Cientista Carlos Nobre entra para grupo Planetary Guardians, criado pelo bilionário Richard Branson

Coletivo, que terá um brasileiro pela 1ª vez, reúne pesquisadores e ativistas voltados à saúde do planeta

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São Paulo

Reconhecido mundialmente por contribuições técnicas sobre mudanças climáticas e proteção da amazônia, o cientista Carlos Nobre, 73, foi anunciado nesta sexta-feira (24) como novo membro dos Planetary Guardians (guardiões planetários), grupo de pesquisadores e ativistas criado pelo bilionário Richard Branson. O anúncio foi feito em cerimônia em São Paulo.

Christiana Figueres, diplomata costa-riquenha, também passou a ser uma "guardiã planetária". Ex-secretária-executiva da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na sigla em inglês), ela liderou a criação do Acordo de Paris, em 2015, reunindo diversos setores para esse compromisso inédito.

Nobre é o primeiro brasileiro a fazer parte do grupo, que tem como missão elaborar e divulgar pesquisas científicas sobre o meio ambiente, a defesa de populações vulneráveis diante da crise climática e a transição energética, entre outras questões.

Três homens lado a lado com painel com o escrito Planetary Guardians
De esq. para dir., o empresário Richard Branson e os cientista Johan Rockstrom e Carlos Nobre em evento do grupo Planetary Guardians em São Paulo nesta sexta (24) - Divulgação

"É muito importante que a comunidade científica global, a população, as sociedades e os governos reconheçam que o Brasil tem avançado na sua ciência ambiental e climática. Imagino que eu fui indicado e aprovado para o Planetary Guardians pelo fato de ter dedicado mais de 40 anos da minha carreira científica à amazônia", diz Nobre à Folha.

O pesquisador é membro da Academia Brasileira de Ciências e também da Royal Society —a academia de ciência mais antiga ainda em atividade no mundo. É formado em engenharia eletrônica pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e tem doutorado em meteorologia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

Retrato de Nobre sorrindo
O cientista Carlos Nobre - Divulgação

Nobre se destaca por seus estudos na região da amazônia, liderando pesquisas sobre os impactos climáticos do desmatamento. Foi um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que recebeu o Nobel da Paz em 2007.

Suas pesquisas sobre a savanização da amazônia são referência no mundo todo e embasam os estudos sobre o chamado ponto de não retorno da floresta, que apontam para o possível colapso de cerca de 50% da amazônia até 2050, como consequência da ação humana e do avanço do aquecimento global.

"Eu fui o primeiro a publicar um artigo científico, em 1990, sobre o risco das mudanças climáticas na amazônia, que hoje está na beira do precipício. Agora, nós temos que buscar soluções com o engajamento amplo da comunidade científica mundial e dos países amazônicos", destaca Nobre.

"Nós estamos tão perto do ponto de não retorno que nós precisamos, imediatamente, zerar o desmatamento e a degradação, reduzir imensamente o fogo. Nós temos que restaurar uma grande quantidade da floresta, eu diria, não menos que 500 mil km2, fazer a floresta recrescer."

Homenagens

O evento do grupo Planetary Guardians em São Paulo reuniu outros membros do coletivo, além do seu fundador, Richard Branson, empresário que criou o Grupo Virgin, da gravadora de mesmo nome.

Entre os convidados da cerimônia esteve também o cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático e cofundador do Stockholm Resilience Centre.

Rockström é conhecido por seus estudos que delimitaram os chamados limites planetários —rol de indicadores que, se estão fora dos níveis aceitáveis, representam risco para a continuidade da vida na Terra. O conceito do limites planetários é o que embasa as ações do coletivo de cientistas e ambientalistas reunidos por Branson.

"Nossa única chance de um pouso climático seguro é uma abordagem unificada na qual retornamos simultaneamente ao espaço seguro para todos os limites planetários, em particular os limites da biosfera de biodiversidade, terra e água", diz Rockström, em comunicado.

A presidente dos Planetary Guardians, a ativista ambiental e geógrafa Hindou Oumarou Ibrahim, do Chade, também esteve presente, acompanhada da ativista paquistanesa Ayisha Siddiqa, da ex-presidente da Irlanda e ex-alta comissária da ONU para os Direitos Humano Mary Robinson e do ex-presidente da Colômbia e vencedor do Nobel da Paz Juan Manuel Santos.

O grupo Planetary Guardians tem ainda membros como a primatóloga britânica Jane Goodall e o ator e ambientalista americano Robert Redford.

O evento também homenageou contribuições científicas dos indígenas brasileiros Braulina Baniwa, mestranda em antropologia social na UnB (Universidade de Brasília), Francisco Apurinã, pesquisador na Universidade de Helsinki (Finlândia) sobre mudanças ecológicas em uma perspectiva indígena, Sineia Bezerra do Vale, gestora ambiental da Terra Indígena Serra da Lua, e Cristiane Gomes Julião, doutora em antropologia social pelo Museu Nacional/UFRJ.

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