Descrição de chapéu Financial Times mudança climática

Acusações de assédio e bullying atingem negociações climáticas da ONU

Queixas de delegadas sobre 'comportamento tóxico' motivam carta de protesto firmada por duas dúzias de países

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Attracta Mooney Camilla Hodgson
Financial Times

Delegadas mulheres nas negociações climáticas da ONU denunciam ter sido alvos de bullying, assédio moral e assédio sexual por parte de negociadores homens, lançando uma sombra maior sobre a cúpula COP28 deste ano.

Mulheres que participaram das discussões da ONU em Bonn este mês falaram ao Financial Times sobre várias instâncias em que delegadas mulheres enfrentaram intimidação ou assédio de colegas homens, levando a uma carta de protesto assinada por duas dúzias de países preocupados com o comportamento abusivo.

Mesa com líderes e logo da COP27 ao fundo
Plenária de encerramento da COP27, conferência do clima, realizada em Egito em 2022 - Sui Xiankai - 20.nov.2022/Xinhua

E a diretora da delegação do México, Camila Zepeda, contou ao FT que sofreu assédio sexual na COP27 no Egito no ano passado, incluindo mensagens inapropriadas de um delegado.

Zepeda não denunciou o ocorrido na época, mas decidiu vir a público agora porque disse que as mulheres continuam a sofrer assédio nas discussões da ONU. "Precisamos de medidas proativas para garantir a segurança de todas", ela disse.

Segundo uma pessoa informada sobre os fatos, outros casos de assédio sexual foram denunciados formalmente na COP27.

México, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Peru e Canadá estão entre duas dúzias de países que escreveram à ONU desde então pedindo a adoção de medidas para "garantir um ambiente livre de assédio" nas negociações.

A carta, à qual o Financial Times teve acesso, pede que os organizadores "prestem atenção particular ao modo como as negociadoras mulheres são tratadas nos locais (da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima], dentro e fora das salas de negociações, garantindo que todos os participantes se sintam parte de um ambiente de trabalho respeitoso e seguro".

As denúncias são mais um problema para as discussões climáticas da ONU, que vão culminar no final deste ano na COP28 nos Emirados Árabes Unidos, um petroestado. Esta semana o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, avisou que o processo está sendo prejudicado pelos interesses da indústria de petróleo e gás.

Falando no encerramento da conferência de Bonn, na quinta, o chefe climático da ONU Simon Stiell confirmou que foi "informado de que comportamento inapropriado ocorreu durante esta sessão".

"Falarei claramente: o assédio, quer seja na forma de sexismo, bullying ou assédio sexual, não é aceitável no processo da UNFCCC [sigla em inglês da Convenção-Quadro]", ele disse.

A UNFCCC estaria estudando se seu código de conduta precisa ser atualizado e se devem ser adotadas novas medidas antes da cúpula climática COP28 em Dubai.

Quase 8.000 pessoas se inscreveram para assistir às discussões em Bonn, que são cruciais para definir os pontos de discussão para o evento principal, a COP28.

Uma negociadora de um grande país europeu disse que foram vistos "exemplos diretos" de bullying e assédio nas duas últimas semanas em Bonn, onde mulheres enfrentaram "comportamentos intimidadores" e "linguagem não apropriada".

Duas pessoas disseram que várias das acusações de bullying em Bonn envolveram mulheres integrantes da delegação mexicana. Alguns homens que participam da delegação teriam "procurado prejudicar a credibilidade delas".

Um delegado sênior disse: "As pessoas pensam que podem dizer e agir como tem entendem. Lidamos com uma situação que intensifica as emoções, mas isso não autoriza homens a intimidar mulheres."

As alegações incluem que mulheres teriam sido tratadas com pouco-caso, que colegas homens teriam elevado a voz para que elas não fossem ouvidas e teriam gritado com elas em encontros, disseram pessoas que participaram das discussões na Alemanha.

Uma negociadora de um país do G20 disse que há um "problema cultural" nas conferências da ONU, dizendo que elas são prejudicadas por "muito comportamento tóxico do tipo macho alfa".

"É uma coisa muito agressiva", ela disse. "Os homens se comportam pior quando estão nessas conferências. É como um faroeste."

Durante uma sessão gravada de prestação de contas em Bonn, na terça-feira, representantes da Suíça, da UE e da Austrália notaram e condenaram as denúncias de comportamentos inapropriados e inaceitáveis.

A UNFCCC se negou a comentar. A COP28 disse que "confia plenamente que a UNFCCC está levando essa situação a sério. A presidência da COP28 tem zero tolerância de discriminação, racismo ou assédio de qualquer espécie."

A COP27 não respondeu a um pedido de declarações.

Tradução de Clara Allain

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