Descrição de chapéu Financial Times Ásia

Ex-banqueiro faz greve de fome perto da Olimpíada para recuperar contato com os filhos

Francês trava batalha judicial há três anos contra sistema japonês, considerado antiquado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Leo Lewis
Tóquio | Financial Times

Um ex-banqueiro da holding financeira Nomura que deixou seu emprego para fazer uma greve de fome nas proximidades do Estádio Olímpico de Tóquio espera que sua saúde esteja perigosamente comprometida quando os líderes mundiais se reunirem para a cerimônia de abertura dos jogos, na semana que vem.

Vincent Fichot, um francês de 39 anos que já foi grande especialista em derivativos, iniciou sua greve de fome na semana passada em uma aposta "tudo ou nada" para conseguir o acesso a seus filhos, ainda crianças.

O francês Vincent Fichot faz greve de fome próximo ao Estádio Olímpico de Tóquio
O francês Vincent Fichot faz greve de fome próximo ao Estádio Olímpico de Tóquio - Philip Fong - 10.jul.21/AFP

Falando ao Financial Times, Fichot disse esperar que sua greve de fome produza uma ação do presidente francês, Emmanuel Macron, que deverá assistir à cerimônia inaugural da Olimpíada em 23 de julho.

Quando a tocha olímpica for acesa, disse Fichot, que vendeu sua propriedade no centro de Tóquio e vive em um tapete de ioga diante da estação de Sendagaya, seu corpo estará entrando em um estado agudamente perigoso. Isso deixará a Macron muito pouco tempo para cumprir uma promessa de levar o caso ao primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga.

Lá Fora

Receba toda quinta um resumo das principais notícias internacionais no seu email

"Não é desespero. É um ato calculado. Posso não ser capaz de forçar o Japão a fazer uma coisa, mas posso forçar a França a fazer algo por mim", disse Fichot. "Eles não podem me deixar morrer aqui."

Fichot foi acompanhado diariamente por outros pais —japoneses e estrangeiros— que lutam contra um sistema que, na opinião deles, roubou seus filhos. Seu protesto, que ocorre a algumas centenas de metros do estádio para ter mais efeito, se seguiu a uma batalha fracassada de três anos com o sistema legal japonês e o que muitos pais em situação semelhante condenaram como uma política desnecessariamente antiquada.

Os processos de separação e divórcio no Japão, que Fichot e outros dizem estar fora de sintonia com os de outros países desenvolvidos, não reconhecem o conceito de custódia conjunta. Essa posição, dizem especialistas, combinada com a grande probabilidade de que os tribunais concedam a custódia somente ao progenitor que estiver cuidando dos filhos na época dos casos, cria incentivos para que um dos pais "rapte" os filhos antes do divórcio.

Quando o divórcio é concluído, o pai com o filho não tem mais obrigação de conceder o acesso ao outro. Grupos de apoio informais afirmam que dezenas de milhares de crianças foram injustamente afastadas do pai ou da mãe pela intransigência do sistema japonês.

Fichot, que estava no processo de divórcio, disse que não tinha noção, quando foi trabalhar na sede do Nomura Otemachi em 10 de agosto de 2018, que ao voltar não encontraria sua mulher e os filhos —na época com 3 anos e 11 meses.

Além de esforços diretos para conseguir o acesso aos filhos através dos tribunais, Fichot também pressionou organizações internacionais, incluindo a ONU. Em julho passado, depois da campanha de Fichot, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução condenando o rapto e pedindo que o governo japonês modernize seu sistema legal e aplique regras internacionais sobre a proteção de crianças.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.