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Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

Descrição de chapéu Rio de Janeiro chuva

A culpa não é de são Pedro!

Estudos recentes demonstram que há 10 milhões de pessoas morando em áreas de risco no Brasil

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A tragédia de Petrópolis (RJ), que já provocou a morte de mais de 200 pessoas vítimas de deslizamento ou enchentes, deveria chamar a atenção para a responsabilidade dos governos locais em relação às medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, bem como para a importância da educação nesse processo.

As enchentes na cidade não são novidade, ocorrem há mais de um século. O que é mais recente é a ocupação de áreas de risco, que hoje representa cerca de 20% do território do município, segundo relatório da prefeitura.

Petrópolis não está sozinha. As vítimas das enchentes na cidade, assim como as dos eventos semelhantes ocorridos em 11 estados brasileiros neste período de chuvas, são as mesmas: a população mais pobre. Estudos recentes demonstram que há 10 milhões de pessoas morando em áreas de risco no Brasil. Só na região metropolitana de São Paulo são 750 mil casas à beira de córregos, encostas e áreas com risco de inundações e deslizamentos. Na capital, o número de famílias vivendo nessas condições cresceu 20% nos últimos 11 anos, segundo dados da Defesa Civil.

Destruição provocada pela chuva em Petrópolis (RJ) - Eduardo Anizelli - 19.fev.2022/Folhapress

Com raras exceções, as cidades brasileiras não estão agindo nem na adoção de medidas mitigadoras –aquelas que contribuem para a redução das emissões de carbono– nem com as medidas adaptativas aos efeitos do aquecimento global em curso. Nossa matriz de transporte é altamente poluente –a despeito de ser cara e pouco eficiente–, a ocupação urbana é marcada pelo avanço sobre áreas de proteção ambiental e pela impermeabilização do solo. São Paulo, que cobriu seus rios de concreto para dar vazão aos carros, talvez seja o melhor exemplo desta realidade.

A implantação de políticas públicas de mitigação e adaptação exige liderança política para a adoção de políticas integradas e a compreensão da sociedade sobre a necessidade de contribuição individual e coletiva.

Ao poder público cabe coibir a ocupação irregular do território e criar políticas habitacionais direcionadas à população mais vulnerável, adotar medidas de redução de emissões, enfrentar a necessária modernização da matriz de transporte urbano e implantar medidas que restrinjam a impermeabilização desmedida do solo. Infelizmente, os prefeitos não têm incentivos para agir nessa direção uma vez que estas são medidas que não trazem votos, e podem retirar o apoio de grupos políticos e econômicos que dão suporte à maneira estabelecida de governar as cidades brasileiras.

Ao cidadão, há uma dupla tarefa: a de mudar determinados comportamentos individuais e a de pressionar os governantes pela adoção de políticas públicas para enfrentar a questão. Mais uma vez esbarramos nos incentivos. Por que mudar meu comportamento individual –separar lixo, adotar hábitos diferentes de consumo se eu não sei se meu vizinho fará o mesmo? Por que cobrar medidas dos políticos que restrinjam o uso do transporte individual, evitem a ocupação dos mananciais e outras políticas que não me trazem um resultado individual palpável de curto prazo?

A escola pode cumprir um papel importante nesse jogo ao integrar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ao currículo –como a cidade de São Paulo de forma pioneira no mundo realizou. Essa integração implica apoiar os estudantes na construção de uma consciência ambiental e na compreensão do seu papel no cuidado e na transformação do meio em que vivem. Atividades que estimulem a investigação do território, a proposição de projetos de intervenção no meio, entre outras atividades, são caminhos possíveis para realizar esse trabalho.

A ciência já nos deu inúmeras evidências dos efeitos presentes e futuros das mudanças climáticas, embora não nos tenha dado a receita de como mobilizar as pessoas a deixar de hipotecar o bem-estar das gerações futuras. A escola pode ser uma instituição central para que formemos uma nova geração de cidadãos conscientes de seu papel no futuro do mundo.

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