Secretário-geral da ONU defende na COP28 calendário de abandono de combustíveis fósseis, proposto pelo Brasil

Proposta coloca países desenvolvidos na dianteira do processo e foi condicionante apresentada pelo Itamaraty nas negociações

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Dubai

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou em entrevista coletiva nesta segunda-feira (11) que a eliminação gradual dos combustíveis fósseis em um ritmo condizente com a meta de conter o aquecimento global em até 1,5°C definirá o sucesso da COP28, conferência do clima da ONU, prevista para terminar nesta terça (12).

"Mas isso não significa que todos os países devem eliminar os combustíveis fósseis ao mesmo tempo", ele ressalvou, citando a necessidade de se respeitar o princípio "responsabilidades comuns, porém diferenciadas" criado pela Convenção-Quadro do Clima da ONU, em 1992.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fala durante coletiva de imprensa na COP28, em Dubai - haier Al-Sudani/Reuters

A condição de que a eliminação dos fósseis obedeça a um calendário foi apresentada pelo Brasil nas negociações da COP na última semana. Segundo a proposta, os países desenvolvidos devem se adiantar e permitir ao bloco em desenvolvimento uma transição energética mais lenta.

O chefe da ONU também lembrou que o balanço global —uma avaliação dos esforços dos países até aqui, com recomendações para o próximo ciclo de metas climáticas— que deve ser concluído nesta COP será importante para o trabalho de revisão dos compromissos dos países, um trabalho que deve ser conduzido pelo Brasil na COP30 do Clima, em 2025.

Após ter participado da abertura da conferência, nos dias 29 e 30 de novembro, Guterres está de volta à COP28 nesta segunda para acompanhar a conclusão das negociações. Em fala à imprensa, ele deu recados aos negociadores sobre os pontos que travam um acordo.

"Um acordo sem meios de implementação é como um carro sem rodas", afirmou, em recado ao bloco desenvolvido, que no domingo (10) se opôs à seção inteira sobre meios de implementação da agenda de adaptação climática, em meio a uma disputa com os países em desenvolvimento sobre a extensão das responsabilidade do bloco rico sobre o financiamento da adaptação no restante do mundo.

Por outro lado, Guterres também apontou que o desafio climático não se resume a financiamento, em um chamado aos países em desenvolvimento para cooperar na direção de um consenso que não coloque em xeque a ambição do acordo.

A presidência da COP28 não conseguiu publicar um novo rascunho na manhã desta segunda, como havia sinalizado, e agora corre contra o tempo para mostrar algum avanço na fase final das negociações.

Duas horas antes de Guterres, o secretário-executivo da Convenção-Quadro do Clima da ONU, Simon Stiell, afirmou que o próximo rascunho sairia em alguns minutos —o que não aconteceu até o momento da publicação da reportagem e que as questões em aberto teriam se afunilado, resumindo-se em dois pontos.

"Primeiro: quão alta é nossa ambição em mitigação?", perguntou, em referência à transição dos fósseis para renováveis. "Segundo: queremos apoiar essa transição com meios de suporte próprios para entregá-la?", apontou Stiell.

A repórter Ana Carolina Amaral viajou a convite de Avaaz, Instituto Arapyaú e Internews.

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