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Economista-chefe do Santander Brasil

Os desafios globais na mira das empresas

Planejamento estratégico está cada vez mais permeado pela preocupação com os crescentes riscos no horizonte

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São crescentes a complexidade e o dinamismo das decisões empresariais. Não são poucos os temas que passam a entrar no planejamento estratégico corporativo, do qual se derivam decisões de investimentos, alocação de portfólios ou estratégia concorrencial.

Pesam cada vez mais nas inúmeras discussões de que participo fatores que há pouco eram vistos como muito distantes ou com baixo impacto e relevância: demografia, aquecimento global, geopolítica, riscos macroeconômicos e regulatórios.

Quando mencionados, os números das estimativas da população global assustam. Somos 7,8 bilhões de pessoas habitando o planeta em 2022, seremos 8,5 bilhões em 2030 e 10,4 bilhões na virada do século, quando a população tende a estabilizar e começar a cair. Contudo, a alta da população acelera nos 46 países mais pobres, ao passo que as economias avançadas somente assistirão a algum aumento com a imigração. Inevitável deduzir que as desigualdades de renda tendem a aumentar, de modo exponencial, aportando crescente instabilidade social.

Há maior insegurança energética e alimentar. A disputa por recursos naturais se revela nas fricções geopolíticas e nos surpreendentes choques nos preços de energia e alimentos decorrentes da recente guerra entre Rússia e Ucrânia. O mundo tende a parecer mais inseguro e a intensificar fluxos migratórios. De modo emblemático, a Europa enfrentará o próximo inverno sem segurança energética e os países pobres sentem de forma crescente o problema da fome.

Tamanha pressão de demanda por mais recursos naturais já repercute, além dos preços, no aquecimento global. Nessa vertente, cresceu a insegurança sanitária, com o surgimento de novas doenças a partir da perda da biodiversidade com a incursão humana sobre áreas naturais. A frequência de epidemias tende a aumentar, trazendo à memória os impactos do choque da Covid há dois anos.

Além da trágica perda de vidas, uma resultante desse processo foi o aumento do risco macroeconômico, com a volta da inflação e da convivência com juros mais altos. Adicionalmente aos desvios de demanda, rápida acumulação e desacumulação de poupança, impulsos fiscal e monetário sem precedentes, o acirramento das disputas geopolíticas realimentou as quebras de cadeias produtivas. O nível de incertezas sobre o qual o novo equilíbrio que irá predominar após a dissipação de tantos choques simultâneos se elevou. Mas uma coisa é certa: a criação de riqueza artificial por conta da liquidez extraordinária irá sofrer ajustes, com ou sem rupturas. Os mercados financeiros não estarão impunes.

Desafios de um lado, oportunidades de outro. O Brasil, também afetado pelos riscos, é um dos países com maior diversidade na produção de matérias-primas, sejam elas metálicas, energéticas ou alimentares. Encontra-se em estágio avançado na transição demográfica, com maior estabilidade nos movimentos de urbanização, por exemplo. Possui uma das matrizes energéticas mais renováveis do planeta, com menor dependência de combustíveis fósseis. E um mercado consumidor que tende a chegar a 230 milhões de pessoas em algumas décadas, com grande escassez de infraestrutura.

Setores produtores e distribuidores de matérias-primas cada vez mais escassas são potenciais ganhadores relativos. Mas também há grande potencial na infraestrutura e no consumo. Contudo, não será possível colher vantagens se os riscos que as cercam forem negligenciados.

Um primeiro risco é a velocidade das mudanças tecnológicas, as quais afetaram tanto a produção rural, quanto a industrial e a de serviços. Este fator impacta a necessidade de formação dos trabalhadores e o comportamento dos consumidores. Os sistemas educacional e de saúde públicos no Brasil têm respondido de forma insuficiente. Cada vez um maior número de empresas adota a iniciativa de direcionar recursos próprios para formar um corpo de colaboradores mais diverso, saudável e habilitado a atender com maior rapidez as demandas —cada dia mais exigentes— dos consumidores.

O impacto da rápida adoção de novas tecnologias é a menor absorção de mão de obra. Na ausência de políticas públicas direcionadas e de maior empreendedorismo, poderá haver aumento do desemprego estrutural e alimentação das desigualdades e da instabilidade social. Sempre importante lembrar que estabilidade social é elemento primordial para decisões de investimento.

Assim, a educação profissional e os serviços de saúde continuam a representar uma avenida de oportunidades. Flexibilizar regras para atrair altas capacidades do exterior ajudaria a acelerar o processo de adaptação do mercado de trabalho brasileiro às novas tendências e suas oportunidades. Trata-se de uma corrida por quem capta melhor as preferências de consumo, que tende a crescer ainda por muito tempo, e consegue atendê-las e fidelizar seus clientes e colaboradores.

Outro risco é o macroeconômico que, a depender dos desdobramentos, poderá representar a convivência com taxas de juros (neutras) mais altas, ciclos econômicos mais frequentes e pronunciados. Os cenários econômicos mais instáveis contribuirão para um ciclo de vida cada vez mais curto para os negócios que não conseguirem se adaptar a essa dinâmica.

Ainda que pareça algo distante, são elementos que pesam cada vez mais no planejamento anual dos negócios, os quais se engajam em aperfeiçoar seu processo decisório e a qualidade da gestão, demandar políticas públicas de melhor qualidade, e contribuir mais diretamente para a melhoria de bem-estar no entorno.

Atentar para os riscos globais trata de assegurar, mais do que nunca, um posicionamento estratégico voltado à sobrevivência dos negócios.

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