Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)
Desafio monstruoso
Toda pessoa negra no Brasil tem ao menos uma história de racismo relacionado ao cabelo para contar
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Toda pessoa negra no Brasil tem ao menos uma história de racismo relacionado ao cabelo para contar. Para a maioria de nós, negros, essa vivência começa na infância —em geral quando entramos na escola e passamos a frequentar um microcosmo que reproduz a malignidade do racismo impregnado na sociedade brasileira – e se manifesta pela vida afora.
Acontece com o negro pobre e com o endinheirado, com o desconhecido e o famoso. O episódio mais recente ocorreu no BBB 21, quando o cabelo afro de um dos participantes da edição foi comparado à peruca da fantasia do castigo do monstro. Em março, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, a atriz Taís Araújo contou a experiência da filha de seis anos com um coleguinha de colégio que zombou do cabelo da menina.
Mas o que soa realmente surpreendente é a naturalização desse tipo de situação, tratada como desentendimento, mal entendido ou brincadeira em pleno século 21. Assim os fatos vão sendo escamoteados como se fossem qualquer coisa menos o que realmente são: atitudes racistas.
“Brincadeiras” e comparações com o cabelo do negro são tão corriqueiras que, desde que me conheço por gente, dão azo a apelidos pejorativos e fica por isso mesmo. Como se não fossem uma forma de violência, não ferissem e não afetassem a autoestima de milhões de pessoas. Sinceramente, é muita subjetividade envolvida numa questão que parece bastante objetiva.
Por mais que se exalte a beleza negra, persiste uma tensão em torno dos fios de cabelo crespos e cacheados, fruto do estrago causado por séculos de imposição de um padrão de beleza eurocêntrico, que desvaloriza e menospreza tudo o que se difere.
Como destacou Nilma Lino Gomes em sua tese de doutorado Sem Perder a Raiz –corpo e cabelo como símbolos da identidade negra, “desde a escravidão, a mulher e o homem negro convivem com o desafio de desconstruir o olhar negativo sobre o seu corpo e o seu cabelo”. E o desafio é monstruoso.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters