Mais uma vez, presidente da conferência do clima é ligado à indústria do petróleo

Comando da COP29 será de Mukhtar Babayev, ministro da Ecologia e Recursos Naturais do Azerbaijão, que fez carreira em estatal petrolífera

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São Paulo

A próxima conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a COP29, em Baku, no Azerbaijão, já tem um presidente. O designado para o posto é Mukhtar Babayev, atual ministro da Ecologia e dos Recursos Naturais do país anfitrião, nação que possui grande dependência de petróleo e gás.

O anúncio foi feito nesta quinta-feira (4) pela organização da COP28, por meio de seus perfis nas redes sociais. É o país que sedia a conferência que, usualmente, indica um nome para ocupar a presidência da reunião. Segundo o UNFCCC, órgão climático das Nações Unidas, há consultas na região-sede (há cinco do evento para aprovação do nome. Na abertura da COP, o presidente designado é então, de fato, eleito.

A COP29, que ocorrerá de 11 a 22 de novembro de 2024, será a segunda conferência climática seguida a ser sediada em um país que é um grande produtor de petróleo. A COP28 ocorreu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, Estado-membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o cartel do petróleo.

O Azerbaijão, por sua vez, também com forte presença de petróleo, é membro da Opep+, que conta com os membros da Opep e produtores de petróleo aliados.

A COP30, portanto, deverá ser a terceira conferência a ocorrer em um país membro da organização, considerando que o evento ocorrerá em Belém, no Pará, e a o Brasil anunciou recentemente a sua entrada na Opep+.

Homem de cabelos brancos fala em microfone
Mukhtar Babayev, ministro da Ecologia e dos Recursos Naturais do Azerbaijão, durante pronunciamento na COP28, em Dubai - Thomas Mukoya - 11.dez.2023/Reuters

Outra semelhança petroleira entre a última COP e a atual está exatamente na presidência da conferência. A COP28 teve como presidente Sultan al-Jaber, que comanda a companhia Adnoc, estatal dos Emirados Árabes —país que, segundo documento obtidos pela BBC em parceria com o Centre for Climate Reporting, planejou usar conversas no âmbito da conferência para fechar acordos de petróleo.

Segundo seu perfil oficial no site do ministério que comanda, grande parte da carreira de Babayev está ligada à Socar, estatal petroleira do Azerbaijão. Com formação na Rússia e também no seu país de origem, Babayev iniciou sua carreira na Socar em 1994, com passagem por diversos cargos, inclusive pelo de vice-presidente para ecologia.

Babayev comanda o Ministério da Ecologia e Recursos Naturais desde 2018.

O presidente de conferências tem um papel central no desenrolar da reunião e em seus resultados. Cabe a ele guiar os processos e as discussões para tentar alcançar um consenso —única forma em que as decisões são tomadas— entre as nações e o papel de buscar aumentar as ambições climáticas.

Em meio a um cenário preocupante, com recordes de temperatura e diversos registros de desastres climáticos, as COPs têm papel fundamental para a busca de um futuro menos catastrófico. O Acordo de Paris, assinado na COP21, em 2015, estabelecia que o aquecimento médio da Terra, em relação ao período pré-industrial (1850-1900), deveria ficar, preferencialmente, em até 1,5°C ou bem abaixo de 2°C. A ideia é, com isso, conseguir limitar os estragos em cascata provocados pelo aquecimento do planeta e os riscos para a humanidade.

Mas, com os insuficientes esforços e compromissos climáticos atuais e o tempo disponível para ação cada vez mais estreito, a meta de 1,5°C já parece fora de alcance.

Ao mesmo tempo, é possível ver uma maior presença da indústria dos combustíveis fósseis —principais responsáveis pela crise climática no evento. Além do presidente da última COP ser também presidente de uma gigante estatal do petróleo, a COP28 teve a maior participação já registrada de lobistas da indústria fóssil. O recorde anterior era exatamente da conferência anterior, a COP27, no Egito, mas com números consideravelmente menores de representantes dessa indústria.

Também foi anunciado o negociador-chefe da COP29, que será Yalchin Rafiyev, um dos vice-ministros no Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão, cargo que ocupa desde setembro do ano passado.

Rafiyev se formou em relações internacionais na Baku State University, posteriormente com estudos em outras instituições europeias. Iniciou sua passagem pelo Ministério das Relações Exteriores em 2007.

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