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COP28 trava batalha de relações públicas para atrair patrocínios

Campanha de marketing da cúpula do clima avança em meio a críticas à chefia do evento

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Simeon Kerr
Dubai | Financial Times

Organizadores da próxima conferência climática da ONU estão buscando patrocínio de grandes empresas para a cúpula que terá lugar em Dubai, ao mesmo tempo em que os Emirados Árabes Unidos procuram combater as críticas crescentes à liderança da COP28 pelo petroestado.

A organização da COP28 ofereceu pacotes de patrocínio de até US$ 8,2 milhões para um parceiro principal receber acesso privilegiado à chamada "zona azul" controlada, onde os líderes mundiais se reúnem, conforme documentos enviados a possíveis patrocinadores.

O espaço na "zona verde", aberto à sociedade civil e pequenas empresas, sai por menos de US$ 7.000. As indicações de interesse por pavilhões serão encerradas nesta semana. A COP vai começar em 30 de novembro.

O esforço de marketing se dá enquanto ativistas e mais de cem políticos ocidentais vêm manifestando sua oposição à indicação de Sultan al-Jaber como presidente das discussões climáticas da ONU, ao mesmo tempo em que ele também preside a estatal petrolífera Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc). Os Estados Unidos e a União Europeia continuam a apoiar os Emirados Árabes.

Retrato de Jaber com expressão séria
O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, na Conferência sobre Mudança Climática em Bonn, na Alemanha, na última quinta (8); ele também é chefe da gigante estatal do petróleo Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) - Jana Rodenbusch - 8.jun.2023/Reuters

Ao longo dessa batalha de relações públicas, a equipe da COP28 não conseguiu conservar pelo menos três agências internacionais de comunicações nos últimos 12 meses, incluindo BCW, Edelman e FGS, disseram pessoas com conhecimento do tema.

A COP28 estuda agora a possibilidade contratar outra consultoria para apoio de comunicações. Os organizadores também têm encaminhado funcionários de organizações domésticas, incluindo a Adnoc, o grupo estatal de energia renovável Masdar e o Ministério do Exterior, para cumprir essas funções.

A Edelman disse que apoiou o anúncio da presidência da COP28 e seu lançamento inicial, mas que "esse engajamento se encerrou". A BCW e a FGS se negaram a comentar.

Também foi contratado o CT Group, incluindo David Canzini, ex-assessor do ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson que foi contra um imposto sobre óleo e gás, para dar assessoria estratégica, conforme informado anteriormente pelo Financial Times.

Em separado, o acadêmico britânico residente em Qatar Marc Owen-Jones, especialista em desinformação online, identificou pelo menos cem contas falsas de Twitter envolvidas em um "esforço grande e multilingue de astroturfing" em torno da COP28, que promovem a política externa dos EAU e melhoram a imagem de seu histórico ambiental. "Astroturfing" é uma campanha de relações públicas que amplia o apoio a uma causa com a ajuda de contas fictícias vinculadas.

A presidência da COP28 disse que essas contas robóticas falsas, que teria denunciado ao Twitter, "foram geradas por atores externos não ligados à COP28 e foram evidentemente criadas para desacreditar a COP28 e o processo climático".

Jaber vem atraindo o repúdio de ativistas climáticos por declarar que não é a produção de combustíveis fósseis que deve ser o tema principal da cúpula climática, mas o controle de emissões, ou através da redução da demanda ou de tecnologia de captura e armazenagem de carbono que permita o uso continuado de petróleo e gás.

Os EAU também querem chamar a atenção para a promoção de fontes de energia renováveis sob a liderança de Jaber da Masdar. Mas enquanto o país assumiu compromissos de US$ 30 bilhões com renováveis até agora, a Adnoc planeja US$ 150 bilhões em gastos de capital para ampliar sua capacidade de produção de petróleo nos próximos cinco anos.

Cientistas climáticos e a Agência Internacional de Energia (AIE) dizem que o desenvolvimento de óleo e gás precisa ser sustado para que a alta da temperatura global possa ser mantida abaixo de 1,5°C desde os tempos pré-industriais. O mês de maio deste ano foi o segundo mais quente em todo o mundo nos últimos 30 anos.

Em seu discurso mais recente em discussões climáticas da ONU em Bonn, Jaber se manteve firme em dizer que a produção "constante" de combustíveis fósseis precisa ser reduzida —referindo-se à produção sem a captura de emissões de carbono—, enquanto a capacidade de energia renovável e a eficiência energética são aumentadas.

Ele deu um passo adicional, acrescentando pela primeira vez que "redução gradual dos combustíveis fósseis é inevitável", mas não chegou a indicar uma linha do tempo nem a sugerir um cronograma de desativação da produção, algo defendido por muitos países.

O convite feito pelos EAU ao ditador sírio Bashar al-Assad provocou mais insatisfação em capitais ocidentais que são contra à sua reabilitação diplomática.

A realização de um evento de perfil tão alto em seu território também está chamando atenção renovada à situação de direitos humanos nos próprios EAU, uma autocracia.

Grupos de defesa de direitos pedem a libertação de dezenas de dissidentes políticos detidos desde 2012, muitos dos quais continuam encarcerados apesar de já terem cumprido suas sentenças. Segundo ativistas, as autoridades caracterizam os detidos como uma ameaça terrorista.

Engenheiro de formação que tem a confiança da liderança de Abu Dhabi, que o vê como um de seus tecnocratas mais eficientes, Jaber é conhecido por ser particularmente exigente e sensível a críticas e tem a reputação de frequentemente abrir mão de consultores.

"Esqueça os desafios externos e as questões de reputação —internamente, a COP é um espaço muito politicamente complexo, um cliente muito difícil de agradar", comentou um gerente de comunicações.

Executivos próximos do governo dizem que o poder de mobilização dos EAU no mundo em desenvolvimento pode entrar em ação para promover o progresso entre grandes poluidores.

Eles dizem que o fato de Abu Dhabi seguir uma política externa multipolar, equilibrando laços de segurança históricos com Estados ocidentais e relacionamentos comerciais e petrolíferos mais recentes com potências como China, Rússia e Índia, confere à monarquia do Golfo uma capacidade de estender sua influência que supera a da maioria das democracias ocidentais.

Para um banqueiro, "uma vitória seria sairmos da cúpula com medidas implementáveis de financiamento das economias emergentes ou de progresso nos fundos de compensação por perdas e danos".

Em 2009 as maiores economias do mundo se comprometeram a levantar US$ 100 bilhões por ano para financiar a ação climática por meio de um fundo de adaptação para países em desenvolvimento, mas a meta anual ainda não foi alcançada.

"Eles vão pressionar o Norte para que desembolse os US$ 100 bilhões prometidos há muito tempo", disse um executivo baseado em Abu Dhabi. "E quem sabe consigam."

Tradução de Clara Allain.

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