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O Brasil bem na foto

Preocupação para investidores globais e locais escalou para a economia internacional, especialmente Estados Unidos e China

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O Brasil está melhor na foto e deixou de ser o foco das preocupações dos investidores —agora mais atentos às incertezas externas. Esse foi o sentimento que capturamos em nossa 24ª Conferência no Brasil, realizada em 22 e 23 de agosto. Foram diversos painéis com gestores públicos e privados e analistas de referência. Participaram mais de 650 investidores institucionais, de fundos locais e internacionais, e mais de cem empresas se fizeram representar para reuniões bilaterais, além de centenas de clientes private.

Tão importante como promover as rodas de conversas e levar informações relevantes aos investidores foi capturar o sentimento destes sobre os principais temas que tendem a movimentar os mercados a curto e médio prazo.

Tanto nas conversas quanto em um amplo levantamento realizado entre os participantes, captamos sentimento predominantemente positivo em relação ao Brasil. Em resumo, a percepção tornou-se mais construtiva à medida que o ambiente político se acalmou. Daí a intenção de ampliar investimentos em renda variável neste segundo semestre, manifestada pela maioria (65%) dos participantes.

O governo trouxe algum foco para reformas estruturais, especificamente tributárias e o marco fiscal. O tom geral foi de expectativas de aumento da competitividade e da eficiência, o que incluiu a ação de entes subnacionais com programas de privatizações e investimentos em infraestrutura.

Como pontos positivos do cenário para o Brasil foram destacados as contas externas saudáveis, o crescimento do agronegócio e a resiliência das empresas brasileiras mediante as altas taxas de juros. O Brasil está apenas começando o seu ciclo de flexibilização de juros básicos, e isso seria um fator antecedente para favorecimento das ações como classe de ativos e para um reaquecimento do mercado de capitais, com a volta de ofertas públicas de ações, por exemplo.

Remanescem preocupações com a coordenação política e com os rumos do ajuste fiscal. A expectativa de recuperação mais longa da atividade e o alto nível de endividamento das famílias são vistos como riscos potenciais. A maioria das empresas de consumo mencionou um desempenho de vendas ainda desafiador no terceiro trimestre. Além disso, incertezas em relação ao provável aumento dos impostos e a mudança nas regulamentações de empréstimos com cartão de crédito estiveram entre os temas mais discutidos.

A transição energética também foi um tema com bastante realce. Investidores acreditam que o Brasil tem muitas oportunidades, podendo até apoiar a descarbonização de outros países, mas alguns desafios precisarão ser superados.

Dentre as oportunidades para o Brasil na transição energética, destacaram-se: 1) a relevância das energias renováveis na matriz energética; 2) a capacidade de gerar créditos de carbono para atender a demanda global por compensações; 3) o enorme potencial para produzir hidrogênio verde; 4) a capacidade de abastecer o mundo com produtos agrícolas produzidos de forma sustentável; 5) as grandes reservas de minerais essenciais para a transição, como níquel, cobalto e lítio; e 6) o potencial de produção de biocombustíveis, para utilização na geração de energia e combustível de aviação sustentável (SAF).

Do lado negativo, o Brasil precisa enfrentar e monitorar o desmatamento ilegal. O país também está atrasado na publicação de regulamentos relativos ao mercado interno de carbono e à produção de hidrogênio verde em comparação com outros mercados emergentes.

Foi interessante ouvir economistas afirmarem que ainda é difícil prever o impacto de fenômenos meteorológicos extremos e das alterações climáticas nas economias locais e globais, especialmente sobre o crescimento. No entanto, a visão deles é que o Brasil desempenhará um papel importante na transição energética global, sendo capaz de exportar petróleo de baixo carbono, energia limpa e produtos agrícolas, o que poderia permitir um aumento no PIB potencial do país.

O cenário global é, atualmente, a principal preocupação. Em especial, são desafiadoras as perspectivas macroeconômicas da China e as elevadas taxas de juro dos EUA, o que tornou alguns estrangeiros mais cautelosos do que os locais em relação ao rebate desses riscos sobre os países emergentes —situação oposta à observada apenas três meses atrás.

A desaceleração da economia chinesa e a falta de visibilidade sobre potenciais estímulos do governo foram preocupações que poderiam repercutir negativamente por aqui, uma vez que aquele país representa mais de 20% das nossas exportações. No entanto, os investidores reconheceram que o Brasil desenvolveu uma economia interna mais forte e, portanto, deverá ser menos impactado pela eventual desaceleração da maior economia asiática.

Além disso, falou-se do aumento das conversas sobre fundos internacionais que lançam fundos emergentes ex-China, ou limitam a exposição à China, o que poderia "proteger" a América Latina de qualquer fluxo de notícias negativas em relação à desaceleração econômica ou eventuais problemas naquele país.

Muitos investidores acreditam que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) reduzirá as taxas de juros apenas no segundo semestre de 2024, o que trouxe a discussão sobre o desempenho do real, diante de um diferencial mais baixo de taxas de juros entre o Brasil e os EUA.

Os investidores com quem conversamos parecem confiantes com a sustentação dos fundamentos da política monetária, pois não veem o real se depreciando fortemente à frente. Contudo, eles têm em mente que 7 dos 9 diretores do Banco Central mudarão até o final de dezembro de 2024, e cortar juros por motivos errados pode trazer desempenho desfavorável para o real, com mais pressões inflacionárias à frente.

Há motivos de sobra, portanto, para mantermos os radares ligados para a economia global, mas também para observar se o Brasil continuará a trilhar o caminho para manter elevada a confiança de seus investidores.

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