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É correspondente na Europa. Na Folha desde 1988, já trabalhou em política, ciências, educação, saúde e fotografia e foi editora de 'Mercado'. É autora de 'Jornalismo Diário', 'A Vaga É Sua' e 'Folha Explica Folha'.

Descrição de chapéu Tóquio 2020

Filme de Cannes mostra como Olimpíada pode ampliar diversidade no Japão

Pandemia levou à fronteira da impossibilidade o que já era um desafio cultural

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Nua, uma filha de taiwaneses canta em chinês no karaokê na sala de seu apartamento e depois desliza sobre o corpo do namorado, um homem negro. A história se passa no Olimpíadas, em Paris —assim mesmo, no masculino e no plural.

Os amantes multirraciais estão numa das 11 torres residenciais de um conjunto modernista no 13º arrondissement, na margem esquerda do Sena, na capital francesa.

A quadra planejada é o cenário de "Les Olympiades", do diretor Jacques Audiard, um dos melhores filmes do 74º Festival de Cinema de Cannes, que terminou neste sábado (17).

Cada prédio tem o nome de uma sede dos Jogos (alguns, das edições de inverno). Entre Sapporo, México, Atenas, Helsinki, Cortina d'Ampezzo e Tóquio, Wang procura uma garota para dividir seu apartamento.

De Londres, Anvers, Roma, Grenoble ou Squaw Valley, surge Camille, nome que na França pode ser masculino —e, nesse caso, é o do personagem interpretado pelo francês de origem africana Makita Samba.

Wang esperava uma moça, mas aceita o inesperado e se apaixona por ele.

Entre Olímpia e Oslo, Camille desiste do ensino público e vai gerenciar uma imobiliária, onde contrata Nora, com quem tenta um caso mal-sucedido.

De algum lugar desconhecido —talvez Los Angeles ou Melbourne, dois edifícios que jamais saíram da planta—, a cam-girl Amber Sweet oferece sexo por pagamento, mas para Nora libera o taxímetro, depois seu nome verdadeiro, seu endereço e começa aí um novo romance.

Não só cores de pele, formatos de olho ou afetos se misturam no Olimpíadas. A concepção urbanística do complexo, com apartamentos privados e moradia social de diferentes tamanhos, comércio, escritórios e ateliês de artistas, gerou uma mistura social permanente.

Passagem da tocha olímpica nos arredores do Museu Olímpico em Tóquio - Yuki Iwamura - 17.jul.2021/AFP

Em 2016, quando a governadora de Tóquio veio ao Brasil para a Olimpíada do Rio, falou à Folha sobre seus planos de promover os "Jogos da Diversidade". "Conheça as diferenças, mostre as diferenças" é o lema da 32ª edição olímpica, abertura que Yuriko Koike sempre soube ser difícil numa sociedade que valoriza o "sangue japonês" e resiste à integração.

A governadora de Tóquio também investiu pesado desde 2013 —quando a megalópole foi escolhida para sede dos Jogos de 2020— para alargar calçadas, rasgar rampas, instalar escadas rolantes no metrô, melhorar a sinalização e disseminar o inglês.

Com ferro, concreto e comunicação, as obras tiraram barreiras e aumentaram acessos. Mas a pandemia e sua interação humana restrita —viagens proibidas, arquibancadas vazias— levaram à fronteira da impossibilidade o que já era um desafio cultural.

Paris, que foi sede da Olimpíada em 1924, voltará a sê-lo em 2024. Bem no meio desse centenário, nos anos 1970, inaugurou-se o "caldeirão de diversidade" do Olimpíadas.

Se não foi desta vez na vida real, em 2021 os Jogos poderão contar ao mundo histórias de diálogo e integração ao menos no cinema.

Mas o investimento de Koike não foi em vão. O exemplo do 13º distrito francês é o de que decisões urbanísticas afetam a sociedade. Política pública bem planejada e bem executada pode não transformar imediatamente a capital japonesa no paraíso da inclusão, mas finca no solo as estacas desse edifício.

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