Covid-19 fez pessoas reconhecerem problema global pela primeira vez, diz Jared Diamond

Em fala que abriu o Fronteiras do Pensamento, biólogo abordou possíveis impactos da pandemia no futuro da humanidade

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São Luís

A Covid-19 pode nos ajudar a formular decisões globais para resolver os maiores problemas da humanidade, afirmou Jared Diamond, biólogo e professor da Ucla (Universidade da Califórnia em Los Angeles), na conferência de abertura do ciclo Fronteiras do Pensamento.

Para ele, a pandemia de coronavírus não está entre os três maiores desafios da espécie humana, que seriam mudança climática, desigualdade social e uso não sustentável de recursos naturais. No entanto, a Covid-19 forçou os governos de todos os países a tomarem decisões em conjunto e isso pode ser um exemplo das ações que também precisam ser realizadas no combate aos três problemas elencados por Diamond.

O professor explica que esses fatores podem dizimar a humanidade, capacidade essa que o coronavírus não tem. “A Covid-19 é um problema menor quando comparada aos três sérios problemas globais com os quais nós deveríamos nos preocupar e que matam as pessoas lenta e silenciosamente e que ameaçam destruir nossas economias para sempre.”

homem branco de barba e cabelos brancos calvo usando camisa e paletó de frente
O biólogo americano Jared Diamond - Reed Hutchinson/Divulgação

Ele também afirma que a pandemia de Sars-CoV-2 não deve ser enxergada como a pior epidemia pela qual a humanidade já passou. O biólogo menciona que a taxa de mortalidade pela Covid-19 é, em média, de 2%, baixa quando comparada com outras enfermidades como o ebola que, segundo o professor, mata 70% das pessoas que são infectadas.

Mesmo assim, ele afirma ser necessário se preparar melhor para situações emergenciais no futuro, como outras pandemias que possam acontecer. Uma medida eficiente, diz Diamond, seria o fechamento de mercados de animais selvagens já que, normalmente, novas doenças são contraídas pelos humanos ao terem contato com esses animais.

Comparada a todas as outras epidemias pelas quais a humanidade já passou, a atual tem duas particularidades, apontou Diamond.

Primeiro, seu caráter efetivamente global, devido à capacidade de locomoção na atualidade; e depois, o fato de que não existia nenhuma população imune ao Sars-CoV-2 no mundo. Em ocasiões anteriores, disse ele, sempre havia ao menos um povo que já era imune a determinada doença.

Diamond ganhou notoriedade internacional com o livro “Armas, Germes e Aço", no qual explica que a resistência prévia de europeus a determinadas doenças foi essencial para que dominassem outras populações, como a dos nativos americanos, que ainda não tinham sido infectadas por esses patógenos. Ele afirmou durante a conferência que esses micróbios tiveram um papel essencial na história da humanidade.

Para Diamond, os seres humanos já sabem que ações tomar para lidar com a mudança climática. Ele cita, por exemplo, a redução no consumo de gases que causam o efeito estufa por meio da diminuição do consumo de energia e também a superação dos combustíveis fósseis em favor de fontes sustentáveis, como energia eólica.

Segundo o professor, será por meio de ações como essas que o futuro da humanidade será decidido. “Se tomarmos boas decisões, se consumirmos menos energia, se usarmos formas sustentáveis de produção de energia, se colhermos sustentavelmente nossos peixes e florestas e se nos esforçamos para tornar países pobres mais ricos, então, daqui a 30 anos, o mundo pode estar mais sustentável.”

O Fronteiras do Pensamento é um ciclo de conferências que traz importantes nomes para pensar a atualidade. Entre outros participantes da edição deste ano, estão a escritora Margaret Atwood, o historiador Yuval Noah Harari e o neurocientista Carl Hart.


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