Ativistas ambientais ocupam escolas e universidades em Lisboa

Na esteira da COP27, estudantes buscam chamar a atenção para a gravidade da emergência climática

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Lisboa

Após mais de uma semana com ocupações em escolas e universidades de Lisboa, dezenas de jovens ativistas da causa ambiental se reuniram para protestar na sede do ministério da Economia de Portugal. O grupo reivindica a demissão do titular da pasta, António Costa e Silva, que fez carreira como executivo do setor de petróleo.

Na tarde desta terça-feira (15), alguns dos manifestantes colaram as mãos no chão e se recusaram a sair do prédio, no centro da capital portuguesa. A polícia foi chamada e conseguiu remover os estudantes, que foram levados para uma delegacia.

Estudante protesta pelo fim dos combustíveis fósseis no Liceu Camões, escola ocupada em Lisboa, na segunda (14) - Pedro Nunes - 14.nov.2022/Reuters

A ação ocorreu pouco após os estudantes terem sido recebidos pelo ministro para uma reunião, marcada após ocupações em algumas das escolas e faculdades mais tradicionais de Lisboa.

Em declarações após o episódio, António Costa e Silva se disse favorável à luta contra o aquecimento global e ao diálogo com os jovens, mas afirmou que não vai se demitir.

"De certeza que não me vou demitir, quem tem essa palavra é o primeiro-ministro", afirmou. Segundo ele, o premiê socialista, António Costa, está "muito tranquilo com a situação".

O ministro da Economia afirmou que estava preparado para ou ir as propostas dos manifestantes, mas que só ouviu pedidos de demissão, justificados por sua ligação com a petrolífera Partex, da qual foi presidente até 2021.

"Centraram-se no meu passado e no meu percurso", afirmou Costa e Silva, que se diz favorável ao uso de energias renováveis e à transição energética.

Em meio à pressão, outras figuras do governo vêm defendendo Costa e Silva. Caso do ministro das infraestruturas, Pedro Nuno Santos.

"O ministro da Economia tem dado um grande apoio ao setor ferroviário, o que mostra muito bem também a sua vontade de aproveitar a transição climática para desenvolver a nossa economia, fazermos coisas mais sustentáveis".

As ações em Portugal começaram em 7 de novembro e se juntam a outras ocupações e atos de desobediência civil em todo o mundo, aproveitando a mobilização para as questões climáticas por conta da realização da COP27 (conferência do clima da ONU), que acontece até o fim dessa semana no Egito.

Os policiais já haviam sido mobilizados para acabar com uma ocupação, na última sexta-feira (11), na faculdade de letras da Universidade de Lisboa. Os quatro jovens retirados pela polícia já foram apresentados à Justiça. Eles recusaram uma proposta feita pelo Ministério Público –e que envolvia um compromisso de não participar em manifestações semelhantes– e serão julgados no fim do mês.

O polícia também agiu para impedir a invasão do prédio da Ordem dos Contabilistas, no sábado (12), onde o ministro da Economia, principal alvo dos protestos, participava de um evento.

As imagens dos estudantes sendo arrastados pelos policiais correram o país, mas a corporação nega que tenha havido uso desproporcional de força.

Uma das escolas mais tradicionais de Lisboa, o Liceu Camões também teve ocupações estudantis. Os manifestantes estiveram acampados na instituição por mais de uma semana e chegaram a fechar os portões, na segunda-feira (14), impedindo o ingresso dos demais estudantes.

Após negociações com a direção da escola, o processo foi encerrado e os acessos desimpedidos. Durante a ocupação, os estudantes realizaram também ações de sensibilização sobre os problemas ambientais.

Aluna da escola e uma das representantes dos estudantes, Inês Esteves, 16, afirma que os jovens têm a intenção de sensibilizar a população para a gravidade da emergência climática. "Estamos indignados com essa situação [inação do governo] e queremos mudanças", diz a jovem, que chegou a dormir algumas noites no acampamento da instituição.

Além de ocuparem o prédio, os alunos também fizeram uma espécie de greve estudantil, faltando às aulas também como forma de protesto.

"De início, alguns estudantes estavam um bocado reticentes a faltarem as aulas, porque estamos em uma época muito delicada, com testes e apresentações orais, e nós entendemos isso. Mas houve, desde o início, uma grande adesão e muita compreensão", completa.

Embora tudo indique que as ocupações não devam continuar ao longo da semana, os estudantes prometem novas ações de ocupação para o ano que vem.

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