Discussão para 'Acordo de Paris sobre plástico' reúne 175 países na França

Mundo produz 35 mil torres Eiffel de lixo plástico por ano; países negociam texto multilateral para redução de resíduos

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Toulouse (França)

Delegados de cerca de 175 países estão reunidos na sede da Unesco, em Paris, desde esta segunda-feira (29) até a próxima sexta (2) para negociarem um acordo multilateral sobre a redução de resíduos plásticos no mundo.

O material é baseado em combustíveis fósseis, tem uma cadeia produtiva que envolve algumas das maiores corporações do mundo e é um dos maiores poluidores do planeta, o que gera um desafio de proporções igualmente superlativas.

Para se ter uma ideia, todos os anos é gerada uma quantidade de lixo plástico cujo peso equivale ao de 35 mil torres Eiffel, ou 350 milhões de toneladas, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Plástico colorido preso em pedra de gelo
Pedaços de plástico em água congelada em Vaasa, na Finlândia - Olivier Morin - 30.nov.2022/AFP

Essa quantidade deve triplicar até 2060 se o modelo e ritmo de produção e consumo seguirem como hoje. Além disso, de acordo com o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Ambiente), o plástico contribui de maneira significativa para as mudanças climáticas na Terra.

É essencial, portanto, a discussão do encontro na capital francesa, o segundo desde que a Assembleia Ambiental da ONU, o mais alto órgão internacional sobre essas questões, criou em 2022 um comitê de negociação intergovernamental encarregado de elaborar um texto legalmente vinculante sobre plástico até 2024 —uma espécie de Acordo de Paris sobre plástico.

A cúpula ocorre no momento em que países como a França e o Brasil debatem a exploração de petróleo e o futuro da indústria petroquímica diante das prospecções de empresas desses setores e das demandas crescentes por mudanças na matriz energética dos países rumo a uma economia mais limpa.

Os diferentes contextos nacionais e seus interesses envolvendo as gigantes desses setores apontam para a delicadeza das negociações que terão lugar na capital francesa nos próximos dias.

"Se não fizermos nada, a geração de resíduos plásticos triplicará até 2060. A poluição plástica é, portanto, uma bomba-relógio e um flagelo que já está presente", disse o presidente da França, Emmanuel Macron, durante a abertura do encontro internacional.

O líder francês pediu o "fim de um modelo globalizado e insustentável que consiste em produzir plástico na China ou em países da OCDE e depois exportá-lo na forma de resíduos para países em desenvolvimento, que são menos equipados com sistemas de tratamento de resíduos".

O problema, no entanto, apesar de menos visível, é peso-pesado. Hoje, 430 milhões de metros cúbicos de plástico são produzidos anualmente no mundo, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento).

Boa parte desse plástico é material de vida curta, que logo se torna lixo. E é cada vez maior a parcela dessa produção destinada a um uso único antes do descarte.

Só que o plástico é de difícil degradação e seus resíduos, sejam grandes ou em micropartículas, não respeitam fronteiras e se espalham por mares, oceanos e atmosfera, contaminando água, alimentos e o próprio ar, independente de quem os produziu e onde.

Como resultado, os mares e oceanos têm sido os mais castigados. E estima-se que, no ritmo atual, até 2050 haverá mais plástico que peixes nos oceanos.

Ainda assim, as repercussões mais diretamente relacionadas à saúde humana têm ganhado terreno na tentativa de sensibilizar pessoas que acreditam não ter nada a ver com peixes, pássaros ou tartarugas que morreram sufocadas ao engolirem escovas de dentes descartadas.

"O objetivo principal [do acordo] deve ser reduzir a produção de novos plásticos e banir o mais rápido possível os produtos mais poluentes, como os plásticos de uso único, e aqueles mais perigosos para a saúde", explicou Macron.

Segundo ele, enquanto hoje 15% do plástico produzido é reciclado em escala global, "100% dos plásticos colocados no mercado amanhã devem ser totalmente recicláveis", acabando com a poluição plástica até 2040.

Se esse prazo é exequível e se é suficiente para frear os danos causados pelo material ao ambiente, animais e humanos a tempo, não se sabe.

Relatório do Pnuma, divulgado há 15 dias, propõe mudanças sistêmicas que atacam as causas da poluição plástica. Elas se dariam a partir da redução do uso problemático e desnecessário de plástico e de uma transformação do mercado em direção à chamada economia circular, em que resíduos de uma indústria são reciclados ou reaproveitados nela mesma ou em outras indústrias.

De acordo com o documento, isso pode ser alcançado por meio de três mudanças: a reutilização, a reciclagem, e a reorientação e diversificação de materiais.

A reutilização se opõe à chamada "economia do descarte" para instaurar um uso mais racional do plástico. A reciclagem, já conhecida, precisa se tornar um empreendimento mais lucrativo, segundo o relatório. E a reorientação e diversificação aponta para o uso de materiais sustentáveis alternativos aos plásticos, o que exigirá, de acordo com o Pnuma, "uma mudança na demanda do consumidor, nas estruturas regulatórias e nos custos".

O relatório foi criticado por ambientalistas que viram no enfoque em reciclagem uma concessão à indústria poluidora.

A diretora-executiva do Pnuma, Inger Andersen, declarou à Reuters, em resposta às críticas, que "estamos falando de redesenho, e quando falamos de redesenho, é tudo o que precisamos fazer para usar menos plástico". "É aí que tudo começa", disse ela.

O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.

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