"O Grande Gatsby" está na sua lista de quarentena? Pois deveria. Mesmo que você já o tenha lido algumas vezes, cada aproximação à obra-prima de F. Scott Fitzgerald é uma experiência diferente e mais fascinante que as anteriores --um tipo de mistério que só acontece com raríssimos livros.
Para reforçar a indicação, ele está fazendo aniversário: 95 anos. Editado pela primeira vez em 1925, no dia 10 de abril, pela Charles Scribner's Son, é um dos maiores romances do século 20. Alguns críticos, como Ricardo Piglia, consideram-no uma obra de arte que se aproxima da perfeição ao narrar o sonho incorruptível do pobretão que virou gangster, dava festas nababescas e queria reverter o passado por amor à namorada de juventude, Daisy, cuja "voz soava como dinheiro".
Curioso é que, até ser redescoberto, na década de 60, o livro vendeu uma ninharia: a segunda edição, também de 1925, ainda estava em catálogo quando o escritor morreu em 1940. Sua última prestação de direitos autorais, na primeira metade daquele ano, consignava a venda de apenas sete exemplares. "Pobre filho da puta", murmurou Dorothy Parker ao ver o colega no caixão, repetindo as palavras que Fitzgerald fizera um personagem dizer diante do corpo de Gatsby.
E, o mais impressionante, o livro foi escrito "on the wagon", isto é, nos períodos de enxugamento alcoólico a que Fitzgerald se submetia enquanto esteve expatriado na França com sua mulher, Zelda, bebendo hectolitros de gim e uísque e pulando de Paris para a Riviera, na companhia do sofisticado e milionário casal Gerald e Sara Murphy.
Inseguro, o autor demorou a escolher o título: o romance antes se chamou "Trimalchio em West Egg". A edição restaurada, do ano 2000, mexeu em cerca de 1.100 sinais de pontuação —cá pra nós, não é pouca vírgula. Mas, pensando bem, nem precisava: o "Gatsby", de qualquer maneira, é imbatível.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.