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Descrição de chapéu The New York Times

Em risco, lontras viram pets da moda na Ásia

Para especialista, é a internet que alimenta o aumento da popularidade do animal

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Rachel Nuwer
Tóquio | The New York Times

Lontras cheiram mal, fazem muito barulho e são extremamente ativas. Têm dentes afiados e mandíbulas com força suficiente para abrir mariscos.

Mas, no Japão, onde hoje há mais de uma dúzia de “animal cafes” (cafés em que clientes interagem com animais) com lontras, elas viraram pets exóticos muito procurados.

Muitos cafés e pet shops vendem lontras para qualquer um. “A demanda e a popularidade são crescentes. Mas a oferta não acompanha”, disse um atendente em um café.

Lontras em um café em Tóquio  - Noriko Hayashi/The New York Times

Elas também são cada vez mais comuns na Indonésia, Tailândia, Vietnã e Malásia.

É a internet que alimenta o “aumento logarítmico” da popularidade dela e de seu comércio, diz Nicole Duplaix, bióloga conservacionista da Oregon State University e co-presidente do comitê de lontras da União Internacional para a Conservação da Natureza.

“Vendedores anunciam online e pessoas postam fotos fofas de lontras. Isso difunde a ideia de que seriam ótimos pets, o que não é o caso”, diz Duplaix.

Mas de onde elas estão vindo? Sem o uso de técnicas corretas, é difícil criar lontras em cativeiro. Conservacionistas pensam que a maior parte seja capturada da natureza.

As lontras lisas e lontras-de-nariz-peludo, ambas ameaçadas, são às vezes vítimas de contrabando. Mas o principal alvo dos caçadores ilegais, diz Duplaix, costuma ser a lontra-anã-oriental, ameaçada e vista como perigosamente “bonitinha”. As três já corriam perigo antes de começar o contrabando de lontras para serem pets.

Não se sabe ao certo como essa onda começou. Alguns especialistas acreditam que tenha sido há cinco anos na Indonésia, segundo o antropólogo Vincent Nijman, da Oxford Brookes University, no Reino Unido.
A lontra-anã-oriental não é protegida no país, mas todo comércio de animais silvestres não protegidos é sujeito a cotas, e não há  cotas para elas.

Segundo Nijman, isso significa que o comércio é ilegal exceto para quem tem uma autorização especial. “Agora vemos centenas sendo vendidas no Facebook e Instagram. Nenhuma com autorização”, diz.

Donos de lontras na Indonésia frequentemente entram para comunidades online de fãs de pequenos predadores. Membros se reúnem para exibi-los, diz Nijman, fazendo-os desfilar nas ruas de Jacarta com coleiras, por exemplo. “Nos noticiários isso é descrito como aceitável, divertido, inovador”, diz. “Para quem quer algo diferente de um cão ou gato comum.”

Na Tailândia, a captura, venda ou exportação é ilegal, mas elas são vendidas livremente online. Mais de metade são ninhadas de recém-nascidos que ainda nem abriram os olhos, escreveu no “Journal of Asia-Pacific Biodiversity” Penthai Siriwat, doutoranda da Oxford Brookes University que monitorou páginas do Facebook que vendiam o animal.

O comércio se espalhou a partir da Tailândia, especialmente para o Japão. Segundo a entidade Traffic Japan, uma série de TV ajudou a popularizar a tendência ao mostrar uma lontra como pet. “Temos uma cultura que valoriza o bonitinho, o que tem um grande papel nisso”, diz a pesquisadora Yui Naruse, da Traffic Japan.

Numa reunião da Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção) em maio, representantes vão decidir se a lontra-anã-oriental e a lontra lisa passarão a receber o nível mais alto de proteção. Nesse caso, o comércio internacional de lontras silvestres será proibido. 

Tradução de Clara Allain

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