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Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

Economia sem política

A política econômica não é feita em ambiente estéril

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A maior surpresa positiva de 2021 é o total descolamento entre desempenho da economia brasileira e o ambiente de turbulência política permanente em que vive o país. Nem a instalação da CPI para passar a limpo o desgoverno que contribuiu para o descontrole da pandemia foi capaz de perturbar esse processo, o que é incomum.

O fato concreto é que os números, de todos os setores, têm surpreendido para cima, a criação de empregos tem sido superior à esperada e o setor produtivo tem sido resiliente ao choque da Covid-19 e ao ambiente de incertezas criado pela política.

O caminho da recuperação será longo, principalmente para o emprego e a renda dos mais pobres e dos trabalhadores de menor qualificação, mas não podemos desprezar os resultados recentes. Eles decorrem tanto da capacidade do setor produtivo em se adaptar à pandemia quanto do sucesso dos programas econômicos implementados pelo governo, principalmente o auxílio emergencial e os programas de crédito às empresas e de suspensão de jornadas e salários. Sempre há críticas, umas mais legítimas que outras, sobre desenhos e alternativas, mas não se pode esquecer o ambiente da pandemia no qual foram concebidos.

Há um outro lado da política econômica que recebe pouca atenção, já que não pode ser visto a olho nu: a tarefa incessante de evitar que prosperem as "grandes ideias" que flutuam nos corredores de Brasília. Às vezes, proporcionalmente à incompetência política do governo, elas vêm à tona, como foi o caso da tentativa de tirar programas permanentes do teto de gastos e abrir espaço para mais despesas, mas costumam ficar confinadas aos embates internos do Executivo.

Essa é uma característica importante de governos, que naturalmente envolvem a interação entre agentes com múltiplos interesses, muitas vezes conflitantes, e com incentivos desalinhados.

No excelente "When the President Calls", economistas que participaram de diversas administrações nos EUA contam como o dia a dia é tomado pela tarefa de bloquear ideias ruins, cuja maioria nem sequer chega ao conhecimento do público. Em seu depoimento, Austan Goolsbee, que serviu no Conselho Econômico de Obama, compara o trabalho ao de um jardineiro: 90% do tempo arrancando ervas daninhas e 10% plantando sementes. Talvez tal proporção seja ainda maior num Executivo que não tem nem agenda nem interesse em resolver problemas --do governo ou do Brasil.

A política econômica não é feita em ambiente estéril. É preciso reconhecer um trabalho bem feito, principalmente quando produzido dentro do conjunto do que era possível pelo contexto no qual ele está inserido.

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