Clima extremo na América Latina abre ciclo vicioso que alimenta mais riscos climáticos

Incêndios em 2022 levaram a nível mais alto em 20 anos de emissões de carbono na região

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nelson Acosta
Havana | Reuters

O clima extremo está causando devastação em toda a América Latina, acumulando bilhões em danos e desencadeando um ciclo vicioso que leva a uma maior demanda por combustíveis fósseis e mais mudanças climáticas, disse nesta quarta-feira (5) a OMM (Organização Meteorológica Mundial), que faz parte da ONU.

As temperaturas subiram em média 0,2°C por década nos últimos 30 anos —a taxa mais alta já registrada, de acordo com o relatório Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022.

À medida que as temperaturas sobem, os eventos climáticos extremos tornam-se mais comuns, com consequências muitas vezes inesperadas que agravam a mudança climática, disse o relatório.

Homem caminha em plantação de soja seca
Campos de soja impactados por seca em Zárate, na província de Buenos Aires - Guillermo Rodriguez Adami - 11.mai.2023/Folhapress

"A seca prolongada levou à queda da geração hidrelétrica em grande parte da América do Sul, provocando um aumento da demanda por combustíveis fósseis numa região com grande potencial de energias renováveis", explica o relatório.

Os incêndios florestais em faixas da América Latina em 2022, alimentados por solos secos e calor extremo, levaram as emissões de dióxido de carbono a atingirem seu nível mais alto em 20 anos, elevando as temperaturas e intensificando o risco de desastres, observou o relatório.

"Muitos dos eventos extremos foram influenciados pela La Niña de longa duração, mas também traziam a marca da mudança climática induzida pelo homem", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

"O recém-chegado El Niño vai aumentar o calor e trazer um clima mais extremo."

A seca e as tempestades representaram a maior parte dos US$ 9 bilhões em danos econômicos relatados em 2022 ao Banco de Dados de Eventos de Emergência (EM-DAT) do Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED, na sigla em inglês).

O relatório da Organização Meteorológica Mundial vem em meio à Convenção sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em Havana e organizada pelo grupo G77 de países em desenvolvimento, que inclui a China.

O documento também foi divulgado enquanto o mundo registra dois recordes consecutivos na média global de calor.

Nesta terça-feira (4), foi registrada a média de 17,18°C no planeta, um novo recorde. Na segunda-feira (3), a média de temperatura global tinha alcançado 17,01°C, superando o maior índice registrado pelos cientistas até então, de 16,92°C, em 2016, e que se repetiu em 2022.

A ministra do Meio Ambiente de Cuba, Elba Rosa Perez, disse durante a sessão inaugural da convenção, nesta terça-feira (4), que a situação levou muitos países em desenvolvimento ao limite.

"Estamos enfrentando impactos cada vez mais fortes da mudança climática, mas as decisões adotadas nas negociações climáticas para a implementação do Acordo de Paris não avançam no mesmo ritmo", disse ela.

O Acordo de Paris, de 2015, estabeleceu uma meta de manter o aquecimento abaixo de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, mas os cientistas e ativistas alertam que há necessidade de mais ações para evitar os piores impactos da mudança climática.

Mapa de calor do novo recorde de temperatura global, em 4 de julho de 2023
Mapa global indica as temperaturas em 4 de julho de 2023, quando novo recorde de calor foi registrado no planeta - NCEP/Climate Change Institute/University of Maine
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.