Chefia da COP28 quer acordo sobre renováveis já nos primeiros dias de evento, diz órgão internacional

Diretor de agência de energias renováveis diz que tratado também deve incluir ampliação da eficiência energética

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Singapura

A chefia da COP28, a edição deste ano da conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), que ocorrerá de 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, quer fechar um acordo sobre energia ainda nos primeiros dias de evento.

A ideia é que, logo no começo, quando devem estar presentes presidentes e líderes de várias nações, seja firmado um compromisso para triplicar a capacidade de produção de renováveis e dobrar a eficiência energética no mundo até 2030.

A informação foi divulgada nesta segunda-feira (23), pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês), Francesco La Camera, durante a abertura da Semana Internacional da Energia de Singapura. Camera também integra o conselho consultivo da COP.

Homem discursa em palanque
Francesco La Camera, diretor-geral da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês) - Divulgação/SIEW

O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, já vinha anunciando intenção de buscar uma meta para ampliar a produção de energias renováveis. A novidade, agora, fica por conta da aparente pressa em apresentar uma decisão positiva a respeito do tema ainda durante a cúpula dos líderes mundiais, nos dias 1º e 2 de dezembro, em vez de utilizar toda a duração do evento para a negociação.

"A presidência da COP28 apoia fortemente a mensagem de triplicar a energia renovável e dobrar a eficiência e introduziu um compromisso global para esta meta, que será assinado por vários líderes na Cúpula Mundial de Ação Climática, durante a COP28", disse o chefe da Irena.

"Juntamente com a Irena, este compromisso está sendo encampado pela União Europeia, Barbados, Chile, Quênia e pelos EUA. A indústria também está ouvindo este apelo e cerca de 250 empresas já o assinaram", afirmou.

À Folha, nesta terça-feira (24), Camera diz que tem esperança que o acordo seja assinado rapidamente.

"Já vimos o compromisso do G7 com o aumento da energia solar e eólica. Depois, vimos o G20 que, na sua declaração final, colocou a referência a triplicar [as renováveis]. E vimos na Cúpula do Clima da África e de Nova York que os países estão avançando nessa direção", explica, ponderando que nem tudo foi definido ainda.

Sobre um possível descumprimento da meta mesmo que ela seja assinada, como vem acontecendo com outros acordos firmados em COPs anteriores, ele aponta que é preciso superar três barreiras para a concretização deste objetivo.

"Uma delas é a infraestrutura física", enumera, referindo-se à inexistência de usinas eólicas ou solares, por exemplo, em quantidade suficiente para aumentar substancialmente os estoques de energias verdes.

"Também são necessários um ambiente jurídico [favorável] e medidas políticas que criem demanda —por exemplo, por hidrogênio", afirma. O hidrogênio é apontado como um combustível promissor para o futuro, por ter como único rejeito a água e poder ser produzido com energias renováveis.

"E precisamos aumentar as capacidades institucionais. A formação e a adaptação da mão de obra deve ser uma das prioridades", conclui.

Triplicar a capacidade mundial de produção de energias renováveis até o final da década, em paralelo com dobrar a eficiência energética, é apontado pela AIE (Agência Internacional de Energia) como algo crucial para limitar o aquecimento global a 1,5°C e evitar os piores efeitos das mudanças climáticas.

Mas só isso não é o suficiente. Para que as ações sejam bem-sucedidas, é necessária uma redução drástica na produção e uso de combustíveis fósseis —que é o ponto de maior dissenso nas discussões climáticas internacionais, já que muitos países têm suas economias calcadas na indústria petrolífera.

Esses apelos foram renovados pela agência em um relatório anual lançado nesta semana, a pouco mais de um mês do início da COP.

No documento, a AIE ainda aponta que, "na atual situação, a demanda por combustíveis fósseis deve continuar muito elevada" para manter a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris. "Alcançar a inflexão da curva de emissões para conter o aquecimento em 1,5°C ainda é possível, mas o caminho se anuncia muito difícil", alerta a entidade.

Discussões sobre cortes na produção de combustíveis fósseis devem ser especialmente sensíveis nesta COP, já que eles representam boa parte da riqueza dos Emirados Árabes: 30% do Produto Interno Bruto e 13% das exportações vêm diretamente da indústria do petróleo e gás. Os dados são do Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

Soma-se a isso o fato de que, além de presidente da COP28, Jaber é chefe da Adnoc, a companhia estatal de petróleo do país. A escolha foi duramente criticada por especialistas, que veem conflito de interesses na posição.

Jaber será o responsável por conduzir as negociações na cúpula, que terá participação ímpar da indústria petroleira: neste ano, pela primeira vez, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) terá um estande na COP.

A repórter viajou a Singapura a convite do Ministério de Relações Exteriores do país asiático.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.