União Europeia e Reino Unido querem proibir subsídios a projetos estrangeiros de combustíveis fósseis

Medida afetaria investimentos em petróleo, gás e carvão

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Kenza Bryan Alice Hancock
Financial Times

O Reino Unido e a União Europeia pressionarão os países mais ricos do mundo para acabar com os subsídios para operações estrangeiras de petróleo, gás e mineração de carvão, em uma reunião fechada da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) no próximo mês, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

A proposta de cortar a maior fonte estrangeira de financiamento público para combustíveis fósseis deve desencadear negociações acaloradas na sede da OCDE, em Paris.

A medida se baseia no compromisso de alguns países da OCDE de alinhar as instituições de finanças públicas com os objetivos do Acordo de Paris, para limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C e, idealmente, a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.

Vista aérea de navios e plataforma no meio do oceano
Petroleiro British Sponsor em abastecimento com gás natural liquefeito em plataforma em Moçambique - CNPC Mozambique - 11.nov.2022/Divulgação via Xinhua

Mas o esforço para acabar com os subsídios para projetos estrangeiros chamará a atenção para a prevalência de subsídios domésticos para as indústrias de petróleo e gás, ainda que um acordo global para encerrar a produção de combustíveis fósseis sem as emissões de carbono capturadas na próxima cúpula climática da ONU, a COP28, pareça algo cada vez mais improvável.

Encerrar a provisão de empréstimos e garantias para projetos de combustíveis fósseis pelas agências de crédito à exportação seria "um primeiro passo essencial para manter nossas metas climáticas internacionais ao alcance", afirmou Nina Pušić, estrategista climática de financiamento à exportação do grupo ambientalista OCI (Oil Change International), dos Estados Unidos.

Segundo o OCI, estima-se que os países-membros da OCDE tenham gastado cerca de US$ 41 bilhões por ano de 2018 a 2020, por meio de suas agências de crédito à exportação, para apoiar projetos de carvão, petróleo e gás, quase cinco vezes mais do que seu apoio à energia limpa.

Além de Moçambique, os maiores beneficiários de apoio durante esse período operam em países desenvolvidos, incluindo Canadá, Emirados Árabes Unidos e Rússia.

Países ricos concordaram em 2021 em parar com os subsídios para geração de eletricidade a carvão no exterior, mostrando que esse tipo de decisão da OCDE pode "ter um efeito catalisador na transição para a energia limpa", acrescentou Pušić.

A iniciativa de redesenhar a posição dos membros da organização internacional em relação aos combustíveis fósseis também se baseia em um compromisso de alguns Estados-membros, incluindo Reino Unido, Canadá, França, Itália e Estados Unidos, na cúpula da ONU COP26, em Glasgow, há dois anos.

A promessa feita por eles para acabar com novos apoios públicos aos combustíveis fósseis internacionais até o final de 2022 incluía exceções para projetos em que as emissões são capturadas e para casos "consistentes" com o Acordo de Paris.

Os governos também se comprometeram em Glasgow a pressionar organismos como a OCDE e bancos multilaterais de desenvolvimento a atualizarem suas estruturas de governança para se alinharem com os objetivos do Acordo de Paris.

As alterações no acordo da OCDE sobre créditos à exportação seriam voluntárias. Também exigiriam o consenso de um grupo de Estados-membros que inclui importantes financiadores de combustíveis fósseis que não apoiaram o compromisso de Glasgow, como Japão e Coreia do Sul.

Isso também colocaria pressão sobre os signatários para controlar o financiamento de combustíveis fósseis no exterior por meio de suas agências de crédito à exportação.

Diretores da agência de crédito à exportação dos Estados Unidos, a Exim, por exemplo, votaram em maio para liberar quase US$ 100 milhões para apoiar a expansão de uma refinaria de petróleo na Indonésia, bem como melhorias na eficiência e segurança.

Eles também votaram em julho para apoiar crédito para auxiliar a compra de gás natural liquefeito dos Estados Unidos pela empresa de comércio de commodities Trafigura, para exportação para a Europa.

A Exim afirmou que essas decisões apoiariam mais de 12 mil empregos nos EUA, ao impulsionar as vendas de petróleo e gás do país. Ela não respondeu a um pedido de comentário.

Louise Burrows, que coordena a diplomacia climática e energética para a Aliança Além do Petróleo e Gás, formada por governos como França e Dinamarca, afirmou que as discussões da OCDE seriam um "mecanismo de pressão útil para iniciar conversas com os retardatários".

Pessoas próximas à UK Export Finance, a agência de crédito do Reino Unido, disseram que o Canadá se comprometeu a apoiar a proposta planejada do Reino Unido para a OCDE antes da reunião do próximo mês. O departamento de finanças do Canadá disse que "espera trabalhar ao lado de parceiros com ideias semelhantes na OCDE e em outros fóruns internacionais para promover e expandir a economia limpa em todo o mundo".

A União Europeia apresentou sua própria proposta, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto, depois que os Estados-membros concordaram com uma proposta preliminar no mês passado, de acordo com outra pessoa familiarizada. A União Europeia não quis comentar.

O bloco está fazendo um esforço conjunto para acabar com o apoio ao petróleo, gás e carvão.
Seu mandato de negociação para a cúpula da COP28 deste ano em Dubai, acordado pelos ministros do clima do bloco neste mês, afirma que a UE irá pedir "a eliminação gradual o mais rápido possível dos subsídios aos combustíveis fósseis que não abordam a pobreza energética ou a transição justa".

O novo chefe de clima da União Europeia, Wopke Hoekstra, descreveu os subsídios aos combustíveis fósseis como "desatualizados e contraproducentes".

Mas, em um relatório publicado na semana passada, a Comissão Europeia afirmou que os subsídios totais aos combustíveis fósseis no bloco "aumentaram drasticamente" durante a crise energética em 2022, atingindo 122 bilhões de euros, após permanecerem aproximadamente estáveis em 56 bilhões de euros no ano anterior.

"Os Estados-Membros devem acelerar as ações para acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis", afirmou.

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