Namoro de esquilos no Ártico é prejudicado por mudança climática

Fêmeas têm saído da hibernação antes do previsto, o que prejudica ciclo reprodutivo

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Mélissa Godin
The New York Times

Os esquilos-do-ártico machos passam pela puberdade todos os anos. Como se isso não bastasse, agora as fêmeas também estão tendo um problema.

De acordo com um artigo publicado recentemente na revista Science, a mudança climática parece estar fazendo as fêmeas emergir de hibernação antes do previsto. Isso tem importância porque pode atrapalhar o timing do ciclo reprodutivo dos esquilos.

Os esquilos-do-ártico machos geralmente saem da hibernação antes das fêmeas para preparar-se para a temporada de acasalamento na primavera. Eles precisam de tempo para alcançar sua maturidade sexual novamente, um processo que se repete anualmente porque seus níveis de testosterona caem fortemente durante o inverno.

Esquilo comendo em uma paisagem com gramado verde com manchas amareladas e vermelhas
Esquilo-do-ártico se alimentando no Alasca - Cory WILLIAMS/Colorado State University via AFP

Então as fêmeas despertam. Mas cientistas descobriram que com a temperatura subindo, as fêmeas vêm emergindo até dez dias antes do que faziam no passado. Os pesquisadores pensam que isso se deve ao descongelamento precoce do solo.

Mas o padrão de hibernação dos machos não parece estar mudando.

"Este estudo sugere que machos e fêmeas da mesma espécie podem reagir diferentemente à mudança climática", disse Helen E. Chmura, ecologista pesquisadora do Serviço Florestal americano e autora principal do estudo. "Isso pode ter implicações importantes para a reprodução."

Os problemas dos esquilos-do-ártico fazem parte de uma crise de dimensões muito maiores. A fauna e flora de todo o mundo estão enfrentando dificuldades. Em terra, a causa principal é o fato de os humanos estarem ocupando uma parte grande demais do planeta, acabando com a biodiversidade que havia antes. Nos oceanos, o maior problema é a pesca excessiva. A mudança climática está dificultando a sobrevivência ainda mais.

Os esquilos-do-ártico ainda estão presentes em abundância na natureza. A União Internacional para a Conservação da Natureza os classifica como uma espécie de preocupação menor, ou seja, que não está ameaçada nem requer esforços para sua conservação. Mas o estudo diz que a incompatibilidade temporal hibernatória que começou recentemente "tem o potencial de afetar sua probabilidade de sobrevivência".

Qualquer declínio nas populações de esquilos-do-ártico pode interromper a cadeia alimentar local. Quase todos os predadores árticos, desde lobos até águias, dependem dos esquilos como alimento.

Embora o Ártico esteja se aquecendo mais rapidamente que qualquer outra região da Terra, há relativamente poucas pesquisas sobre como esse aquecimento afeta os animais. O novo estudo, que cobre mais de 25 anos no norte do Alasca, é um dos primeiros projetos de pesquisa de longo prazo a trazer evidências fortes de que o aquecimento está alterando diretamente os processos fisiológicos de espécies do Ártico.

"O estudo é relativamente incomum porque mostra que o aquecimento está tendo impacto direto sobre um mamífero", disse Cory T. Williams, professor adjunto na Colorado State University e co-autor do estudo. "Algumas pessoas talvez digam ‘um avanço de dez dias ao longo de 25 anos não parece tão rápido assim’. Mas em termos climáticos é incrivelmente rápido."

Os esquilos-do-ártico podem ter aparência fofa, mas os machos podem ser muito territoriais. Eles costumam se envolver em muitas brigas durante a temporada de acasalamento, algumas delas fatais. Eles têm caudas, mas não longas e espessas como as dos esquilos encontrados mais ao sul. E emitem sons distintos de assobio que podem facilmente ser confundidos com o piar de uma ave pequena. Alguns indígenas do Alaska os chamam de esquilos de parca porque sua pele é usada para forrar capuzes de casacos.

Não é de hoje que os cientistas se interessam por seus padrões de hibernação.

Durante o longo sono do inverno, a temperatura dos órgãos internos dos esquilos pode cair para aproximadamente 3 graus centígrados negativos, e sua frequência cardíaca em repouso diminui para apenas três batidas por minuto. Um conhecimento maior desse processo pode levar a avanços na hipotermia terapêutica, um tratamento médico no qual a temperatura do corpo é reduzida para prevenir lesões. O procedimento às vezes é usado após uma parada cardíaca.

Mas, segundo cientistas, o desafio mais premente é entender melhor as mudanças que estão ocorrendo no extremo norte do planeta.

"O que mais nos falta é uma visão melhor do que está acontecendo no Ártico de maneira geral", disse Williams. "Este estudo mostra porque precisamos de projetos de longo prazo para entender as mudanças que estão ocorrendo em níveis diferentes."

Tradução de Clara Allain.

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