemplifica o economista ambiental, ressaltando que, logicamente, pode haver pequenas diferenças nessas análises de crédito.

Sukhdev afirma que é possível encontrar mais de 600 metodologias diferentes de ESG. Segundo o economista, não há consistência entre o que as empresas avaliam, como elas avaliam, o que elas incluem ou não nas análises.

"Tudo é diferente. Essa não pode ser a forma de avaliarmos empresas", afirma Sukhdev, que, continuando com a referência ao mercado financeiro, afirma que, se as classificações de crédito de empresas fossem feitas da mesma forma, não haveria um sistema financeiro ou um mercado de crédito.

"Infelizmente, estamos enfrentando em sustentabilidade algo que não temos no crédito. Precisamos seguir esse caminho. Precisamos chegar ao ponto em que ESG não seja mais só uma competição, mas uma forma de colaboração. Precisamos de uma base comum", afirma.

Para ele, porém, já houve uma evolução no assunto durante a COP26, Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, que ocorreu em novembro, em Glasgow, no Reino Unido.

De acordo com o especialista, empresas sustentáveis precisam ter um impacto positivo nos capitais financeiro (para seus acionistas), natural (para o planeta), social (para a sociedade em que opera) e humano (para os funcionários). E, para isso, é necessário mudar as formas como a performance é avaliada, diz.

O problema, na sua visão, é que o cenário econômico atual não traz nenhuma esperança de que a humanidade possa chegar ao que se chama de desenvolvimento sustentável, alerta Sukhdev —estaríamos agora em uma economia em queda livre, caminhando em direção aos limites planetários.

O economista usa uma comparação clássica e fala que precisamos pensar como se fôssemos tripulantes de uma espaçonave.

"Estamos disparando contra os limites planetários e precisamos fazer a transição para uma economia que seja pensada como se tivéssemos limites, como uma espaçonave. Como se consumo, produção e postura, de fato, impactassem na segurança e integridade da nossa espaçonave", explica.

"Uma economia que reconheça a finitude de nossos recursos, assim como o dano que podemos causar se não tomarmos o cuidado de viver em harmonia com a natureza."

Sukhdev, que chama o Brasil de capital global do capital natural, afirma que não medimos o quanto uma companhia afeta a saúde humana ou o ambiente.

"É certo isso? Precisamos levar em conta todos os capitais envolvidos, como bem-estar, nossa saúde, intelecto e a natureza", resume.

O foco, por exemplo, em taxar mais o mau comportamento, ou seja, as diversas formas de poluição, ao mesmo tempo em que aplicamos menos impostos para o bom comportamento, afirma Sukhdev, pode ajudar a levar a uma nova forma de economia —ele a chama de "economia de permanência".

"Uma economia que entrega bem-estar ao mesmo tempo que dá lucro para as corporações", define.

Segundo Sukhdev, na Terra é preciso construir valor sem destruir as outras diversas formas de capital. "Não podemos seguir poluindo como se os recursos fossem ilimitados, como se nossos impactos fossem irrelevantes", conclui.

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