Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
Quando tudo acabar
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Quando isso acabar o mundo nunca mais será o mesmo. Dizem. Afirmaram coisa parecida quando as Torres Gêmeas desabaram em Nova York. É claro que desde aquele setembro de 2001 ocorreram mudanças —no ano seguinte, por exemplo, houve o surto de Sars na China. No entanto, de alguma maneira, continua tudo como dantes no quartel de Abrantes. A vida sempre consegue dar um jeito de seguir adiante. Também dizem.
Os mais otimistas, e de temperamento artístico, esperam que, durante o período de isolamento, surjam maravilhas na literatura, na música, na pintura. A conferir. Os mais pessimistas preveem o aparecimento ou a consolidação de regimes autocráticos, impondo maiores controles sobre a sociedade. A ver. Ou, de preferência, a não ver.
O hábito da higiene pessoal, tomara, veio para ficar. Você já contou quantas vezes, nas últimas semanas, lavou as mãos ou nelas passou álcool em gel? E quantas vezes por dia você repetiu o procedimento? Pensar que, em meados do século 19, um médico húngaro caiu em desgraça porque teve a petulância de pedir a outros médicos que, para salvar vidas, lavassem bem as mãos. Seu nome era Ignác Fülöp Semmelweis, e sua extraordinária e trágica história inspirou o escritor Louis-Ferdinand Céline a fazer uma tese de doutorado em medicina.
Clinicando na maternidade de Viena, Semmelweis percebeu que as parturientes, quando assistidas por parteiras, morriam quatro vezes menos do que quando examinadas por professores e estudantes, que praticamente saíam direto das salas de autópsias de cadáveres para as mesas de parto. Vítima de hostilidade, zombaria e indiferença, foi expulso do hospital.
Derrotado pelo obscurantismo científico —praga que ainda contamina nossos tempos, nos quais a politicagem suicida se sobrepõe ao combate à Covid-19—, Semmelweis morreu louco aos 47 anos.
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