Descrição de chapéu Financial Times

Estatal dos Emirados Árabes contrata lobistas para desviar críticas à COP28

Petroestado busca melhorar imagem com ação publicitária enquanto se prepara para sediar conferência do clima da ONU

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Londres e Nova York | Financial Times

Uma empresa estatal dos Emirados Árabes Unidos contratou uma equipe de lobistas para defender a posição do país que sediará a COP28, a cúpula do clima da ONU neste ano, após críticas de ambientalistas e políticos.

A empresa de relações-públicas First International Resources (FIR) receberá um adiantamento mensal de 100 mil libras (R$ 630 mil) durante seis meses para fortalecer a reputação dos Emirados Árabes Unidos entre o "público ocidental", segundo uma cópia de seu contrato registrado no Departamento de Justiça dos EUA sob as regras de lobby para agentes estrangeiros, que foi publicado pelo departamento este mês.

A empresa foi contratada pela Masdar, companhia estatal de energia renovável dos Emirados Árabes Unidos, segundo o documento. A Masdar é comandada pelo presidente designado da COP28, Sultan al-Jaber, que também é chefe da companhia petrolífera emiradense.

Retrato de Jaber; ele está com expressão séria, usando óculos de aro preto e faz um sinal de positivo com uma das mãos
Sultan al-Jaber, presidente da COP28, em evento em Bruxelas em julho - François Walschaerts - 13.jul.2023/AFP

O objetivo da First International é "vacinar" a COP28 e Jaber contra "qualquer crítica potencial" e angariar apoio de "indivíduos politicamente influentes", diz o contrato. A empresa é especializada em comunicações de crise, segundo seu site.

Além de atuar como uma "caixa de ressonância pessoal" para Jaber, a consultoria responderá e desviará as reportagens negativas na imprensa. O contrato foi relatado pela primeira vez pelo jornal The Washington Post.

Espera-se que quase 200 países e até 80 mil pessoas participem da COP28 em Dubai em novembro, quando os políticos globais tentarão chegar a um acordo sobre os esforços para combater as mudanças climáticas.

A nomeação de Jaber como presidente da COP28 "gerou uma reação previsível dos Verdes no Ocidente", disse o contrato da First International. Em maio, mais de cem políticos ocidentais pediram que os Emirados Árabes Unidos retirassem Jaber do cargo.

Mas Jaber, um engenheiro que a liderança de Abu Dhabi considera um de seus tecnocratas mais eficazes, recebeu apoio constante de outros, incluindo o enviado climático dos Estados Unidos, John Kerry, e da União Europeia.

No mês passado, Jaber disse esperar que a COP28 tenha como objetivo chegar a um acordo para triplicar a capacidade de energia renovável até 2030 e reformar o financiamento climático —plano que foi amplamente bem recebido por políticos e alguns proeminentes ativistas climáticos. Mas os ambientalistas o criticaram, dizendo que não vai longe o suficiente no combate às mudanças climáticas.

Os Emirados Árabes Unidos também foram criticados por seu papel como produtor de combustíveis fósseis e por preocupações com seu histórico de direitos humanos.

Segundo o contrato, a agência FIR fará uma pesquisa com o público em geral e audiências "de elite" nos Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e três outros países. Ela usará os resultados para gerar uma "campanha educacional proativa" e influenciar os eleitos.

A firma tentará recrutar "indivíduos e grupos politicamente influentes" para "reforçar ainda mais a imagem e os interesses gerais da COP28". O contrato listava o Fórum Econômico Mundial, o Fundo Carnegie para a Paz Internacional e o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais entre os grupos de pensadores que poderia atingir.

Além disso, o contrato dizia que a consultoria "também poderia ativar ou mobilizar nossas conexões dentro do 'establishment judaico dos EUA' para ajudar a apoiar os objetivos gerais da campanha", assim como usar sua influência para marcar reuniões com membros do Congresso dos EUA e do governo do presidente Joe Biden.

A nomeação é o último passo na tentativa dos EAU de reforçar seu perfil ambiental. Também contratou David Canzini, ex-assessor do ex-primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson, para fornecer consultoria estratégica.

COP28, Masdar e First International Resources não responderam imediatamente a pedidos de comentários.

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