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Os 4 recordes climáticos em um mês que podem deixar planeta 'perto do pior cenário possível'

Dia e mês mais quente já registrados, aumento na temperatura oceânica e derretimento no gelo marinho da Antártida alarmam cientistas pela velocidade e ineditismo

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Georgina Rannard Erwan Rivault Jana Tauschinski
BBC News Brasil

Quatro recordes climáticos em temperatura, aquecimento dos oceanos e derretimento do gelo marinho da Antártida quebrados no intervalo de mais ou menos um mês têm alarmado cientistas: eles alegam que não há precedentes na velocidade desses acontecimentos.

Mesmo assim, os especialistas advertem que ainda dá tempo de agir para reverter ao menos parcialmente as consequências disso.

Incêndio florestal perto de Atenas, na onda de calor que afeta o Hemisfério Norte - Reuters

Os cientistas acreditam que os piores cenários possíveis do aquecimento global já estão em curso, embora os fenômenos ainda estejam sendo estudados.

"Não tenho conhecimento de nenhum período similar, em que todas as partes do clima estivessem sob recordes ou anormalidades (do tipo)", diz Thomas Smith, geógrafo ambiental da London School of Economics.

A Terra já "está sob terreno desconhecido" por conta do aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis e também pelo calor intensificado pelo fenômeno climático natural El Niño, afirma Paulo Ceppi, do Imperial College London.

Abaixo, veja quatro recordes climáticos que já foram quebrados neste verão no Hemisfério Norte:

Dia mais quente já registrado

6 de julho foi o dia mais quente já registrado pelos cientistas, com uma temperatura global média de 17,08°C, quebrando um recorde de 2016.

É a primeira vez que a temperatura média global global passa de 17°C, segundo o serviço europeu de monitoramento climático, o Copernicus.

Sul da Europa e áreas da América do Norte e da China chegaram a registrar calor de 45°C a 50°C, provocando incêndios florestais e muitos casos de mal-estar e mortes.

As contínuas emissões de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás são responsáveis por isso.

"Os humanos estão 100% por trás dessa tendência de alta", afirma a pesquisadora Friederike Otto, do Imperial College London.

Equipes médicas atendem homem desidratado no México, em 14 de julho - Reuters

Mês de junho mais quente

A média de temperatura global no último mês de junho foi 1,47°C acima da média do mês registrada antes do período pré-industrial. Essa comparação é feita porque foi no período da Revolução Industrial, nos anos 1800, que a humanidade começou a emitir uma grande quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera.

Embora seja difícil prever como serão os próximos dez anos em termos de temperatura média, Thomas Smith diz que já é certo que o planeta "não vai esfriar".

Ondas extremas de calor marinho

Mar da Grécia, em meio a onda de calor; impacto é profundo sobre ecossistema marinho, fonte de 50% do oxigênio do planeta - EPA

A média global de temperatura oceânica quebrou recordes em maio, junho e julho. E o planeta está perto de bater o recorde de 2016 de maior temperatura da superfície marinha já registrada.

Mas é o calor extremo no Atlântico Norte que mais alarma cientistas.

"Nunca tínhamos tido uma onda de calor marinho nessa parte do Atlântico. Eu não esperava por isso", diz Daniela Schmidt, professora de Ciências da Terra na Universidade de Bristol.

Em junho, as temperaturas na costa oeste da Irlanda ficaram entre 4°C e 5°C acima da média. Embora a relação direta disso com o aquecimento global ainda esteja sendo estudada, é certo que os oceanos absorvem a maior parte do calor na atmosfera, explica Schmidt.

A cientista enfatiza que isso pode impactar os ecossistemas marinhos, que produzem 50% do oxigênio do mundo.

"Quando falamos de ondas de calor, as pessoas tendem a pensar em árvores e grama morrendo. (Mas) o Atlântico está 5°C mais quente do que deveria - o que significa que organismos (marinhos) precisam de 50% mais alimentos apenas para funcionar normalmente", afirma Schmidt.

Gelo marinho da Antártida em baixa recorde

A área coberta pelo gelo marinho na Antártida está em seu nível mais baixo já registrado. Uma área dez vezes o tamanho do Reino Unido derreteu, em comparação com a média registrada entre 1981 e 2010.

Os cientistas ainda tentam entender exatamente como isso se interrelaciona com as mudanças climáticas. O aquecimento oceânico tende a reduzir o gelo marinho, mas uma redução tão dramática como a atual também pode ter conexão com o clima regional ou com as correntes oceânicas, afirma Caroline Holmes, do projeto British Antarctic Survey.

"Eu nunca havia visto isso em julho. (O gelo) está 10% menor do que o nível mais baixo anterior, o que é algo impressionante", ela explica, destacando se tratar de mais uma evidência de que "não entendemos realmente o ritmo das mudanças" no clima.

"Podemos dizer que já caímos do abismo, mas não sabemos o que está lá embaixo", acrescenta Holmes.

"Acho que fomos pegos de surpresa em termos da velocidade com que isso aconteceu. Este definitivamente não é o melhor cenário possível (dentro do aquecimento global). Está mais perto do pior cenário possível."

São esperados novos recordes climáticos ainda neste segundo semestre e no início de 2024. Mas é errado dizer que estamos em um "colapso climático" fora de controle, diz Otto.

Ela afirma que estamos em uma nova era ainda desconhecida, "mas ainda temos tempo de garantir um futuro viável" para a humanidade.

Com reportagem adicional de Mark Poynting e Becky Dale

Este texto foi publicado originalmente aqui.

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