África quer atrair investimentos para combater mudanças climáticas

Continente promove cúpula sobre o tema pela primeira vez, como aquecimento para a COP28

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AFP

A África tem uma uma "oportunidade sem precedentes" de desenvolvimento ao participar da luta contra a mudança climática, mas precisa de grandes investimentos internacionais, disse nesta segunda-feira (4) o presidente do Quênia, William Ruto, ao inaugurar cúpula do continente sobre o tema.

Esta primeira cúpula africana dá início aos quatro meses mais intensos do ano para as negociações internacionais sobre o clima, que se seguirão com a cúpula da ONU (COP28), em Dubai, em novembro e dezembro, na qual é esperada uma batalha sobre o fim dos combustíveis fósseis.

Por três dias, o presidente receberá na capital do Quênia líderes e dirigentes da África e de outros lugares, entre eles, o secretário-geral da ONU, António Guterres, para buscar uma visão africana comum sobre desenvolvimento e clima.

Em fila, mulheres seguram cartaz que diz "repay climate debt reparations now"
Manifestantes seguram cartaz pedindo financiamento para perdas e danos climáticos em fila da primeira cúpula africana sobre mudança do clima, em Nairóbi (Quênia), nesta segunda (4) - John Muchucha/Reuters

O objetivo é ambicioso para um continente com 1,4 bilhão de pessoas em 54 países, política e economicamente diverso.

"A grande questão é a oportunidade incomparável que a ação climática representa para a África", disse William Ruto no discurso de abertura do evento. "Durante muito tempo, apenas analisamos este tema. É hora de começar", afirmou.

"A África é fundamental para acelerar a descarbonização da economia mundial. Não somos apenas um continente rico em recursos. Somos uma potência com potencial inexplorado, ansiosa para participar e competir de forma justa nos mercados mundiais", disse.

Retrato de Ruto ao microfone, com logotipo do evento em painel atrás dele
William Ruto, presidente do Quênia, em discurso de abertura da Cúpula do Clima da África, em Nairóbi, nesta segunda (4) - Monicah Mwangi/Reuters

Menos conversa e mais ação

Centenas de pessoas se reuniram perto da sede da conferência, para a qual estão credenciados 30 mil participantes, segundo o governo queniano, para denunciar sua "agenda profundamente corrupta" centrada nos interesses dos países ricos.

"Exigimos o fim do capitalismo climático", disse Don Clive Ochieng, um manifestante, enquanto outros carregavam cartazes exigindo "menos conversa e mais ação climática".

"O mundo deve nos ver para além do 'status' de vítimas ou de pessoas vulneráveis à crise climática", afirmou a jovem ativista ugandesa Vanessa Nakate à AFP.

Embora a África contribua com apenas entre 2% e 3% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, o continente sofre desproporcionalmente os efeitos da mudança climática, com secas e enchentes cada vez mais intensas, conforme dados da ONU.

Os países africanos também são afetados pelo crescente peso de sua dívida e pela falta de financiamento. Apesar de seu potencial em recursos naturais, apenas 3% dos investimentos globais em transição energética chegam ao continente.

Hoje metade da população africana não tem acesso à eletricidade, o que representa "uma injustiça", criticou o chefe da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol.

Ele alertou ainda para o possível freio na luta contra a mudança climática que as tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China podem representar.

Etapa prévia à COP28

Segundo Ruto, a África tem potencial para ser totalmente autossuficiente em energia, graças aos recursos renováveis.

"Devemos garantir que o financiamento climático esteja mais disponível e acessível a todos os países em desenvolvimento, incluindo os da África", disseram Ruto, o presidente da COP28, Sultan Al-Jaber, e o chefe da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, em uma declaração conjunta nesta segunda-feira.

Em escala mundial, os países ricos ainda não cumpriram seu compromisso de fornecer US$ 100 bilhões por ano (R$ 493 bilhões na cotação atual) em financiamento climático aos países mais pobres.

Um sucesso na cúpula de Nairóbi pode dar impulso a várias reuniões internacionais importantes antes da COP28, como, em setembro, a cúpula do G20 na Índia e a Assembleia-Geral das Nações Unidas e, depois, em outubro, a reunião anual do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Segundo cálculos do FMI, para limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação à era pré-industrial —medida prevista pelo Acordo de Paris—, o investimento deve atingir US$ 2 bilhões (R$ 9,8 bilhões na cotação atual) por ano nestes países em uma década.

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